Beja: Crónica fugaz de uma tarde mais...

NATURALES
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Confesso que já me ia perder em infinitas linhas tentando arranjar motivos e desculpas, ou encaminhar responsáveis para soluções, mas a verdade é que nem sempre podemos aliviar-nos com situações fora dos nossos contornos, embora possamos ser dotados de noção e realidade. 

A organização do Festival da CerciBeja (a celebrar a sua 10ª Edição), que outrora foi data de maior regozijo no calendário taurino nacional, uniu esforços para angariar fundo de maneio a uma causa ímpar e carente de recursos, e que uma vez mais, vem explanar a grandeza e nobreza dos taurinos, que juntos amealharam valores na casa dos oito mil euros líquido de lucro. Recordo festivais com o lucro em quadruplo do supracitado... 

Para que de forma sucinta e explícita se entenda uma tarde com uma entrada de menos de 1/4 e apontamentos aqui e ali, a dita cuja, pode fazer-se de forma fugaz:
Rui Salvador abriu a calorosa tarde de forma irregular perante um novilho mal apresentado mas com mobilidade e entrega de Murteira Grave, onde se destaca apenas o primeiro curto e a forma de o interpretar nos terrenos; Tito Semedo andou nitidamente sem conseguir emancipar as suas vontades e a sua prestação foi carente de qualidade, perante um novilho de António Semedo com cara (embora escorrida e terciado) que se movia encastado mas sem classe;
 O terceiro era um toiro com toda a barba de Ascensão Vaz, muito baixo e pesado, com morrilho, de mirada séria mas pouca cara, que foi um manso intransigente, ao qual Marcos Bastinhas procurou dar-lhe a verdade por diante mas que só o logrou uma vez, e na primeira bandarilha;
 A Mara Pimenta tocou em sorte um exemplar andarilho e sem selo de Núñez de Tarifa, que rompia em saídas a qualquer momento mas sosito e sem chama e nulo de fijeza. Denotou vontade e desembaraço a cavaleira, mas nem sempre se aliaram à categoria e qualidade pretendida, a precisar de mais sítio para conseguir resultados mais expressivos;
 António Prates, diante de um novilho com muita mobilidade e som de São Martinho, que se movia de boca fechada e sempre em galope, cravou um bom primeiro curto, e um segundo ditando de forma soberba a lei do toureio a cavalo, cravando ao estribo com muito impacto em terrenos de dentro. O resto foram quiebros para leigo ver mas sem a mesma emoção; 
Joaquim Brito Paes resolveu uma papeleta algo difícil, com os argumentos que um jovem no início de carreira ainda está a adquirir. O novilho de Lampreia, alto e com osso, cara grande e aberta, tinha investida de toiro feito e casta de manso, movendo-se com pata. Passou na prova de praticante mas faltou-lhe a distinção que já demonstrou ter, andando ainda assim benevolente e com vontade num dia especial e de algum nervosismo. 
Curro Núñez, novilheiro sem cavalos, foi o encarregue da parte a pé do espectáculo, mostrando-se solvente e fácil com o capote, com corte e solera por verónicas, e abreviou uma faena curta a um novilho cubeto e com pouca força da ganadaria de sua casa (Núñez de Tarifa), que se acabou defendendo e com meias investidas. Impossibilitado de imprimir profundidade aos muletazos, soltou o braço por um par de vezes pelo lado esquerdo e pintou naturais com qualidade, faltando ao novilheiro consentir e obrigar mais. 

Pelo Real de Moura duas pegas fáceis e sem dificuldades de maior, com o grupo bem a ajudar em cada sector e permitindo segurança aos caras Luís Bate e Gonçalo Malato, que lograram desempenhos ao primeiro intento; Pelos Amadores da Póvoa de São Miguel Rui Casca esteve decidido com uma pega à primeira, e António Banha sem parcimónia à terceira; Pelo Grupo da Casa, os Amadores de Beja, bom desempenho de Alexandre Rato perante um animal de investida mais dura e poderosa, com o grupo também em destaque, e Moisés Moura diante o último, que saiu com pata e investiu alto, aguentado-se o forcado no primeiro intento.

A corrida, abrilhantada pela Banda Capricho Bejense, foi dirigida pelo Sr. Agostinho Borges.

Pedro Guerreiro