Como em tudo na vida, os inícios e fechos de um ciclo, são motor de memória para nos brindar com aquela sensação tão pura e inquietante, e estranha na mesma medida, a que apelidamos de nostalgia.
A condição humana tem essa particularidade… sentir a nostalgia com o dobro da força do que o viver do momento que é hoje recordado. E 19 anos não são só nostalgia…
19 anos são paixão, entrega, verdade, tristeza, raiva, quedas e quebras, desamparo e reconforto, esperança e ânimo… 19 anos são Tauromaquia.
O NATURALES, que hoje cumpre 19 anos de História, acompanha a evolução e os destinos da tauromaquia, praticamente, há duas décadas. E se olharmos para trás (será que conseguimos conter a nostalgia?), há 19 anos, tanto mudou…
Foram e vieram toureiros, consagraram-se figuras e outras perderam-se nos anos e só agora a nostalgia nos pode brindar com essas recordações (maldita, mas ao mesmo tempo tão boa); surgiram nomes, outros sem nome também surgiram e vingaram (de quando em vez, lá há permissão para acontecer); cresceram praças, deu-se nova vida a outras, enquanto fomos permitindo que algumas se fossem apagando da nossa História (mas nunca da nossa nostalgia); partiram e chegaram empresários, assistimos a ideias e planeamentos do além; vimos os erros, suportámos os fracassos e continuámos a acreditar; a gestão e planeamento mudaram, a organização, o brio e o rigor (com a devida vénia aos pontuais que alicerçam a sua atividade na seriedade) também. O toiro evolui de dia para dia, fora de guerras se é hoje mais bravo ou não que nunca, e da qual prefiro não entrar mas sim desfrutar da alquimia e da coragem que nos alimenta, e a mim, me move. Partiu gente querida e importante, partiram Toureiros, homens de/pela Festa, outros afastaram-se e alguns deixaram de crer…
Vimos reerguer tronos, vimos coroas a cair, casas a ruir e muralhas a levantar em lado oposto, mesmo numa era em que a tão ansiada competição, insiste em manter-se tão leve como uma brisa de outono que em dias como estes, nos despertam a maldita nostal… Em 19 anos perdemos muita coisa, e se a nostalgia não me despista, em contrapartida, ganhámos muito pouca.
Com 19 anos, vivemos agora o maior paradoxo da nossa existência e, diariamente, sem darmos conta, pomo-la em questão futura… A evolução e emancipação urbana, que é única e exclusivamente uma explosão de ego oco e retirado de uma ficção que querem impor à verdade da vida, humana e animal, sem se aperceberem que refletem o maior podre de uma sociedade comprometida com ideais novos mas que deitam por terra os conceitos de evolução, liberdade, compreensão, escolha e ambição. Uma opinião contrária ao rumo de uma sociedade triste e de rebelia, de ativismos por parecer mais do que ser, é calada ou relegada para o plano de contra. A sociedade das regras que as falsas vítimas ditam, para que quem fundamenta e apoia as suas causas, se vá vendo perdido nos labirintos do mundo contra uma corrente que não esclarece o que é certo ou errado, mas que resolve tudo mediante hastags, ajuntamentos e cartazes que dotam esta sociedade, como a mais incoerente e inculta de que há memória nos últimos 19 anos…
E se há 19 anos falássemos nesta maldita praga, que tomara já estar no plano de nostalgia, talvez os nossos medos não fossem tão claros como são hoje. O Covid veio sem quês nem porquês, deixou-nos em casa a bater com a cabeça em sítios do nosso lar que jamais havíamos conhecido… A componente criativa que explora o meu cérebro deixou-me um vazio, que não quis tapar com mais um texto que todos escrevem, a queixar do mesmo e a falar igual, em páginas repetidas em que só as assinaturas das fotos mudam.
Hoje fazia sentido. Hoje é um dia especial, e talvez esse vazio tenha acordado meio cheio, para brindar a 19 anos de história, que aguentaram e suplantaram tanta coisa, que viraram páginas do mundo, que viveram quase duas décadas entre o sim e o não, a certeza do hoje, e poucas certezas do amanhã… tal e qual como hoje, dia 25 de Julho de 2020, dia em que a certeza é só uma: 19 anos depois, o NATURALES vive, e quem vive um ciclo tão esplendoroso como este, garantidamente, viverá até que os que nos leem, nos deixem continuar o nosso caminho.
Pedro Guerreiro