Aquilo a que agora muitos chamam
de “nova normalidade”, fase de adaptação e “convivência” com o malvado vírus, e
da qual a alteração mais visível será a obrigação do uso de máscara em espaços públicos,
“mascarou” também a forma como o espectáculo tauromáquico se produz.
Entre muitas outras medidas, diz
quem já viu, que agora as cortesias são com a apresentação na arena de um a um
dos intervenientes; que na trincheira só ficam os elementos necessários à
coadjuvação do ofício de quem esteja naquele momento na arena; que a lotação de
uma praça será no máximo de 50% (o que para muitos tauródromos significa nem
abrirem este ano face à limitante ocupação); que os forcados têm que se
submeter de véspera ao teste à Covid-19 sempre que haja corrida onde
participam; e que se acabaram as voltas à arena após as lides (esta medida por
um lado tem uma parte boa, é que agora não há cá os passeios ao ruedo sem serem merecidos); e até há uma
regra que impõe (enquanto a IGAC e DGS não reconsiderarem e abrirem algumas
excepções) que os fotógrafos taurinos não estejam na trincheira mas sim nas
bancadas, o que pode facilitar o objectivo de alguns, que é fotografar as
bonitas e os famosos da assistência...
Esta é pois uma nova realidade do
espectáculo tauromáquico que, esperemos, se reflicta também na arena, já que o
defeso foi longo para os nossos artistas e isso presume uma maior preparação,
logo melhor desempenho… Ok, sonhar não custa!
Mas com estas regras, e a
autorização para que os espectáculos tauromáquicos pudessem finalmente (re)ver
a luz de 2020, começaram a surgir aos poucos, os anúncios de festejos taurinos
que irão compor uma temporada já tardia e curta.
No entanto, esta pandemia virá
agravar um dos problemas de que mais padecia a nossa Tauromaquia.
Se alguns de nós sempre apontámos
nos últimos anos, pouco apoio ao Toureio a Pé em Portugal mas principalmente,
aos jovens que aspiram praticar essa arte, pior cenário veremos agora, com a
parte equestre a dominar mais que nunca o pouco que haverá de temporada em
2020.
Perante todas estas condições e
regras mas principalmente, uma lotação a meio gás, que empresário terá a
coragem de organizar novilhadas, que apesar de muitas vezes saírem “baratas”,
não compensam o trabalho e os gastos, perante um público que na maioria das
vezes não acorre a este tipo de festejo?!
Com o Agosto a começar, e com
tanto que se lamentaram os cavaleiros do que não tourearam em 2020, virão agora
muitos cartéis de seis, de interesses, das trocas… Mas os nossos novilheiros, sem
voz para se fazerem ouvir neste meio, a esses não valerá a pena chorarem ou
acorrentarem-se, pois terão muito provavelmente que esperar por 2021 (assim o “bicho”
nos deixe), para continuarem a pôr em prática na arena as suas aptidões
toureiras e rascunhos de um sonho.
Já houve, felizmente, quem
descortinasse realizar este ano, corridas mistas com matadores portugueses, e louvo
a intenção, já que segundo os empresários de 2 ou 3 desses “projectos”, irão
dar primazia aos nossos toureiros, independentemente da força que o cartel
possa a não vir ter, sem uma figura vizinha… Portanto duas ou três mistas
serão, para já, garantia em 2020.
Mas novilhadas? Humm… Talvez surja
uma ou outra de data mais tradicional mas pouco mais, a não ser que se dê o
milagre de, no meio de tanta inovação com as regras face à Covid-19, também se
invente alguma forma de promover o toureio a pé no nosso país este ano.
Até lá, valham-nos as Escolas de
Toureio e alguns ganaderos que abrem as suas casas e pracinhas de tentas, permitindo
dessa forma o prorrogar do sonho destes pequenos artistas que poderão dar
continuidade ao futuro do toureio a pé em Portugal.
Só que na realidade, não serão
apenas os novilheiros a sofrerem falta de apoio este ano, pois muitas destas
novilhadas intercalam jovens cavaleiros amadores e praticantes, e também esses
poderão ficar “a ver navios” esta temporada.
E sem promoção aos jovens valores,
não precisamos de nenhum vírus para acabar com a Festa Brava em Portugal… ela
acaba-se sozinha.
Patrícia Sardinha