Crónica: "Jovens cavaleiros empolgam e enchem Coliseu de Redondo"
Praça praticamente esgotada na Corrida de Toiros no Coliseu de Redondo por ocasião das Ruas Floridas e, embora coberta, o ambiente em praça era excelente.
Como vem sendo hábito a Associação Tauromáquica Redondense tornou a apostar, e bem, em cavaleiros jovens e naqueles que mais se têm destacado esta temporada.
Em praça, João Moura Jr., Luís Rouxinol Jr., em substituição de Marcos Bastinhas ainda em recuperação da colhida ocorrida em Évora, e o jovem cavaleiro recém profissional, António Prates.
A pegas ficaram a cargo dos Amadores do Ribatejo e Redondo. Foram lidados exemplares de pouco mais de três anos e meio de António Silva.
Em disputa estavam os Troféus Simão da Veiga Jr. para a melhor lide e Troféu Capinha Alves para a melhor pega.
Abriu praça o cavaleiro Moura Jr. com brinde ao céu e pareceu-me a mim, que ainda em convalescença com a perda da sua montada em Coruche. Colocou dois ferros compridos sendo o primeiro muito descaído. Nos curtos, baseou a lide com ferros de praça a praça, dando vantagens ao toiro e reunindo no centro da arena com sortes cambiadas. Adornou a lide com ladeios aliviados, diante de um toiro com pouca transmissão e a pedir que lhe pisassem terrenos.
Da sua segunda lide pouco reza a história. Perante um toiro que se fixou no centro da arena e tardo de investida, Moura Jr. limitou-se pouco mais do que a colocar a ferragem da ordem, consentindo alguns toques na montada.
Luís Rouxinol Jr. vinha motivado pela excelente temporada que tem feito até ao momento. Muito bem montado, o cavaleiro empolgou as gentes de Redondo, um público que o vê actuar naquele taurodromo desde os tempos de cavaleiro amador. O seu primeiro toiro saiu à praça a passo, dando sinais de estar condicionado. Após análise do médico veterinário, a lide prosseguiu e fez-se notar uma assobiadela monumental. O que é certo é que após a colocação do primeiro comprido as dificuldades aparentes do toiro “desapareceram” e acabou por ser um dos melhores da corrida. Sinal positivo nos curtos, para uma lide baseada em sortes frontais, superiormente rematadas com o cavaleiro a dobrar-se com o toiro, com uma mão nas rédeas e outra na córnea do oponente.
No seu segundo toiro, Rouxinol Jr. tornou a estar em plano superior. Tentou uma sorte gaiola mas o efeito não foi o desejado devido à trajectória de saída do toiro, no entanto, acabou por ser um inicio de lide empolgante, pois sem passar nos bandarilheiros, levou o toiro na garupa da montada aguentando a sua investida. Nos curtos, e perante um bom toiro, o cavaleiro andou a gosto e com sortes variadas, cravando de frente, pôs um violino e terminando com dois ferros de palmo. No final grande e merecida ovação.
António Prates, que está a debutar este ano enquanto cavaleiro profissional, tem tido compromissos de grande importância e que tem correspondido às expectativas, embora seja notório que ainda tem um grande caminho para desbravar. Iniciou a lide, ao toiro mais pesado da corrida de 570 kg, com algum desacerto na ferragem comprida. Nos curtos arriscou nas batidas ao piton contrário mas não teve o efeito esperado dada a pouca transmissão do toiro. Após trocar novamente de montada nos curtos, a lide subiu de tom. Na colocação do último ferro, e após uma pirueta na cara do toiro, o cavalo escorregou e levou por terra consigo o cavaleiro que ficou à mercê do toiro, levando uma forte colhida nas costas e alcançando ainda o cavalo. António montou de imediato e tornou a colocar mais um ferro, sendo evidente as dores estampadas no rosto. O cavaleiro foi assistido pelo Dr. António Peças, médico de serviço na praça e viria a prosseguir em praça e ainda bem.
Frente ao último toiro da corrida, António lidou o sobrero, por inutilização do toiro nos curros. Facto que acontece recorrentemente no Coliseu de Redondo e que ninguém consegue explicar. Terá a ver com a tipologia dos curros? Ou com o maneio dos toiros nos mesmo...? Fica no ar a pergunta.
Quanto à lide propriamente dita, essa teve muitos bons momentos. Muito mais sereno do que no seu primeiro toiro, desenvolveu uma lide templada, com grande correcção nos compridos e bons momentos nos curtos, principalmente os últimos dois ferros com dois câmbios cheios de compromisso e muito justos, o que só por si valeriam o troféu de melhor lide, embora para mim, as avaliações das lides têm que ser analisadas por um todo.
Quanto à forcadagem, o grupo do Ribatejo pegou todos os toiros à primeira com destaque ao quinto da noite intermédio do cabo Pedro Espinheira, uma reunião correctíssima, fazendo jus aos três tempos de uma pega.
Os amadores de Redondo pegaram dois toiros à primeira e um à segunda. Para mim e sem tirar mérito a todos aqueles homens que veste a jaqueta de ramagens redondense, o grupo continua a colocar dez homens na realidade a pegar os toiros, já que saltam sempre para ajudar da trincheira pelos menos mais três forcados, no momento da reunião.
Quanto aos prémios em disputa, venceram António Prates na lide a cavalo e Hugo Figueira dos Amadores de Redondo no capitulo das pegas.
O júri era composto por representantes de entidades da terra. Não faço ideia dos conhecimentos que os jurados têm de tauromaquia, nem coloco em causa questões de gosto, só que muito sinceramente, eu e muita gente, não concordou com a atribuição dos troféus mas gostos não se discutem...
Os toiros da divisa de António Silva estavam dentro do tipo da ganadaria, com alguma escassez de bravura. Foram melhores o segundo, quinto e sexto da ordem. A ganadera foi “premiada” pelo director de corrida no quinto com volta à arena mas recusou a mesma.
Os toiro regressam ao Coliseu de Redondo no dia 5 de Outubro, num espectáculo que contará muito certamente com a presença de Marcos Bastinhas e aí prestar-se-à uma singela homenagem ao cavaleiro Joaquim Bastinhas, que lidou o primeiro toiro há 10 anos, quando o Coliseu de Redondo foi reinaugurado.
Uma palavra de apreço e reconhecimento à Associação Tauromáquica Redondense, que continua a promover os espectáculos no Coliseu de Redondo de forma tão apaixonada e dedicada, mesmo com todas as adversidades muitas vezes inerentes da organização de eventos tauromáquicos.
Luís Gamito