Crónica: “Uma Praça cheia foi o melhor da tarde em Coruche"
Depois do que muitos pintam ter
sido “uma noite de terror”, aquela que se viveu em Coruche a 6 de Julho, a
bonita “Princesa do Sorraia” viveu ontem uma tarde de reconciliação com a
Festa, com uma Corrida de Toiros por ocasião das Festas em Honra de Nª Sra. do Castelo.
Contudo faltou o essencial, o toiro,
o bravo, o que transmita, pelo que o curro de Vale Sorraia, manso, de pouca raça
e mobilidade, acabou por condicionar um espectáculo marcado pela grande adesão
de público que encheu as bancadas e que bastante acarinhou os artistas,
independentemente do sucesso das sortes, principalmente os da “terra”.
António Telles passou discreto
frente ao primeiro, animal reservado, de pouca transmissão, e com o qual a
actuação teve mais som com os três palmitos com que encerrou função. Já no
segundo, houve disposição do toureiro logo ao início, esperando o toiro à porta
dos sustos para o levar depois em boa brega. Mas o toiro acabou por revelar
semelhanças de comportamento com o irmão, sendo de curtas investidas, pelo que teve
António que impor a ligação ao oponente e a cumprir com a ferragem,
destacando-se o quarto e sexto curtos.
Francisco Palha teve em sorte o
melhor do curro, o segundo da ordem, e o único que teve disposição de investir
com raça. Contudo, a lide do jovem cavaleiro foi intermitente, a começar logo
por uma sorte gaiola não conseguida, sofrendo inclusive forte toque na montada.
Nos curtos, oscilou entre um bom terceiro curto, algumas passagens em falso e
um ferro falhado, desaproveitando o que podia ter sido uma boa actuação. No
quinto, logrou melhores resultados perante um toiro cómodo, que perseguia a
passo, e o qual Palha aproveitou para levar em ladeios na brega. Quanto à ferragem, o
cavaleiro descurou os compridos, para nos curtos se evidenciar com o que é a
imagem de marca, cites de praça a praça, encurtando depois as distâncias, a aguentar
e cravar com decisão, perante um toiro tardo, e para gáudio de uma plateia ‘convencida’.
Luís Rouxinol Jr. teve pela
frente como primeiro do lote um toiro andarilho, custoso de se fixar, distraído, pelo
que a sua actuação foi acima de tudo inteligente pela forma como cuidou do
oponente, procurando mudar-lhe os terrenos e a contrariar as más tendências da
rês, cumprindo com bons ferros. No sexto, voltou a bisar na má mão ao sorteio
com outro toiro que exigiu recursos por parte do jovem cavaleiro, um manso
desligado e que perseguia aos arreões. Também a Rouxinol Jr. a intenção de uma
sorte gaiola não passou disso, uma intenção. Nos curtos, a actuação não foi tão
consistente, pese embora a sua disposição, tentando instigar um toiro que pouco
se empregou nas reuniões e na brega, convencendo Rouxinol Jr. com um quarto bom
ferro e o palmito que se seguiu.
Os Amadores de Coruche pegaram em
solitário numa tarde em que nem sempre os “vale sorraia” deram facilidades.
Abriu ofício o cabo, José Macedo Tomás, que consumou à segunda, depois de num
primeiro intento o toiro ter metido a cara baixa e a reunião a não lograr sair conseguida; Tiago Gonçalves sofreu mau derrote do toiro, pelo que recolheu à
enfermaria, sendo dobrado por João Laranjinho, que consumou sem problemas;
Fábio Casinhas efectivou à primeira numa pega à córnea; Roberto Graça pegou à
segunda, com decisão e uma reunião mais eficaz; João Prates Belmonte efectivou
à primeira uma boa pega; e António Tomás à segunda com bom ofício do primeiro
ajuda, depois de uma primeira tentativa de reunião defeituosa, e da qual outro
elemento saiu lesionado.
Salientar o minuto de silêncio feito
durante as cortesias aos forcados dos Amadores de Coruche, Joaquim Gonçalves e
Luís Frazão, recentemente falecidos, bem como a despedida de Marco Mendes, que
despiu a jaqueta depois de mais de 20 anos ao serviço do Grupo de Coruche.
De ressalvar também o labor dos
dois campinos em praça, "Café" da Casa Ribeiro
Telles e "Janica" da ganadaria Herdeiros de António Silva,
que recolheram os toiros a cavalo, sendo o facto de facilmente encabrestarem e
entrarem nos curros, a única virtude comum dos toiros lidados, à excepção do
manso sexto que deu mais trabalho a recolher.
Um reparo à locução na praça,
pois ao início das primeiras lides de António e Francisco Palha, foram feitas
ao microfone breves apresentações das suas carreiras: nomes, datas de
nascimento, alternativa, padrinho, testemunhas, etc… chegou-se a vez do “estrangeiro,
e Rouxinol Jr. apenas teve direito a referência ao seu nome, nº do toiro que iria lidar e
respectivo peso…
Dirigiu a corrida com critério,
Marco Cardoso, assessorado pelo veterinário Hugo Rosa.
Patrícia Sardinha