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    Crónica: "Santarém foi Maior e Francisco Palha também"


    Afastem-se os fantasmas, motivem-se as gentes, remate-se o espectáculo e São José (ou a alma aficionada ribatejana) faz o resto. É sob esta equação inicial que importa escrever toda e qualquer linha sobre a corrida de domingo passado em Santarém.

    Durante a semana, falei com diversos aficionados que aguardavam por este festejo como se disso dependesse a Tauromaquia, e em boa verdade, conseguir ressuscitar a Monumental Celestino Graça doutros tempos, pode ser o caminho para revitalizar e assegurar a Tauromaquia, mas isso são conversas para outro rosário, falemos da dita tarde de Domingo da Feira de São José em Santarém.

    Primeira corrida da temporada, uma nova empresa, ou melhor, associação, de seu nome “Praça Maior”, se o nome é digno de destaque, a missão mais ainda: remodelação da praça, reestruturação de espaços, aposta na imagem, divulgação e parcerias,.. E se resultou?

    Os 8.826 espectadores nas bancadas indicam que sim, os diversos camarotes cheios também, portanto, relativamente à missão essencial, nesta primeira batalha, triunfaram.

    Camarotes bem pensados e com as entidades a ficarem de bom grado com o serviço e primor apresentado, especialmente a presença de “O Balcão”, restaurante de e para aficionados com petiscos para picar, bem!

    Mas, se na bancada e camarotes a coisa estava composta e a preceito, no redondel a fasquia tendeu a não baixar.

    Um cartel de Figuras, com capacidade de alcançar todo o espectro de toureio a cavalo em Portugal. Diga-se directamente, porque não é escondido nem pouco notório, João Moura enquanto figura da casa Mourista e dessa forma de tourear terrenos a dentro e de bregas e remates emocionantes para as bancadas; António Telles, Mestre e referência do toureio clássico, sorte de fronte com remates de cima a baixo e ao estribo, com remates sérios e sem exagerados floreados; por fim, mas não menos importante, Francisco Palha, que junta no seu toureio um pouco dos anteriores, destacando na forma como se apruma nas suas sortes gaiolas e no temple que imprime nas suas lides, verdade e querer que  Palha tem espalhado por essas praças fora.

    Mas não só de cavaleiros se faz a Festa. Pegavam os Forcados Amadores de Santarém e os Forcados Amadores de Vila Franca de Xira, dois dos mais antigos e consagrados grupos do País. 

    Falarei dos cavaleiros e respectivas lides de forma a não alongar em demasia a crónica, para longo bastou o espectáculo, que uma vez mais, pecou pelo mal das corridas portuguesas, 3h15m de espectáculo é demasiado.

    João Moura andou regular nesta sua passagem por Santarém. Apresentando perante o seu primeiro mais facilidade em imprimir o seu toureio do que no segundo, um toiro de Veiga Teixeira (sobrero). Ainda assim o Maestro não deixou de espalhar um pouco do seu perfume nesta praça que lhe é naturalmente especial e sair em perspectiva alta.

    Cumpre, falar agora de António Telles, igualmente dispensável de mais apresentação, toureio que vem confiante ainda do seu triunfo perante Diego Ventura, com o tal “Olé que ainda se ouve”. Apresentou-se em Santarém, como se da sua casa se tratasse e como nos habituou, sério, sem invenções, a brindar-nos com o toureio clássico na sua vertente mais pura e tal qual os livros. Teve em sorte no seu segundo um dos melhores toiros do curro da Ganadaria Cunhal Patrício. Se na sua primeira lide tinha cumprido e sido regular, na segunda libertou toda a arte que lhe corre e bem...

    Francisco Palha já é definitivamente um caso sério, ou por outra, um caso daquilo que faz falta: um toureiro sem medos, com ganas da ponta do dedo até ao último fio de cabelo e sem problemas de transmitir isso mesmo aos aficionados. Cumpriu com duas portas gaiolas repletas de respeito e de levantar o público... Continuou a lide a dar vantagens aos toiros, a aproveitar diga-se o bom segundo  toiro que lhe calhou, que a par com o 5.º da tarde, o que de melhor ficou deste curro. Afirmo sem grandes receios e às claras, que com justiça de tudo o que de tão bom aconteceu na Celestino Graça, Francisco Palha 

    As pegas foram asseguradas por dois grupos de forcados de renome, Santarém e Vila Franca.

    Pelo grupo da casa, Santarém, em praça esteve Rúben Giovetti a dobrar Francisco Montoya, ao segundo intento perante um toiro com pouca força, mas que surpreendeu o forcado com uma intensa mangada. Seguiu-se António Taurino ao segundo, também num toiro igualmente de pouca força, mas que se arrancou um pouco à sua vontade e por isso levou a melhor na 1.ª tentativa. E rematou a actuação pelo grupo de Santarém, Francisco Graciosa, ao primeiro intento, reunindo eficazmente .

    Pelo Grupo de Vila Franca de Xira, entraram em praça Vasco Pereira, actual cabo desta formação, a consumar ao segundo intento, após uma primeira tentativa dura. Seguiu-se Rui Godinho que à primeira tentativa perante um toiro que poderia adivinhar-se chato consumou à primeira tentativa. E Francisco Faria a efectivar à terceira. Nota para as suas duas primeiras tentativas, em que o forcado teve mérito e querer, faltando uma ou outra ajuda, e tendo saído inanimado de praça na 2.ª tentativa. Mas após sair de praça de maca, envolto nas ganas que todos os aficionados lhe conhecem, voltou à praça e consumou assim à 3.ª tentativa a pega do último da tarde.

    Saíram à praça cinco toiros da ganadaria Cunhal Patrício (1º, 2º, 4º, 5º e 6º - com os pesos de 490kg, 470kg, 570kg, 585kg e 510kg, respectivamente) e um toiro de Veiga Teixeira (4º) com 560 kg. Na generalidade cumpriram, destacando inevitavelmente os 5.º e 6.º da tarde que tinham apresentação, bravura e disponibilidade destacáveis perante os restantes, de forma que, no 5.º da tarde foi dado volta ao ganadeiro com todo o mérito.

    A corrida foi dirigida pelo Sr. Marco Cardoso, coadjuvado pelo Dr. José Luís Cruz.

    Assim, se iniciou mais uma temporada em Santarém, respirando-se um ar aficionado, muito por mérito dos 8 amigos que se transformaram em empresários e entregaram à Festa e à Monumental Celestino Graça aquilo que ela implorava, menos negócio e muito mais carinho, respeito e humildade.

    Referir em nota, a homenagem a João Moura, realizada pela empresa.


    Francisco Potier Dias