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    "Maneio numa Ganadaria Brava" - 1º capítulo - por Dr. António Raul Brito Paes

     Fui contactado por uma aficionada que muito prezo, Patrícia Sardinha, directora de um site de referência no nosso mundillo taurino “Naturales”, para “escrevinhar” algumas linhas sobre a minha experiência de ganadero e aficcionado. 

    Depois de bastante ponderar, aceitei. Aceitei porque neste momento difícil julgo ser indispensável todos darmos o nosso contributo para manter viva a chama da afición. É por isso que através dos sites taurinos devemos fornecer aos aficionados artigos de formação. 

    Resolvi então escrever sobre o maneio e selecção de uma ganadaria brava. Sem preconceitos e sem segredos vou abordar o que se passa em nossa “casa”. 

    ARBP

    Semental "Jerela", nº 95, num lote de vacas


    Maneio e selecção - ganadaria brava
     

    Cada ganadero terá certamente opiniões e condições diferentes, o que é importante e que dará à sua ganadaria a sua identidade. 

    Deixando para uma abordagem mais à frente a escolha (selecção de reprodutores) começo por descrever como fazemos os lotes de cobrição. 

    Uma ganadaria curta como a nossa e, infelizmente como a maioria das ganadarias portuguesas, pois é praticamente insustentável economicamente face aos elevados custos que acarreta e ao baixo valor económico do produto final – o toiro, limita-nos e complica-nos quer o maneio, quer o emparelhamento. 

    O "Xezílio", com nº 105, e o seu lote de vacas


    Com cinquenta e duas vacas no efectivo reprodutor dividi-las pelo menos em duas cercas, para utilizar sementais cujo grau de parentesco não seja muito próximo, complica-nos todo o maneio da exploração. Por tal motivo, em meados de outubro e tendo em consideração os sementais em activo, escolho e divido as fêmeas em dois lotes, tendo em atenção os seguintes critérios: 

    1. grau de parentesco 

    2. características e condições de lide 

    3. conformação da córnea 

    4. desenvolvimento corporal para que o produto final – o toiro, seja o mais uniforme possível. 

    Quando julgamos ter um elevado número de vacas cobertas (normalmente em Fevereiro ou Março), juntamos o efectivo e/ou metemos outro semental julgado adequado, ou deixamos aquele que mais garantia nos dá. 

    Aproveitando o cercado que ficou livre separamos as garraias de dois anos que já estão em idade de ser cobertas, juntando-lhe normalmente um toiro ainda não provado. 

    Assim, adiantamos quer as garraias, que posteriormente vamos apurar para reprodutoras com os consequentes benefícios económicos, quer o desempenho do novo semental. 

    As garraias refugadas são na mesma eliminadas, estejam ou não gestantes. 

    "Jerela" e as suas "companheiras"


    Os sementais são retirados no final de junho sendo, portanto, a época de partos, entre 15 de junho e finais de março. 

    Sabendo que o pico leiteiro da vaca brava é cerca dos quatro meses de paridas e que após esta altura a suplementação do bezerro é insuficiente, fazemos os desmames relativamente precoces, tendo em consideração a época do ano, motivo pelo qual fazemos três ou quatro desmames anuais. 

    Proximamente abordaremos a alimentação e maneio pós desmame.