Crónica: "Noite escaldante no Coliseu de Redondo com espectáculo de 4 horas"

NATURALES
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Noite muito quente no Coliseu de Redondo para a primeira corrida de toiros do ano, depois do êxito do Festival da Rádio Campanário com praça cheia.

Desta feita a lotação contou com três quartos de casa, para se assistir a uma corrida de toiros de 4 horas!

Seis cavaleiros e dois grupos de forcados disputavam os respectivos troféus Simão da Veiga Jr. e Capinha Alves.

A noite escaldante começou com as cortesias à Antiga Portuguesa que demoraram uma eternidade, para além de serem diferentes do habitual, notou-se alguma desorganização, no entanto, temos que louvar a organização da corrida por pretender oferecer algo diferente.

Abriu praça o cavaleiro Rui Salvador que teve por diante um colaborante toiro de Cunhal Patrício, ao qual o cavaleiro deu uma lide correcta com sortes frontais e rematadas.

Tito Semedo que brindou a lide à Associação Tauromáquica Redondense, iniciou correcto nos compridos, e nos curtos destacou-se no primeiro ferro e no violino que rematou a lide.

Quanto a Francisco Cortes a sua passagem foi bastante discreta. Começou por ir buscar o toiro aos curros, que não teve o efeito desejado. Diante de um toiro que se fechava em tábuas e se defendia como podia, o cavaleiro estremocense não teve forma de contornar as dificuldades impostas.

Manuel Telles Bastos andou ao seu estilo, baseou a sua actuação num toureio clássico mas de pouca emoção com sortes pouco cingidas.

Marcos Bastinhas teve por diante o melhor toiro da corrida que permitiu ao cavaleiro alcançar um importante triunfo. A par de Rouxinol Jr., Marcos seria também um justo vencedor do troféu em disputa e nem uma colhida da montada manchou a sua actuação. Andou alegre com sortes justas e bem rematadas, terminando com um bom par de bandarilhas.

A última actuação da noite, trouxe consigo também o caso da noite. Rouxinol Jr. recebeu bem o oponente com três compridos e quando se preparava para colocar o primeiro curto, soou a ordem de recolha do toiro, por este estar inutilizado. Muito bem na decisão o director de corrida e o veterinário e à partida a lide terminava por ali e consequentemente a corrida. Após alguns protestos do público contra o director e veterinário, a organização da corrida decidiu oferecer o sobrero para Rouxinol Jr. lidar, porque a isso não era obrigada, segundo o Artigo 48º do Regulamento Taurino: 

"Rês inutilizada

1 — A rês que entre na arena diminuída fisicamente ou adquira no decurso da lide qualquer condição física impeditiva, deve ser substituída.

2 — Os promotores do espetáculo não estão obrigados a fazer correr mais reses do que as anunciadas ou a substituir alguma que se inutilize após o fim do primeiro tércio, no toureio a pé, ou a colocação do primeiro ferro do cavaleiro, dando -se assim por concluída a lide, não havendo lugar a pega, com consequente perda de «turno» do grupo de forcados a quem competia pegar a rês.”

A noite já ia longa e a maioria do público acabou por aguardar mais 20/30 minutos para que o sobrero saísse à praça.

Rouxinol Jr. tornou a receber mais um bom toiro e a estar muito bem nos compridos. Nos curtos foi uma lide de bom nível, com ferros muito bem preparados, colocados ao estribo e bem rematados. Terminou a lide com um bom par de bandarilhas. 

No capítulo das pegas a noite foi muito dura, nomeadamente para os Amadores de Redondo, que tiveram que pedir a alguns forcados que estavam de fora para se fardarem. Para além das dificuldades impostas pelos toiros, foi patente que o grupo não estava nos seus dias.

Pelos Amadores de Cascais pegaram Rui Grilo à terceira tentativa, Ventura Doroteia à primeira e André Ramalho à segunda.

Pelos Amadores do Redondo, foi para a cara João Calado, que após quatro tentativas foi dobrado para a tentativa de pega a sesgo, não resultando esta, pegaram de cernelha Daniel Silva e Carlos Silva. Pegaram ainda Joaquim Ramalho, à primeira e o cabo Hugo figueira, à quarta tentativa.

O Troféu Simão da Veiga Jr. foi atribuído justamente a Luís Rouxinol Jr., embora a decisão não tenha caído bem nos outros colegas de profissão, atendendo ao facto de alguns não estarem presentes no momento da sua entrega, ou pelo menos não estarem muito “visíveis”. 

Quanto ao Troféu Capinha Alves, foi atribuído, quanto a mim injustamente à única pega ao primeiro intento pelos Amadores de Redondo, tendo o grupo de Cascais pegas mais “limpas” e merecedoras do galardão.

Para terminar um nota para o curro de Cunhal Patrício. Todos os toiros estavam bem apresentados mas díspares de comportamento, mas a festa é isto! Cavaleiros e grupos de forcados que se prezem, tem que enfrentar todos os tipos de toiros e têm que ter soluções para dar volta às adversidades. Compreendo que nem sempre tenham “matéria-prima disponível”, mas é isso que os diferencia uns dos outros, porque… “Só quem tem unhas é que toca viola”…

Texto e fotografias: Luís Gamito