Corrida da Nazaré: "Foi verdadeiramente para aficionados..."

NATURALES
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Quem julgar que a castiça Praça do Sítio da Nazaré vive de um registo populista para entreter camones, desenganou-se ontem, ao assistir à corrida de inauguração da temporada deste ano naquela praça.

O cartel antevia seriedade, a televisão ameaçava a responsabilidade e o resultado foi verdadeiramente para aficionados. Porque nisto dos toiros, triunfar não é ter mais palmas mas sim ter mais argumentos.

A RTP 1 pôs a Nazaré no Mundo ontem à noite com mais uma transmissão de uma corrida de toiros. A segunda de três que terão honras de transmissão televisiva no canal do estado (sim, apenas três...). E se por um lado nos mói o facto de não termos acompanhado a corrida em directo, não podemos de todo o modo, deixar de nos conformar por a termos tido mesmo que em diferido (pois em vez de três televisionadas podíamos ter zero)...

Do resultado artístico, pouco quero contar, pois acredito que todos os aficionados assistiram à corrida, e mais ainda, acredito que todos tenham tido entendimento de que foi uma corrida à séria, pese embora não ter tido as movimentações, os exageros e os triunfalismos de outras transmissões.

Lidou-se um curro da ganadaria Pinto Barreiros, sem grandes excessos de peso, no geral mansos encastados, exigentes, a pediram contas, cada um com as suas coisas e só toureiros com grande capacidade de lidar, de tourear, os poderiam entender. Para os “espeta ferros” a noite teria soado impossível, para os artistas que foram à Nazaré, não.

Actuaram três cavaleiros, três gerações, três estilos toureiros. Do maestro António Telles, sem desprimor à sua primeira actuação, mas foi a segunda, com um toiro reservado, a que nos encheu as medidas. 36 anos de alternativa e a frescura e o entendimento de quem sabe disto melhor do que quem o inventou. Uma lide grande!

Filipe Gonçalves teve mais matéria com o primeiro, e por isso viu-se mais a gosto dentro do registo a que nos habituou e na linha dos quiebros que tanto impactam nas bancadas. No seu segundo, superou-se quando entendeu deixar violinos perante um toiro condicionado.

O Júnior da corrida, o Luís Rouxinol, foi autor de duas actuações de enorme maturidade, segurança e seriedade. Se frente ao primeiro quase nos pareceu tudo fácil, até pelas qualidades do lidador Douro, realizando o cavaleiro uma grande actuação, a verdade é que foi perante as dificuldades impostas pelo manso enquereçado, e que foi último da noite, que o valor de Rouxinol Jr. mais se acentuou. Não foi para quem pode, foi para quem quer e sabe e Rouxinol Jr. (a cumprir hoje 2 anos de alternativa), sabe e muito... Noite importante para o jovem toureiro de Pegões.

Também nas pegas a noite foi de quem sabe e tanto pelos consagrados Amadores de Vila Franca, como pelos valentes do Aposento da Moita, viram-se grandes pegas e grandes desempenhos. Pelos vilafranquenses, pegaram ao primeiro intento, Francisco Faria e Guilherne Dotti, e o cabo Vasco Pereira, consumou à segunda. Pelo Aposento, pegou o cabo Leonardo Mathias, João Gomes e Martim Cosme Lopes, todos à primeira.

Uma corrida que, mesmo vista pela televisão, conseguiu transmitir emoções reais, levar a tradição a casa de milhares de aficionados e orgulhar-nos de o sermos.




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