"Desde a bancada... O critério!"

NATURALES
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Da bancada, da arena ou entre barreiras, seja de onde for, o defeso custa a passar e este em especial: assola-nos a incerteza. Mas nada melhor que o defeso para refletir, conversar, tentar planear ou apenas para tentar corrigir ou tentar fazer melhor.

Tentar fazer melhor... Da bancada e com as “armas” que tenho é aquilo que tento fazer sempre que ali me sento. Seja na praça da minha terra, na capital do toureio a cavalo ou qualquer outra seja de que categoria for. Não tenho grandes “armas” enquanto comum pagante aficionada. Ou bato palmas ou assobio, mas como não sou eximia praticante do assobio resta-me, algumas vezes, fazer-me ouvir de outras formas. Com tudo isto tento abordar a questão do critério ou falta dele por parte de quem ocupa as bancadas das nossas praças.

E de onde vem esta falta ou não de critério? Como resolvemos? Não podemos encher as praças de “puritanos” do toureio, caso assim fosse poderíamos estar a retirar alguma alegria à festa ou afastar muitos dos pagantes que, hoje em dia, ainda vão aos toiros para se divertir. Se bem que, como um dia disse Rafael Comino Delgado: “A los toros no se va a divertirse, a los toros se va a emocionarse” e assim deveria ser. Para me divertir, combino um almoço com os meus amigos antes da corrida e um jantar para “tertuliarmos” – este verbo deveria efetivamente existir. Na praça a emoção deve ser rainha, na arena arrisca-se a vida – nunca nos poderemos esquecer disto - e isso é, sempre e acima de tudo, uma emoção.

Sortudos são os que ainda podem assistir a esta forma de arte e cultura, onde a vida e a morte estão de mãos dadas e uma se sobreporá, quase sempre, à outra. Como levamos o critério da praça de toiros de Vila Franca de Xira para todas as quintas-feiras noturnas no Campo Pequeno? E será que isso é conveniente para todos os intervenientes – toureiros, ganaderos, forcados, ...? Bate-se palmas a um manso quando depois da pega volta aos curros, não se assobia um ferro deixado a cilhas passadas, pede- se música depois de dois compridos e três passagens em falso. Fechamos os olhos a isto? Desculpa-se pela categoria da praça? E quando acontece na catedral do toureio a cavalo? Questões sem resposta... As palmas continuam a sobrepor-se aos assobios, mas eu não sou apologista de triunfos dados de mão beijada e de voltas não merecidas. Teremos nós uma tauromaquia de falsos triunfos e de outros tantos não reconhecidos pela falta de critério? Ou será falta de cultura taurina?

E uma importante ressalva: critério não é discussão de gosto. Podemos e devemos gostar de estilos de toureio diferentes – do mais ao menos clássico, do mais ao menos puro. Poderá sempre haver critério independentemente do gosto.

E soluções? Tantas interrogações e tão poucas respostas. Alerta: iniciativas precisam-se!

Mas como a tauromaquia evolui ao longo dos anos, também o público – ou aqueles que ocupam as bancadas -, têm vindo a mudar com o passar dos tempos. A verdade, pura e dura, é que a complexidade do toureio e o seu entendimento são tão vastos que seria necessário um compêndio escrito e reescrito todos os anos para se poder seguir as regras e avaliar o que é uma boa lide, um mau ferro ou um lance dado no momento certo. Não há uma regra universal nem um manual de instruções, mas existe, sem dúvida, algo que é comum a todos, durante todos os anos e em todas as praças – ou pelo menos deveria existir -: a emoção. Se emociona é verdadeiro. Aqui o sentimento falará mais alto. Se faz levantar do assento, vale a pena!

E o rei? O rei é o toiro e sempre será. O toiro põe e dispõe. E como muitas vezes me dizem: o toiro coloca sempre, de forma mais ou menos rápida, cada um no seu sítio. Embora rei continuo a pensar que a última palavra na concretização de um triunfo é o público. Ainda assim só um público que entenda o toiro será capaz de aplaudir ou assobiar na altura certa.

Pergunto de novo: e a solução? A solução é entender! Entender o toiro, o momento e o toureiro. Depois do entendimento a criação do critério, sem esquecer a emoção que entrará sempre na equação.



Texto: Lisa Valadares Silva
Fotografia: cortesia Frederico Henriques
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