Crónica: “Oh terra de Vila Franca, onde está o teu passado?”

NATURALES
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Bom ambiente no exterior da praça, o que fazia augurar uma boa entrada nesta corrida de celebração do 117º aniversário da Palha Blanco, e que se apresentava com um cartel cheio de competitividade.

Para complementar a tarde, dois jovens de créditos firmados no toureio a cavalo, bem como dois matadores de maior destaque no toureio a pé. Tudo isto coadjuvado com um curro que inicialmente se apresentava repartido entre toiros Ribeiro Telles e Falé Filipe mas que, por motivos de saneamento e de falta de jogo de cabrestos da parte da ganadaria Falé Filipe, saiu apenas um curro inteiramente Ribeiro Telles, a carecer quer de apresentação quer de comportamento. E não menos importante, a presença nas pegas de dois dos maiores grupos dos país, os Amadores de Santarém e Amadores de Vila Franca de Xira.

Com pouco menos de meia casa, não se entende de facto esta afición vilafranquense, que muito fala mas pouco recompensa quem procura “servir” bem.

Antes do início do espectáculo tempo houve para um minuto de silêncio em memória do cavaleiro António Marques e uma rápida homenagem aos 10 anos de alternativa do matador António Ferreira, num espectáculo dirigido pelo Sr.João Cantinho auxiliando pelo Dr Jorge Moreira Da Silva.

Abriu praça um exemplar da ganadaria Ribeiro Telles com 610 kg e o nº 77 no dorso, de encaste murube, que entrou desde logo em praça a passo e a transmitir pouca emoção e assim se manteve durante a lide... João Moura Jr. andou regular nos compridos, para nos curtos, e perante um toiro que não transmitia e que dava ideia de estar tocado da pata direita traseira, motivo que possivelmente lhe retirou ainda mais emoção, levou esta lide a ladear com o toiro a passo... enfim, aplaude quem gosta, assobia quem sabe. Ainda assim destacar dois curtos de boa nota de João Moura Jr.

Para a pega deste toiro o forcado António Goes dos Amadores de Santarém que consumou à primeira tentativa numa viagem tranquila e pelo alto.

Houve volta apenas para o Forcado.

O segundo toiro da tarde, da ganadaria Ribeiro Telles com 585 kg, foi lidado por João Telles Jr.. Uma rês mais composta e rematada que a anterior, saindo à praça “a assoprar”, transmitindo desde logo emoção e expectativa à praça, contudo teve 'nobreza' a mais. A brindar o inicio da sua sorte de compridos, João Telles cravou três desta ordem a dar alguma vantagem ao toiro. Nos curtos, Telles Jr. andou algo reservado mas a entrar de fronte com o toiro e a cravar de alto a baixo como manda a sapatilha.

Para a pega deste toiro os forcados da casa, Vila Franca de Xira, e medindo forças com este nº 81 o forcado Pedro Silva à 3ª tentativa.

O matador António Ferreira lidou o toiro com 590 kg e nº 112. Começou de capote com boa nota, quites bonitos e a desfrutar desta que é a sua praça, com distâncias curtas e a rematar com beleza. Brindou a sorte ao antigo jogador de futebol Eric Cantona, e que bem e bonito esteve o matador luso neste tércio, a desfrutar e a empregar-se perante o toiro! Não se limitou a cumprir papeleta, toureou e bem, e colocou a Palha Blanco em silêncio profundo a desfrutar da vontade e do saber de António João Ferreira. Destaque para o momento em que levou a praça ao rubro e sacou música após quatro tandas de naturales de muito boa nota!

A quarta actuação da noite esteve a cargo do matador de toiros Nuno Casquinha. O toiro com 490 kg, de pelagem castanha, transmitiu, trazendo trapio e génio e por isso agradando ao público. A sorte
de bandarilhas esteve a cabo do matador, e o público a gostar não só versatilidade como da coragem de dar o passo em frente, e que bem esteve nos seus 3 pares de bandarilhas. Na muleta iniciou de joelhos, rematando bem os passes de muleta e com um toureio com consistência.

O quinto toiro de Ribeiro Telles com o nº 85 com 575 kg e pelagem amarela, coube a João Moura Jr., frente ao qual teve uma actuação em crescendo, com o toiro a cooperar e a empregar-se. O cavaleiro partia de largo, entrando de fronte ao toiro, recorrendo a ajustadas batidas ao píton contrário rematando de alto a baixo. Descurada veio a brega, que é tão a referência da casa Moura, e por isso estranhamos quando não sai em quantidade a que nos habituam... tourear é os toiros não o público. Destaque para um grande ferro, o ferro da tarde, entre tábuas de alto a baixo e ao estribo que valeu desde logo música ao cavaleiro de Monforte bem como um aplauso de pé de grande parte do público presente.

Para pegar este toiro em praça os Forcados Amadores de Santarém para a cara o forcado António Taurino pega consumada à 1.ª tentativa, com uma viagem pelo alto e vistosa.

Chamados os proprietários da ganadaria à praça, António Ribeiro Telles e João Ribeiro Telles respectivamente, dão assim a volta em conjunto com o forcado e o cavaleiro, merecido.

Depois do 80, o 8... O sexto toiro da tarde com 580 kg, foi lidado por João Telles Jr. mas careceu de muita apresentação para esta exigente praça... sem trapio e feio de cara, enfim...uma pena... Cumpriu como pôde João Telles Jr., com o toiro a transmitir pouca emoção e a arrancar constantes assobios do público. Quando falta o sal e a pimenta para qualquer actuação, de nada nos vale o esforço e o querer do cavaleiro.

Para pegar este toiro, pegou pela formação vilafranquense, o forcado David Moreira “Canário” à primeira tentativa cheia de querer.

O toiro com o nº 81, 530kg, e novamente António João Ferreira na arena, voltando a cumprir com elegância no capote. Na sorte de bandarilhas, João Ferreira, irmão do matador, e João Martins levantaram a Palha Blanco dos assentos. António João voltou a andar bem com a muleta, a desfrutar, sendo que o toiro veio a menos apresentando-se menos cooperante com o decorrer da faena e demonstrando um comportamento completamente oposto ao inicial.

Nuno Casquinha fechou a corrida perante o toiro nº 91 com 580 kg. Vistoso de capote, novamente bem na sorte de bandarilhas a cargo do próprio, foi com a muleta que voltou a estar por cima do oponente, exibindo-se com a raça que lhe é característica.

Foi assim esta corrida de finais de Setembro, da qual saí triste pela fraca adesão dos aficionados. 
Oh terra de Vila Franca, que outrora sempre cheia de público... Onde está agora o teu passado?



Por: Francisco Potier Dias
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