Crónica de Lisboa: "Foi demasiado importante…"

NATURALES
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Foi demasiado importante a faena que o matador português António João Ferreira protagonizou frente ao quinto toiro da corrida na passada quinta-feira no Campo Pequeno.

Demasiado importante para se ouvirem olés convictos por parte do (pouco) público presente, demasiado importante para o entendimento dos que se levantam por tudo e por nada a aplaudir na vã (e aos dias que correm, quase certa) esperança de assim serem fotografados para os sites da “especialidade”… Demasiado importante para gerar compromissos com os que se apresentam como empresários taurinos, e a quem não interessa apoiar e promover os artistas portugueses mas sim tentar lucrar algum, gastando pouco, e trocar interesses (leia-se artistas) com os seus congéneres. Demasiado importante até, para os restantes agentes desta nossa Festa dos Toiros, que às vezes é mesmo é uma Festa das "Touradas"...

Uma faena demasiado importante inclusive para o próprio toureiro, que na sua exagerada humildade, não percebeu que em primeiro lugar, a sua volta, os seus louros. Depois sim, e se tanto, uma segunda volta acompanhada pelo ganadero, e talvez quiçá uma terceira, mais não seja porque finalmente este ano, se viu tourear com qualidade em Lisboa…

Depois do barrete a 5 de Julho no Campo Pequeno, devido à pouca apresentação e cara dos toiros lidados pelas grandes figuras do país vizinho, expectável seria que onde há português, a coisa pia de outra maneira. 

Os toiros de São Torcato ainda que díspares de apresentação, foram bem avantajados de córnea, alguns até demais, e em comportamento tiveram mobilidade, com idade, peso e exigindo a identificação aos toureiros que tinham pela frente, pese embora terem sido no geral animais de pouca raça, facto visível principalmente aquando das faenas de muleta. Destacou-se pela voluntariedade, nobreza e mais classe, o lidado em quinto lugar.

A corrida iniciou com uma lide a duo entre as cavaleiras Sónia Matias e Ana Batista que resultou num total desencontro entre ambas. Ainda assim, foi Ana a mais assertiva, frente a um toiro que exigia que dele estivessem pendentes, adiantando-se por vezes às investidas das montadas.

Em solitário, também só de Ana Batista pudemos ver ofício, já que a cavaleira de Samora Correia, por indisposição não lidou o toiro do seu lote. Acabou por ter que ser a cavaleira de Salvaterra a cumprir a parte equestre do festejo com duas lides onde foi evidente a sua maturidade e desembaraço, deixando uma passagem positiva por Lisboa. Primeiro, e montando o Chinelito, apoiou-se na segurança e classe do cavalo para garantir uma actuação mais consistente, enquanto com o toiro que fechou corrida, um animal distraído que pedia sortes mais em curto, a actuação resultou mais inconstante montando o Roncal.

Nas pegas, o Grupo de Forcados Amadores das Caldas da Rainha foi quem mais sentiu a dureza dos toiros, sendo as mesmas concretizadas por intermédio de Francisco Mascarenhas, que depois de ter sido despejado num primeiro intento, aguentou bem à segunda tentativa; Lourenço Palha sofreu violento derrote sendo dobrado por António Cunha que concretizou na sua segunda tentativa com uma pega em que foram fundamentais os ajudas; e Duarte Palha e José Maria Abreu concretizaram uma pega de cernelha.

A pé, António João Ferreira mandou sempre em qualquer toiro do seu lote. Frente ao primeiro, um toiro que se arrancava com alguma alegria aos cites e de investida larga, pecando por ao passar na flanela rebricar muito, o toureiro português sentiu-se mais a gosto pela direita, evidenciando desde logo as boas maneiras de que é detentor. Mas foi no quinto que a estética, a classe, a poderosa mão baixa e templada de António João Ferreira mais se fizeram notar. O toiro foi repetidor, fixo na muleta, e permitiu ao matador luso uma faena em redondo, que começou de forma vistosa e elegante com o capote, para culminar com um toureio de pura arte com a flanela. Levou sempre ligada a rês na muleta, pés fixos, com um toureio em redondo e uma mão esquerda…Enfim, demasiado importante! No final, partilhou volta com o ganadero, o sr. Joaquim Alves, e o maioral da ganadaria.

O valente Nuno Casquinha teve menor matéria para luzimento nesta noite no Campo Pequeno. O primeiro do seu lote foi brusco no capote e na muleta de investidas curtas, logrando alguns passes isolados ao toureiro, que em tudo pôs disposição. Com o último da noite, animal de investidas incertas, manso e de pouca força, Casquinha acabou colhido. Recompôs-se, encastou-se mas a faena nunca chegou a romper, embora a notória vontade do toureiro em dar tudo. Em ambas as faenas destacou-se pelo valor e espectacularidade com que efectiva o tércio de bandarilhas.

Dirigiu a corrida, o sr. Pedro Reinhardt assessorado pelo veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva numa noite que faltou mais ambiente, mais entendimento do público e...menos calor!

Salientar ainda, que esta foi a primeira actuação de António João Ferreira esta temporada. O que tem tanto de surpreendente como de ridículo, pois como pode um toureiro destes não ter mais compromissos!?

Enfim, foi demasiado importante e daqui a uns dias, poucos ou nenhuns se irão lembrar daquela faena...



Patrícia Sardinha

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