Header Ads

Feito com Visme

  • Últimas

    Campo Pequeno: "A ‘fome’ foi o melhor tempero"

     

    Finalmente! Foi esta a palavra que mais me ocorreu ontem à noite. É que depois de tantos adiamentos, de tantos meses e tanta imprevisão, finalmente a Praça de Toiros do Campo Pequeno abriu as suas portas a uma Corrida de Toiros este ano. Independentemente de noutras praças portuguesas a festa dos toiros já se ter ido efectivando esta temporada, era fulcral que também Lisboa o fizesse, pela importância que tem como primeira praça do país mas acima de tudo pela defesa que é necessária da Tauromaquia e que de uma actividade constante no Campo Pequeno tanto depende.

    Nesse sentido, louvor ao empresário que foi sendo paciente entre tantos adiamentos mas não desistiu de uma temporada e de uma praça localizada numa cidade onde o círculo político cada vez mais faz cerco anti-taurino, e é por isso imperativo que a Tauromaquia ali se continue a reafirmar.

    A verdade é que a fome de toiros em Lisboa era muita, e isso foi notório do princípio ao fim, não só pela boa presença de público, como pela ovação sentida que foi prestada aos cavaleiros conforme surgiam na arena para as cortesias. Faziam-nos falta estas sensações… e esta ‘fome’ foi o que realmente deu tempero à corrida.

    O curro de Canas Vigouroux com peso e idade (uma média de 610 kg e praticamente todos a caminho de cumprirem 6 anos entre Setembro e Novembro deste ano), saiu bem apresentado e com muita cara. De comportamento revelaram-se com mais condicionantes, ainda assim longe de complicarem o ofício dos artistas.

    António Telles inaugurou praça e temporada lisboeta com uma actuação discreta frente a um toiro tardo de investida e a consentir por vezes passagens em falso, com algumas reuniões a resultaram atravessadas. Frente ao quarto da noite, outro toiro reservado e que exigia cuidado nas distâncias, o mestre António Telles teve actuação em crescendo, andou mais a gosto e com ajuda do experiente Alcochete, logrou melhores registos.

    Marcos Tenório tem o seu lugar na Festa, sendo cada vez mais certo de ocupar um ‘papel’ deixado pelo pai. Criou gancho com o público logo de início numa espera à porta gaiola ao segundo da noite. O toiro saiu com pata, pelo que a perseguição à montada transmitiu emoção às bancadas. A efusividade nos gestos, característica de Marcos, aliou-se a uma cravagem cumpridora da ferragem, perante um toiro que teve melhores qualidades a perseguir por trás que pela frente. Já frente ao quinto a lide teve menos som. O cavaleiro optou pela intenção dos quiebros, que por vezes despejaram a investida da rês levando a algumas passagens em falso, com um toiro que, muitas vezes deixado junto às tábuas, evidenciou querenças. Rematou com um par do qual só uma bandarilha ficou.

    Francisco Palha esteve em Lisboa muito mais seguro que noutras prestações naquela praça e deu-nos o momento da noite quando recebeu o terceiro da corrida com uma sorte gaiola, em que estando a montada praticamente parada e o toiro a apresentar-se com pata, quase nos parecia certo que cavalo e rês iriam embater, mas resultou sim num grande primeiro comprido. Seguiu-se uma lide correcta, partindo quase sempre de tábuas para ir encurtando distâncias e deixar a ferragem da ordem de forma eficiente. Frente ao último bisou na sorte gaiola, correcta mas não tão emotiva. A restante actuação não foi tão linear de resultados como a sua primeira, frente a outro toiro tardo e que pedia outros terrenos e distâncias mais curtas, ainda assim mais uma passagem digna do jovem Palha por Lisboa.

    Nas pegas, a prontidão dos toiros foi quase sempre motivo de emoção acrescida, respondendo as duas fardações em praça com exemplares prestações.

    Pelos Amadores de Lisboa, iniciou funções Vítor Epifânio, que aguentou a rapidez do toiro ao cite, sendo correctamente ajudado pelo Grupo, consumando assim ao primeiro intento; João Varandas rubricou outra boa pega, com eficácia à primeira tentativa; e Duarte Mira encerrou a noite dos Amadores de Lisboa, citando com mando, reunindo à córnea, com uma boa prestação do primeiro ajuda, e a ter o grupo lá atrás para consumar à primeira.

    Os Amadores de Coruche, em ano de cinquentenário, fizeram-se representar por António Tomás, que citou com galhardia a um toiro que se arrancou a grande velocidade ao forcado. A reunião não foi a mais perfeita mas teve o forcado braços enormes e a pega emoção de sobra para levantar as bancadas; seguiu-se por este Grupo o forcado Miguel Raposo, que após o toiro ensarilhar ligeiramente, derrotou com violência até o despejar da cara. Consumou à segunda com valorosa ajuda do primeiro ajuda e o grupo eficaz; terminou a noite o forcado João Prates, que com calma aguentou em silêncio a mirada do toiro, até que duas vezes carregou a sorte, para pegar o toiro numa reunião à córnea perfeita.

    Registar que antes das cortesias foi realizada uma candidatura simbólica da Tauromaquia a Património Cultural Imaterial, e respeitado um minuto de silêncio pelo cronista João Cortesão e pelas vítimas da Covid-19.

    Dirigiu a corrida o Delegado Técnico Tauromáquico, Fábio Costa, assessorado pelo médico veterinário Jorge Moreira da Silva.