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    Crónica de Lisboa: "Muita “palma” e pouca uva"


    Diz o ditado “muita parra e pouca uva” quando algo se concretiza de “muita conversa e pouca obra”. 

    Foi um pouco o que sucedeu na noite da passada quinta-feira no Campo Pequeno, com um cartel dito de luxo, ‘figura’ de primeira, uma praça cheia, muita palma e grandes ovações tributadas por parte das bancadas, só que nem sempre a sonoridade do espectáculo corresponde à sua qualidade, principalmente aos que sendo aficionados, dão primazia ao toiro e à sua conjugação com o cavalo, proporcionando verdade e emoção. E isso houve pouca ou nenhuma. 

    Os toiros da ganadaria Passanha, de pouca cara mas no geral cumpridores de apresentação, tiveram escassa transmissão, pouca mobilidade, saindo ao jeito do ofício de quem vive de qualidades do cavalo em detrimento do toureio. Com isso perde a Festa, que ainda se diz dos toiros e não dos cavalos, e perdemos nós aficionados, que passamos a vida a bocejar e nos desencantamos de uma arte que, supostamente, deveria viver da Emoção, do Risco e da Verdade. 

    António Telles passou discreto frente ao primeiro do seu lote, animal sonso, distraído e sem se empregar nas reuniões e no segundo teve actuação em crescendo, com os dois últimos ferros a fazerem lembrar que a verdade do toureio a cavalo reside nas sortes frontais, de alto a baixo e ao estribo. 

    Pablo Hermoso viu-se com as duas irmãs de caridade do curro, animais estáticos, dos que não dão trabalho nenhum, pelo que comodismo foi palavra de ordem nas suas lides, deixando a ferragem e exibindo-se com os atributos das montadas, entre hermosinas e piruetas, ainda que longe dos arrimos de outros tempos mesmo perante toiros paradotes. 

    O seu filho, Guillermo de Mendoza, apresentava-se em Lisboa onde confirmou alternativa, e demonstrou que “filho de peixe sabe nadar” principalmente quando se usam as mesmas barbatanas. Teve também o lote com mais condições, pelo que com o primeiro desembaraçou-se ainda que pecassem de ajuste as reuniões e no último, prevaleceu o “toureio” de uma das estrelas da quadra, o Disparate, com a qual obteve a actuação mais regular do festejo. 

    Nas pegas sim, emoção, verdade e grandes desempenhos de ambas as fardações. 

    Pelos amadores de Alcochete, António José Cardoso esteve decidido à primeira e com o grupo coeso; Diogo Timóteo aguentou os derrotes e consumou à segunda; e o jovem Manuel Pinto também à segunda com uma vontade enorme a aguentar a violência do toiro e a consumar uma grande pega. 

    Pelo Aposento da Moita, o cabo Leonardo Mathias deu o exemplo com uma extraordinária pega à primeira; João Gomes consumou à segunda a aguentar de braços a viagem até às tábuas e Martim Lopes concretizou à primeira, com o toiro a passo até meio da viagem. 

    Foi assim uma noite de muitas palmas, muita festa mas “uva, a parreira deu muito pouca”…



    Patrícia Sardinha