Crónica das Caldas da Rainha: "Jaboneros que pediram o B.I."

Dois grandes atractivos para esta noite nas Caldas da Rainha, além do cartel, os trinta e cinco anos de alternativa de Rui Salvador e os seis "jaboneros" (cor de sabão) de Canas Vigouroux, que permitiram uma entrada de público a cobrir dois terços fortes do seu aforo.

E por estes começamos já que seriam eles a definir o desenrolar e o desfecho da toirada. E definiram porque, ao saírem à praça demonstravam uma coisa, velocidade, mobilidade, um certo atrevimento que poderíamos chamar de "fiereza", mas que rapidamente se perdiam. Optavam assim pelo sossego, uma determinada calmaria, naquela de "vamos ali ás termas das Caldas para um tratamento de acupunctura" optando pelas velocidades de devagar, devagarinho, quietos e parados. Só com a aproximação das montadas, quando estas se lhes atreviam pisar os terrenos, davam uma ligeira investida como que a dizer aos cavaleiros "vá... deixa lá o ferro". Dispares de apresentação, os pesos oscilaram entre os 620 e os 520 quilos. 

Perante este cenário cada cavaleiro desenvolveu o seu toureio com o seu cunho pessoal. 

Rui Salvador demonstrou o porquê de andar há trinta e cinco anos como figura cimeira, com a raça que lhe é característica. Pisou os terrenos ao limite para lhe deixar os ferros com valor.

Luís Rouxinol aproveitou, e bem, o de melhor condições com o seu toureio alegre, ligado, ritmado e saiu em plano de triunfador. 

Gilberto Filipe entrou em substituição de Marcos Bastinhas e não deixou o seu crédito por mãos alheias perante o pior do curro. Puxou dos galões e o seu labor só não se traduziu em triunfo pela ausência de emoção do oponente. Mostrou ganas e vontade de o vermos mais vezes assim lhe dêem oportunidades.

Manuel Telles Bastos esteve em plano de destaque e a sua lide teve ligação e interesse. Contrariou as querenças, a brega intencional, deixou-se ver, as entradas foram frontais, emotivas e decisivas e muito bem aceites pelo público que não lhe regateou os merecidos aplausos pelo êxito alcançado.

Luís Rouxinol Jr. não pode, nem deve, trazer o toureio de casa pois cada toiro é um toiro. Nem sempre as sortes de gaiola surtem o efeito desejado e o "canas vigouroux" saiu dos curros à velocidade de um TVG. A tragédia, felizmente, só não se deu por autêntico milagre. Ainda assim o jovem ginete deixou o ferro, o qual ficou nos "vazios", o que veio a deslustrar toda a sua função. Nota-se querer e ambição mas ainda é jovem e um caminho longo a percorrer. Lembre-se que Roma e Pavia não se fizeram num dia. O seu dia há-de chegar e nesta tão difícil, quão nobre, arte do toureio o caminho faz-se caminhando. 

O jovem alternativado António Prates não foi feliz com o seu lote. O toiro saiu claramente diminuído fisicamente, pelo que teria de ser dado o sinal de recolha imediata. Assim não entendeu a Srª directora de corrida Ana Pimenta, e o jovem Prates viu o toiro deitar-se, textualmente, por várias vezes e o jovem alternativado António Prates não foi feliz com o seu lote. O toiro saiu claramente diminuído fisicamente, pelo que teria de ser dado o sinal de recolha imediata. Assim não entendeu a Srª directora de corrida Ana Pimenta, e o jovem Prates viu o toiro deitar-se, textualmente, por várias vezes não permitindo obter os seus intentos.

Do pouco, ou muito pouco, que se moveram durante as lides, os "jaboneros" chegaram fresquinhos ás pegas e permitiram momentos francamente emotivos e, obviamente, perigosos.

Pelo grupo Moitense foram caras João Ventura e Marco Ventura, ambos à quarta tentativa e, ainda, Martim Cosme ao primeiro intento.

Pelo grupo anfitrião o cabo Francisco Mascarenhas na melhor pega da noite ao maior toiro da corrida, Francisco Esteves à segunda tentativa e Duarte Manuel muito bem a fechar com chave de oiro uma noite de glória para os amadores locais.

Raul Caldeira