Fui à corrida de homenagem a João Moura no Campo Pequeno.
Não, não fui por ser uma homenagem
– não que João Moura não a mereça –, não fui pelo cartel ‘familiar’, já que na
maioria das vezes estes escasseiam de competição e por isso de interesse, fui
sim por ser aficionada, e também por sentir que face a toda a polémica que
envolveu esta corrida a mesma precisava que disséssemos ‘presente’. E
felizmente fomos muitos! Enchemos, esgotámos mesmo a limitação máxima permitida
do Campo Pequeno, pese embora ‘quem agora lá manda’ não consentisse que pudéssemos
embelezar (ainda mais) a fachada da Praça de Toiros com uma faixa de “esgotado”…
(talvez para não parecer mal aos ‘mais de quinhentos’ que se esperneavam lá
fora em ofensas e impropérios na vã esperança de que algum de nós lhe fossemos
pedir contas…).
Sabemos bem, os que acompanham
mais atentos a actualidade de “novelas-taurinas”, a possível motivação que
levou à realização deste festejo para enaltecer agora João Moura. No entanto,
foi um episódio (mais) infeliz ocorrido no ano passado o que mais “publicidade”
acabou por dar a esta corrida, e sobre isso esquivo-me de opinar. Já dizia o
empresário Luís Miguel Pombeiro ontem ao início da corrida, e no discurso aquando
da homenagem ao maestro João Moura, que a mesma se prestava “pela História que
escreveu”, e com isso me fico. Fora de praça, que resolva João Moura a sua
história onde de direito mas dentro dela, creio que todos os aficionados lhe
devemos admiração e respeito.
Artisticamente falando… a coisa
não roçou a perfeição, - como infelizmente raramente o roçam (ou serei eu
demasiado exigente ou demasiado pouco entendida, escolham) -, mas “espectacularmente”
falando, a noite serviu bem o propósito e muitos se “han enborrachado” com o toureio dos ‘mouras’, especialmente de
Moura pai.
E por aí começo. Mestre João
Moura já não tem 20 anos (também eu gostava), bem como também a sua ‘figura’
não será a desejada visualmente em cima de um cavalo (e até para bem da saúde
dele, não a será) mas cada qual é como é, e não obstante a necessidade, que
todos sabemos que a há, enquanto ele puder e se ajeitar, que possa ele
continuar. E a verdade é que João Moura mostrou ontem e mais uma vez que ainda
pode, e bem, com os toiros.
Perante o primeiro, com 542kg, não
me convenceu com os ferros compridos mas, face a todas as limitações já
referidas, a forma como se superou nos curtos com uma actuação limpa, com
determinação, garra de miúdo novo e eficiente colocação da ferragem, bastou
para cumprir com mérito e incendiar as bancadas. Moura sentiu-se acompanhado,
apoiado, motivado. Objectivo cumprido. Já no que foi quarto da noite, com 592
kg, também foi nos curtos que Moura foi fazendo valer a sua actuação. Pouco
mexeu no toiro, é um facto, servindo-se quase sempre de sortes de poder a
poder, culminando com ligeiras batidas ao piton contrário para cravar os ferros,
uns com mais ajuste que outros mas quase todos a fazer delirar quem das
bancadas se assomava. Afinal, a noite era dele e para ele.
João Moura Jr. pediu o microfone
para de forma quase emocionada agradecer em nome da família a todos os que
tinham acorrido à praça, não só pelo pai, bem como em resposta ”aquela malta
que está lá fora”. Depois afoitou-se com uma sorte gaiola e nos curtos teve que
se afoitar com o toiro, de 566 kg, dispensando em grande parte a intervenção
dos seus peões de brega, sendo o próprio a fazer uso das montadas para bregar o
toiro, assentando toureio em sortes de largo. Frente ao quinto da noite, de 542
kg, não resultou tão destacada a lide. Voltou a praticar um toureio de
distâncias perante uma rês que exigia cuidados, ora tardo de investida ora por
vezes a arrancar-se bruscamente. Tentou sobressair com as já habituais mourinas mas nenhuma resultou tão
emocionante, como a elas estamos habituados, muito em parte pela reserva do
toiro.
Miguel Moura foi valente na
gaiola com que recebeu e cravou bem o primeiro comprido frente ao seu toiro com
554 kg e teve eco a sua actuação pela forma como rematava e se recortava com o
cavalo, após a ferragem da ordem que foi deixando com desenvoltura. Já no que
foi último, outro que raspou muito e com 568 kg, Miguel Moura voltou a deixar ambiente
principalmente pelos ladeios com que rematou os ferros. Ainda sofreu forte
toque na montada, sem consequências, numa lide que culminou com um palmito.
Noite grande para as duas fardações
em praça.
Pelos Amadores de Santarém deu o
mote António Taurino, que depois de citar com calma, carregou a sorte e reuniu
com decisão, aguentando na cara do toiro que desviou a rota, prontamente ajudado
pelo grupo a consumar bem à primeira; Salvador Ribeiro de Almeida, concretizou
também ao primeiro intento, a aguentar a viagem até às tábuas, onde o grupo
efectivou, e com destaque para o primeiro ajuda. Francisco Graciosa deparou-se
com um toiro que por duas vezes derrotou forte, concretizando à terceira e com
ajudas carregadas.
Pelos Amadores de Montemor, João
da Câmara carregou duas vezes a sorte, para finalmente o toiro se arrancar e
reunir à córnea numa grande pega, na qual foi preciosa a ajuda do primeiro
ajuda. Francisco Borges fez mais uma vez justiça ao seu bom desempenho como
forcado., concretizando brilhantemente à primeira a sua pega, com boa ajuda do
Grupo. Francisco Bissaya Barreto citou com mando o ultimo da noite, e após uma
viagem dura até às tábuas, a pega resultou desfeita. À segunda concretizou, com
o toiro a partir com velocidade, e o forcado a aguentar enormemente na cara do
toiro, passando pelo grupo todo, até que finalmente consumaram eficazmente.
Lidaram-se toiros de Veiga
Teixeira, bem apresentados, no geral sem comprometerem, a
rasparem muito os da segunda parte, sendo os dois últimos os que mais exigiram
e pediram contas e cuidados aos artistas.
Ressalvar que foi guardado ao início
da corrida um minuto de silêncio por Carlos Empis e Lopes Aleixo, falecidos recentemente. O festejo foi dirigido
correctamente por João Cantinho, assessorado pelo Dr. Jorge Moreira da Silva.
No final, João Moura foi tirado
em ombros pela Porta Grande… diria que mais pela ‘comemoração’ em si, do que
propriamente pelos feitos da noite. Mas, festa é festa, não é?!… E como ficaram
‘emborrachados’… pois que se festeje.