ANÁLISE TEMPORADA 2019 – Toureio a Cavalo
Terminou há quase um mês a
Temporada 2019.
Começam agora a surgir os prémios,
os convívios, almoços, jantares,… um pouco à semelhança do que já acontecia durante
a época taurina, que viveu sempre de grande ambiente festivo entre os seus
agentes.
Ao invés disso, em termos
artísticos e num meio em que infelizmente nos vão desaparecendo referências de
vários quadrantes, escasseou a sobriedade e somos cada vez mais benzidos com uma
notória míngua de exigência na arena e fora dela, entre toureiros que se
auto-intitulam triunfadores, um público cada vez menos conhecedor e mais
preocupado com o social, e escribas para quem tudo está sempre bem, triunfos
gordos para todos, não vá a “amizade” ou a doentia idolatria, ter um final mais
azedo.
Ainda assim, a Tauromaquia até recuperou
algum fôlego esta época. Digo-o, porque se apregoaram um pouco por todo o país
praças cheias e esgotadas. Talvez fruto da falsa demagogia criada pelos
anti-taurinos, os aficionados e público em geral, sentiram necessidade de
mostrar a sua vontade, o seu apoio e marcaram presença nas praças de toiros.
Valha-nos isso…
Agora, se essas praças cheias
saíram sempre satisfeitas com o que se passou na arena…isso já duvido. Mas
depois vai-se a ler, e nos sites e nas redes sociais, correu tudo bem, Amén!
Afinal a corrida foi boa…como sempre.
E hoje em dia isso parece ser o
mais importante, passar uma imagem positiva, falseada, do verdadeiro estado (interno)
da nossa Festa.
CAVALEIROS - 2019
No que ao sector equestre diz
respeito houve uma sobreposição dos jovens aos consagrados. Uma ideia por
vezes até mais sobrevalorizada “nas internetes”, um meio no qual mais se
desenrascam os jovens do que os toureiros mais maduros, pelo que a mensagem “vende-se”
bem nas redes sociais, à vontade do freguês que paga a quem lhe gere as mesmas.
Nas arenas, a coisa nem sempre
foi tão convincente nem tão segura em 2019, com triunfos isolados, irregulares.
Ainda assim, o suficiente para que muitos já se apelidem de “figuras do toureio”,
ao ponto de se darem ao luxo de escolher o que querem tourear. Sendo que antes
de se exigir, para se ser Figura, terá sempre que se tragar de tudo, provar
recursos e argumentos com todos os tipos de toiros, sem o toureio da mesmice
que fica “estragado” quando não lhe sai boi a medida, e a lograrem actuações
regulares e triunfos (dos verdadeiros!).
A CONFIRMAÇÃO: Mas da temporada
transacta, ficou-nos sem dúvida, até pelo atrevimento da inovação “mourina”, João Moura Jr., que reforçou
em 2019 ser um cavaleiro de toureio caro, consistente e sim, para chegar ao
topo dos topos. Depois do desaire em Coruche, com a perda de um importante
cavalo, Moura Jr. podia ter ido abaixo mas não. Cresceu, reinventou-se e deixou
marca.
A CERTEZA: A Luís Rouxinol Jr., 2019 trouxe uma temporada importante, com um toureio de argumentos, verdade e
entrega. Conseguiu mais em 2 anos de alternativa do que outros em 10 ou 20. Não
acusou o peso das praças e das importantes feiras por onde passou, pelo
contrário, fez-se destacar. A certeza de que pode, e a manter-se neste
registo, ser Figura do Toureio daqui a uns anos.
A SUPERAÇÃO: Os olhos estavam
postos nele em 2019. Marcos Bastinhas teve provavelmente esta época um dos
desafios mais difíceis e acabou por superar-se. Soube com o avançar da temporada
descolar-se da espectacularidade, e às vezes celeridade, que imprimia nas suas
lides, para ganhar segurança e transparecer seriedade e maturidade. A
encerrona em Elvas foi disso prova. Cresceu e provou que pode, e tem como
continuar, honrando o Pai.
A INDEPENDÊNCIA: Cedo se
desvirtuou do toureio mais clássico que é “bíblia” na Torrinha. Trilhou um
caminho próprio e em 2019, João Telles Jr. não passou despercebido, mostrando
que está para se debater entre os melhores.
Dos consagrados, e por ordem de anos de alternativa, continuam a fazer distinção de entre os seus pares e a estarem aí para as curvas: João Moura, que pese embora todas as
condicionantes que poderiam afectar a sua performance, continua a espalhar a
sua “genialidade”, como aconteceu em Elvas em Setembro; António Telles, que se mantém como o mais fiel ao conceito clássico e a conquistar os mais
exigentes; Rui Salvador, a comemorar este ano 35 de alternativa, mantém-se um valente de nos pôr de coração nas mãos; e Luís Rouxinol, o que mais segurança nos dá em relação a dedicação
e bom desempenho em qualquer cartel que se apresente.
Outros nomes, ainda que de forma
mais pontual, deram nas vistas em 2019. João Salgueiro da Costa continua a
merecer o nosso destaque e desejo de que se reafirme de vez. Francisco Palha,
não tão convincente quanto em 2018, voltou a impactar e a deixar cunho. Duarte
Pinto manteve o registo do toureio que é bom, correcto, verdadeiro e que gostamos
de ver. A Moura Caetano faltou pisar mais praças de compromisso para acentuar o toureio templado que pratica. Rui Fernandes voltou a ser o português mais “internacional” e de
créditos firmados. E das poucas vezes que este ano por cá se apresentou, o rejoneador
luso-espanhol Diego Ventura fez sempre mossa, provando que está a léguas dos
outros, principalmente dos que o querem “imitar”.
Dos praticantes, claramente
Joaquim Brito Paes se perfila para entrar no jogo dos profissionais. Quantidade
e regularidade marcaram a sua temporada. Na categoria de amadores, agora já
praticante ao final de 2019, António Telles filho, ilusiona-nos da continuidade
do bom toureio do Pai.
Nota: as nossas análises referem-se essencialmente a actuações em Portugal