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    "¡Olé, los toreros buenos! Homenagem a toda a gente do Toiro que a Covid nos tirou" por Eugénio Eiroa

     


    Os que já não estão aqui. Os que foram arrastados à morte pela maldita Covid. Os que o noticiário do dia anuncia que morreram depois de alguns dias internados com coronavírus.

    É um pingar incessante, um dia e outro dia, um morto após outro morto. É já tão longa a lista de conhecidos no mundo do Touro que... citar agora a todos já é impossível tarefa, pois minha memória para tanto já não dá, mas tampouco quero...

    Eu não quero prestar contas, porque eu já estava desesperado bastante a cada dia, com cada novo taurino que foi engrossando a lista de mortos, como para agora andar a fazer reconto. O problema é que… isto só Deus sabe quando vai acabar. E qualquer de nos pode ser empitonado e finalmente morto.

    Eu fico com um nome de hoje mesmo, quando escrevo isto : António Sacramento, bandarilheiro que foi, de arte e sentimento. Ele também foi mortalmente corneado pela Covid. Ele também...

    Conheci-o pessoalmente numa tarde de verão, numa corrida numa vila grande a meio caminho entre o Norte de Huelva e a capital da província.

    Sacramento ia elegante, com seu fato de toureio favorito : de tabaco e azabache. Não era um bandarilheiro qualquer, tinha sentimento, sabia que aquilo se podia fazer bem, ou simplesmente de modo asseado. Mas… ele não era bandarilheiro para sair do passo; não fugia do compromisso. Mesmo quando apostado no burladero seguia atento a faena de seu Cavaleiro, aquele homem vibrava com cada lance, com cada movimento... era como o mentor permanente que não parava de aconselhar, de animar, de encorajar o maestro na praça.

    Conheci-o pessoalmente aquele dia, em Valverde del Camino, em que atuava, creio lembrar, às ordens do cavaleiro Manuel Jorge de Oliveira. Estivemos falando um bom momento nos arredores da praça. E ficamos para voltar a nos ver, com calma e sossego, uma tarde qualquer em uma de minhas viagens por Portugal, para falar dos toiros e dos grandes toureiros de prata como ele foi em vida.

    Sempre achei de importância o papel dos bandarilheiros. Especialmente os que acabam sendo peças fundamentais, peões de autêntica confiança deste ou aquele toureiro.

    Nunca esquecerei Ludovino Bacatum: que grande! , que enorme personagem! ; um dia falaremos com calma sobre o que foi e o que pensava. Partiu também antes de tempo... ainda que então não eram estes maléficos anos da Covid.

    Mas agora é algo por demais, a Covid está levando a muitíssimos taurinos. Especialmente entrados em anos; justamente os que tanta falta fazem-nos, para quando esta porcaria acabe, ajudar desde sua enorme experiência, desde sua sabedoria acumulada nos anos, a reconstruir a Festa.

    Porque a Tauromaquia, quando isto acabar - e queira Deus que acabe cedo - teremos que reconstrui-la. Como digo : reconstrui-la. Porque a Covid lhe deu uma grande cornada e, ainda por cima, com várias direções...

    Quando isto acabar, quando se puder realmente apostar num recomeço, olharemos para um lado e para o outro -também para atrás-, como os toureiros e bandarilheiros quando vão romper praça e iniciar o passeio... e na hora de fazer a contagem para ver se estamos todos, nos daremos conta dos muitos que faltam.

    Veremos que falta Simão Comenda e sua arte como rabejador; que se foi Mario Coelho e sua arte em bandarilhas; que já não está José Júlio com sua porfia e técnica... e assim sucessivamente tantos e tantos.

    Quando chegue, finalmente, o momento de voltar à normalidade… não poderemos ir até Coruche e procurar ali António Sacramento para convida-lo a comer e poder recordar aquela tarde em Valverde del Camino… Aquele dia já tão distante ficamos para um outro dia qualquer retomar em Portugal aquela conversa, com umas cervejas por meio, qualquer tarde em qualquer verão... Um ano por outro aquilo foi ficando no esquecimento. Hoje, com sua morte, lamento muito não ter voltado a vê-lo... mas o seu gracejo, a sua personalidade na praça, o seu bom fazer como toureiro, o seu bom trabalho como bandarilheiro de excelência, ficará para sempre na memória do aficionado que não deixo de ser.

    É triste ter que dizer - quase num instante - adeus a tantos personagens, todos eles importantes, no mundo do Toureio, arrasados por esta peste do Covid. Mais triste ainda, no caso dos que vimos ainda tourear e que chegamos a conhecer pessoalmente, como o António Sacramento para para quem estas linhas são dedicadas, em representação de todos os que a Covid levou por diante.

    Ficará para sempre a lembrança de seus hábeis capotazos para colocar o toiro em sorte e nos melhores terrenos para o Cavaleiro, refugiando-se logo no burladero e desde ali, aquela sua frase constantemente repetida, animando ao Cavaleiro : vamos ao touro, vamos de frente “como los toreros buenos…”.

    Descanse em paz António Sacramento e toda a gente do Mundo do Touro que a Covid nos tirou.

    EUGÉNIO EIROA