Crónica Montijo: “Foram tantos para ver quase nada”

NATURALES
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Poderia dar vários títulos a esta crónica, inclusive repetir-me no cliché taurino do “torero grande, billete grande, toro chico”… Mas fico-me pelo que mais me impressionou: a quantidade de gente que dali deve ter saído desiludida. Afinal, foram tantos à praça, para ver quase nada...

Na verdade, conhecendo-se o cartel, expectativas só existiriam para quem ainda acredita no Pai Natal. 

Já se sabe que onde há figura grande, há toiro escolhido e onde há toiro escolhido…geralmente não há boa coisa. 

Não obstante as características monorrítmicas conhecidas do encaste murube, os de “Irmãos Moura Caetano” - ainda ferrados de Cortes Moura - acresceram levar ao Montijo uma mansidão descarada. Do curro enviado para a “Amadeu dos Santos”, pelo menos um ou dois deles não foram os por aí anunciados nos cartazes e promoções (bastou ver números dos que anunciavam nos sites e números dos toiros saídos à praça), o que sugere mexida ao sorteio. No geral, deixaram a desejar em apresentação, escorridos, pouca cara (expectável), mas foi em comportamento que mais desapontaram. De pouca transmissão, parados, mansos desinteressados, a procurarem refúgio nas tábuas… 

Curiosamente, o melhor lote tocou a Pablo, pelo que problemas para os lidar teve zero, e a pior “dupla” de mansos tocou ao ganadero.

Luís Rouxinol jogava em casa e por isso apoio das bancadas não lhe faltou. Mas faltou-lhe mais coerência no seu primeiro. Deu primazia a querer mostrar habilidades do cavalo do que propriamente em tourear. O toiro mostrou-se reservado nas reuniões, desinteressado na montada e o cavaleiro consentiu demasiadas passagens em falso, com a ferragem a resultar de forma vulgar. Melhorou de intenções no que foi quarto. Um manso que quando investia o fazia aos arreões e que preferiu sempre descair para tábuas. Com ele, sentiu-se mais empenho por parte do de Pegões, que fazendo uso do Douro, tentou contrariar as tendências do toiro numa lide que valeu principalmente pelo mérito e qualidades lidadoras de Rouxinol. 

Pablo Hermoso recebeu os seus dois toiros com uma brega apertada, a dobrá-los de saída e a verdade é que ficaram logo “amestrados”. O primeiro foi uma irmã de caridade, a facilitar a vida ao rejoneador que se exibiu nas “hermosinas”, com o toiro sem transmitir, a não dar um passo após o ferro, pelo que o navarro deixou a ferragem da ordem sem problemas mas pouco mais. O quinto teve mais intenção de investir e por isso também teve mais clareza e mérito o toureio de Pablo, que voltou a chegar mais às bancadas pelos adornos, as “hermosinas” e as piruetas na cara do cómodo toiro, do que propriamente pelos ferros que deixou, e alguns houve de boa nota. 

João Moura Caetano, o “dono” do gado, não teve no Montijo possibilidade de se mostrar. Frente ao primeiro do seu lote, cedo constatou a falta de matéria e tardou para cravar os compridos. Nos curtos, acentuou-se a falta de investida do toiro e entre algumas passagens em falso, o cavaleiro deixou os ferros como pôde mas sem convencer. O último o que queria era tábuas, fugir dali, pelo que da lide de Moura Caetano, nas vezes que intentou colocar ferros, os mesmos resultaram sem interesse. Não lhe foi concedida música em nenhuma das actuações.

Nas pegas, a noite foi subindo de tom e nelas mostraram mais “vontade de investir” os de “Irmãos Moura Caetano.

Pelo Grupo da T.T. do Montijo, Márcio Chapa (o cabo) pegou à terceira; e Luís Carrilho esteve bem à primeira. Pelos Amadores do Montijo, Ricardo Figueiredo (cabo) também só consumou à terceira; e o veterano Isidoro Cirne efectivou com raça à primeira. Pelos Amadores do Barrete Verde de Alcochete, o cabo Marcelo Lóia deu o exemplo com uma grande pega à primeira; mas foi o pequeno, grande, Diogo Amaro quem sobressaiu com uma pega rija, a aguentar a investida do toiro, e a ter braços enormes para consumar com decisão. Estava em disputa o prémio de Melhor Pega, atribuído justamente a Diogo Amaro.

Dirigiu a corrida o senhor João Cantinho, numa noite de casa cheia (faltou o mínimo dos mínimos para esgotar) mas praticamente vazia de conteúdo para memória futura. Valeu-nos, principalmente, o Diogo Amaro…


Patrícia Sardinha


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