A Praça de Toiros do Campo Pequeno dedicou a corrida da passada
quinta-feira à Região Autónoma dos
Açores.
Um gesto marcado pela presença na
arena do cavaleiro Tiago Pamplona e de
dois grupos de forcados açorianos, a T.T.
Terceirense e os Amadores Ramo
Grande, bem como dos elementos da Marcha
de Veteranos da Ilha Terceira, da Banda da Sociedade Filarmónica Rainha Santa
Isabel e até de Carlos César,
o número 2 dos socialistas.
Uma noite “à Ilha Terceira”
portanto, e talvez por isso, a seriedade da qual é afamada a afición açoriana,
se tenha sentido ontem também no Campo
Pequeno com a imponência de “caras” dos toiros de Jorge Carvalho mas principalmente, pelo comportamento sério e
enraçado do curro. Toiros que tinham muito por onde tourear e por vezes mal
aproveitados…
Esta corrida teve ainda o acréscimo
de ser o já tradicional Concurso de
Pegas da praça lisboeta, pelo que a juntar aos dois Grupos de Forcados açorianos,
entraram também na disputa os Amadores
de Beja, triunfadores desta iniciativa em anos anteriores.
Tiago Pamplona, por se apresentar pela primeira vez em Lisboa, fez
as honras da casa e confirmou alternativa. Surpreendeu essencialmente pela
eficiente brega e conhecimentos dos terrenos, com um toureio asseado e
desembaraçado, frente ao que foi a ‘irmã de caridade’ do lote.
Já Ana Batista, certamente ainda combalida da feia queda há 5 dias em
Coruche, teve actuação de menos a mais. Não deixou memória nos compridos mas
nos curtos, Ana foi um verdadeiro exemplo de superação e melhorou a cada ferro
que cravou perante aquele que foi, além de bonito, o melhor toiro da corrida.
Uma rês codiciosa, enraçada e que concedeu volta ao ruedo à filha do ganadero.
Filipe Gonçalves iniciou função com uma sorte gaiola bem
conseguida. Depois, pese embora a disposição do toureiro e a efusividade dos
ferros a quiebro, nem sempre teve consistência a sua lide, consentindo alguns
toques nas montadas, perante um toiro que tardava um pouco nas reuniões.
Rematou com um bom par após um primeiro intento em que caiu uma bandarilha.
Manuel Telles Bastos toureou quase sempre o toiro onde este se
sentia mais cómodo, pelo que pouco se comprometeu, deixando a ferragem de forma
regular, com o toiro a ser mais voluntarioso a perseguir por trás, do que pela
frente, sendo reservado.
No que toca a cavaleiros, Miguel Moura teve o momento mais
empolgante da noite com uma sorte gaiola em que o toiro o esperou à saída dos
curros, indo o cavaleiro acima dele e a pouca distância, arrancando-se o toiro,
cravou eficazmente. Nos curtos, assentou a sua disposição no toureio dos
quiebros, com algumas passagens em falso e um ferro falhado pelo meio, perante um toiro pronto e nobre.
Fechou a noite o jovem João Salgueiro da Costa, também ele condicionado
de uma colhida há 11 dias que lhe fraturou um tornozelo, curiosamente nos Açores.
Quase como se nada tivesse, o cavaleiro de Valada do Ribatejo destacou
essencialmente pelos dois grandes compridos que cravou, com evidência para o
segundo, de excelente nota. Nos curtos, citou quase sempre de largo, com o
toiro por vezes a adiantar-se nas reuniões, o que lhe valeu ainda forte toque.
Salgueiro cumpriu mas sem romper.
E em noite de concurso, viram-se
grandes prestações dos forcados em praça, todas eficazmente concretizadas à
primeira e todas a transmitirem emoção.
Pelos Amadores da T. T. Terceirense pegou Francisco Matos sem problemas;
e Luís Sousa com uma pega rija. Pelos Amadores
do Ramo Grande, César Pires aguentou a pata do toiro e reuniu com decisão;
e Manuel Pires, cabo do Grupo, efectivou uma enorme pega à córnea, a aguentar
os derrotes do toiro. Pelos Amadores de
Beja, pegou de forma correcta Mauro Lança; e Guilherme Santos, com o toiro
ainda a baixar a cara, efectivou com decisão. No final, decidiu o júri por unanimidade, atribuir o prémio de Melhor Pega ao grande forcado, Manuel Pires, dos Amadores do Ramo Grande.
Dirigiu a corrida o sr. Fábio Costa,
assessorado pelo veterinário Jorge Moreira da Silva, numa noite em que se
preencheram menos de ¾ de casa.
Patrícia Sardinha