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    António João Ferreira: "Quando cheguei à enfermaria nem consegui identificar onde me doía"


    Passaram oito meses desde a corrida dos matadores no Campo Pequeno, na qual o toureiro António João Ferreira, sofreu uma fratura tripla na cintura pélvica. 

    Em entrevista, António João confessou terem sido oito meses de recuperação mas também de autoanálise com dois objetivos em mente: voltar a tourear um exemplar da ganadaria Calejo Pires e voltar a sentir que está em perfeitas condições físicas para continuar com a sua profissão, matador de toiros.

    "Precisava de voltar a tourear um animal da ganadaria que me deixou durante um mês numa cama de hospital e principalmente, precisei ver e sentir que ainda tenho muitos capítulos por escrever nesta profissão que escolhi, mas que também me escolheu!"

    O jovem toureiro recorda ainda aquela noite de Agosto de 2019 em Lisboa: "A corrida dos matadores no Campo Pequeno foi uma corrida com grande responsabilidade, com muita divulgação nos meios de imprensa da especialidade e acima de tudo, com a pressão de ser um barómetro sobre força do toureio apeado em Portugal".

    "A nossa maior preocupação era a adesão ao espetáculo. Mantive os meus treinos como sempre e entrei em praça com a mesma vontade com que sempre me apresentei. A única diferença nessa noite, era o peso da responsabilidade. Era uma corrida só de matadores, na primeira praça do País, quando todos sabemos que há poucas oportunidades para o toureio a pé em Portugal. Quando entrei em praça e vi que a casa estava bem composta, senti-me pleno e a minha vontade de tourear, ainda se tornou mais forte".


    Mas nessa noite, foi ao segundo toiro do seu lote que a tragédia se deu: Blanquito, da ganadaria Calejo Pires, com o número 91 e 574 kg, investiu e provocou uma voltareta com impressionante queda a António João Ferreira que, visivelmente afetado, decidiu prosseguir com a lide e tourear com um sofrimento notório e dificuldade em manter-se de pé.

    "Quando caí senti logo que tinha sido algo grave. Senti que tinha partido algo, não sabia era o quê... Senti uma dor em todo o corpo. Continuei a minha lide depois da voltareta, tal como fiz, quando levei a cornada em Sevilha. Eu toureio sempre até onde o meu corpo me deixa! Vou sempre até ao meu limite. Não pela verguenza torera, não para mostrar nada a ninguém, simplesmente porque sou uma pessoa que, o que começo, termino!".

    "Quando cheguei à enfermaria nem consegui identificar onde me doía, porque doía-me tudo... O primeiro sentimento que tive foi pena, pena por ter levado a voltareta no momento em estava a conseguir cuajar o toiro, que o tinha na mão e o público a reagir; o segundo sentimento foi medo, medo de não poder voltar a tourear!".

    O matador saiu da enfermaria da Praça do Campo Pequeno directamente para o Hospital de Santa Maria, onde realizou vários exames e nessa mesma noite, seguiu para o Hospital de Santarém. "Tive de esperar muito tempo para saber se ia ser operado ou não…foi muito angustiante esse período de espera, porque o médico já me tinha dito que havendo operação, a recuperação seria muito mais complicada! Tive a sorte que, devido às minhas condições físicas e peso, não ser necessária a operação mas seguiu-se um mês imobilizado numa cama de hospital e um considerável tempo de reabilitação.".

    Depois de saber o “preço” que teria de pagar, pelos percalços da profissão, António, sozinho, à noite pensava se iria conseguir voltar a tourear, com as capacidades de antes. "Lembrava-me que o Cordobés teve que deixar de tourear por uma lesão destas. Tive sempre receio que esta lesão me condicionasse, porém com o facto de os médicos ficarem surpreendido com a rapidez da minha recuperação, consegui alento para as minhas dúvidas...depois na fisioterapia a minha força de vontade, fez-se ver e os resultados chegaram".

    O processo de recuperação foi longo e passaram muitos dias até ser possível voltar a colocar-se à frente de uma rês brava: "Confesso que moralmente vim-me abaixo, porque sou uma pessoa activa e ver-me condicionado afectou-me. Comecei com fisioterapia, depois a tourear de salão, até que tentei pela primeira vez em Março, em Arruda dos Vinhos, exemplares da ganadaria Jorge de Carvalho, ainda assim, a minha mente estava com os Calejo Pires.".

    "O meu objetivo era ir primeiro tentar à ganadaria Calejo Pires, ganadaria do toiro que me lesionou. Isso aconteceu posteriormente e assim arrumei todos os sentimentos que tinha dentro de mim".

    Face à incerteza de quando regressarão as corridas de toiros devido à pandemia da COVID-19, fica também em suspenso o regresso de António João Ferreira, mas o matador continua a treinar, como sempre treinou, até porque considera que necessita treinar e tourear, para estar bem com ele mesmo. 

    "Espero que esta situação passe rápido para o bem da Tauromaquia, de todos os profissionais do sector, da economia em geral, e para o bem de todos nós. Estou mentalizado e preparado para voltar. Devido a esta situação perdi o Festival do meu regresso, previsto em Sobral de Monte Agraço no mês passado, mas estou preparado para o meu reaparecimento, com a mesma entrega, a mesma vontade e as mesmas capacidades com que sempre me apresentei. Estou preparado fisicamente e emocionalmente para o meu regresso!".


    Cortesia: Sónia Batista