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    Opinião: "Não será Olivenza mas devem ir na mesma"


    Aos inícios de Março, mesmo com o tempo incerto por vezes e chuva garantida na certa, muitos são os aficionados lusos que fazem romaria até ao país vizinho. 

    Olivenza, que já foi (e ainda será) nossa, recebe-os contente por lhe encherem praça, restaurantes, hotéis, as ruas..., “oferecendo-lhes” em troca a possibilidade de verem as figuras do toureio internacionais, que ainda em modo aquecimento de temporada, convencem o suficiente para que os das bancadas, “entendidos”, lhes atribuam ao mínimo passe, os apêndices de toiros que muitas vezes pouca qualidade têm. Mas, como é em Espanha, vale e é bom para o aficionado português. 

    Na realidade, Olivenza aqui tão perto permite-nos não só presenciar grandes toureiros, como atenuar o “gusanillo” ferido do defeso e mais ainda, poder assistir à corrida integral que nos é vetada em Portugal. 

    Mas Olivenza não nos dá uma coisa: matadores de toiros portugueses! 

    À excepção de um ou outro novilheiro, e nos últimos anos foi João Silva “Juanito” a única presença lusa nos cartéis da feira oliventina (espero para ver, agora que é matador, qual passará a ser o tratamento), mais nenhum artista português pisa aquela arena, mais não fosse como forma de apoiar e retribuir a presença de milhares de portugueses na assistência. 

    Justificou a empresa no início deste ano, que essa ausência acontecia “porque os toureiros portugueses fazem perder dinheiro”, esquecendo-se os empresários, que são precisamente os portugueses que lhe dão dinheiro a ganhar nas bancadas... Adiante! 

    De verdade, nem em Portugal são dadas oportunidades aos nossos matadores quanto mais cobrá-las aos espanhóis… E dei o exemplo de Olivenza por ser a que de forma “massiva” conquista a maioria dos portugueses mas poderia ter referido Sevilha, Jerez de los Caballeros, Salamanca, Madrid..., praças onde os aficionados lusos ao Toureio a Pé acorrem com facilidade para ver as Figuras, para ver essa vertente do Toureio que se apelida como a mais pura, de maior grandeza, sendo para mim uma autêntica poesia em movimento.

    E tantos e tantos aficionados a esse tipo de Toureio que há por cá!... 

    E é para esses que escrevo. 

    Redimindo-se do facto de há 51 anos a Praça de Toiros do Campo Pequeno não realizar uma corrida só de matadores portugueses, - e aqui residirá possivelmente também culpa para um descrédito (e entendimento) nos últimos anos do Toureio a Pé em Portugal -, acontecerá agora a 23 de Agosto um cartel histórico em Lisboa: 3 jovens matadores lusos! 

    Quiçá o cartel surgiu por acaso. Diz-se nos mentideros, que foram certos cavaleiros que não quiseram participar em festejo misto, vendo-se a empresa obrigada a remata-la só com matadores. A ser verdade, em boa hora isso aconteceu para que Lisboa nos proporcionasse um cartel destes! 

    Não conto com casa cheia. Nada disso… A maioria da afición lusa prefere os cavalos, as acrobacias equestres e os cavaleiros habilidosos para números, já que hoje em dia tudo - menos toureio - é válido fazer-se numa arena para se conquistar um (falso) triunfo e ainda se fazerem às duas voltas (às vezes nem uma merecem quanto mais duas). Até choram se for preciso… 

    Mais humildade e outra postura reconheço aos que muito sacrificaram, na maioria sem antecedentes familiares (ao invés do que acontece com a boa maioria dos jovens cavaleiros de hoje em dia), para conquistar o desejo de uma profissão, que a bom rigor, é proibida em Portugal: ser matador de toiros. 

    Toureiam, se tanto, uma mão cheia de festejos por temporada. Aviam-se quase sempre com os “restos” das ganadarias: os grandes e com cara que aos cavaleiros não servem, ou os pequenos sem qualquer trapio e que só por isso condicionam uma actuação. Dão a cara, e a vida, na frente de toiros “inteiros” do princípio ao fim, já que a puya por cá é...ofensa. E terão eles menos valor que os seus semelhantes espanhóis? Não me parece… 

    Dirão os mais puristas que por cá não vale a pena, que a corrida apeada em Portugal é “travestida” por não ser picada nem se matarem os toiros. Concordo. Mas e não era já assim nos tempos do nosso primeiro matador, Diamantino Vizeu? Do enorme Manuel dos Santos? Do saudoso José Falcão? Dos maestros José Júlio e Mário Coelho? Do grande Vítor Mendes, entre tantos outros…?! E não eram eles na mesma, apoiados pela afición e metiam gente nas praças?! 

    Pois… Isto de um se dizer aficionado ao Toureio a Pé tem muito que se lhe diga. Não nego que tem que existir uma certa vaidade em se ser aficionado a esta vertente da Tauromaquia mas que essa vaidade não se reflicta só em se irem mostrar nas praças mas principalmente em apoiarmos o que é nosso. E chegou a hora disso… 

    Dia 23 deste mês, aproveitemos esta "epifania" que teve a primeira praça do País, e que todos os que gostam (e também os que menos gostam) do Toureio a Pé, possam ir ao Campo Pequeno apoiar o António João Ferreira, o Manuel Dias Gomes e o João Silva “Juanito”.  

    Não será Olivenza mas terá três portugueses na arena! E isso, é impagável...



    Patrícia Sardinha