Fui contactado por uma aficionada que muito prezo, Patrícia Sardinha, directora de um site de referência no nosso mundillo taurino “Naturales”, para “escrevinhar” algumas linhas sobre a minha experiência de ganadero e aficcionado.
Depois de bastante ponderar, aceitei. Aceitei porque neste momento difícil julgo ser indispensável todos darmos o nosso contributo para manter viva a chama da afición. É por isso que através dos sites taurinos devemos fornecer aos aficionados artigos de formação.
Resolvi então escrever sobre o maneio e selecção de uma ganadaria brava. Sem preconceitos e sem segredos vou abordar o que se passa em nossa “casa”.
ARBP
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Semental "Jerela", nº 95, num lote de vacas |
Maneio e selecção - ganadaria brava
Cada ganadero terá certamente opiniões e condições diferentes, o que é importante e que dará à sua ganadaria a sua identidade.
Deixando para uma abordagem mais à frente a escolha (selecção de reprodutores) começo por descrever como fazemos os lotes de cobrição.
Uma ganadaria curta como a nossa e, infelizmente como a maioria das ganadarias portuguesas, pois é praticamente insustentável economicamente face aos elevados custos que acarreta e ao baixo valor económico do produto final – o toiro, limita-nos e complica-nos quer o maneio, quer o emparelhamento.
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O "Xezílio", com nº 105, e o seu lote de vacas |
Com cinquenta e duas vacas no efectivo reprodutor dividi-las pelo menos em duas cercas, para utilizar sementais cujo grau de parentesco não seja muito próximo, complica-nos todo o maneio da exploração. Por tal motivo, em meados de outubro e tendo em consideração os sementais em activo, escolho e divido as fêmeas em dois lotes, tendo em atenção os seguintes critérios:
1. grau de parentesco
2. características e condições de lide
3. conformação da córnea
4. desenvolvimento corporal para que o produto final – o toiro, seja o mais uniforme possível.
Quando julgamos ter um elevado número de vacas cobertas (normalmente em Fevereiro ou Março), juntamos o efectivo e/ou metemos outro semental julgado adequado, ou deixamos aquele que mais garantia nos dá.
Aproveitando o cercado que ficou livre separamos as garraias de dois anos que já estão em idade de ser cobertas, juntando-lhe normalmente um toiro ainda não provado.
Assim, adiantamos quer as garraias, que posteriormente vamos apurar para reprodutoras com os consequentes benefícios económicos, quer o desempenho do novo semental.
As garraias refugadas são na mesma eliminadas, estejam ou não gestantes.
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"Jerela" e as suas "companheiras" |
Os sementais são retirados no final de junho sendo, portanto, a época de partos, entre 15 de junho e finais de março.
Sabendo que o pico leiteiro da vaca brava é cerca dos quatro meses de paridas e que após esta altura a suplementação do bezerro é insuficiente, fazemos os desmames relativamente precoces, tendo em consideração a época do ano, motivo pelo qual fazemos três ou quatro desmames anuais.
Proximamente abordaremos a alimentação e maneio pós desmame.