Crónica Corrida TVI: "A coisa ainda esteve ‘grave’ mas…"

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É inglório escrever sobre corridas televisionadas! Meio mundo aficionado assistiu, se não ao vivo, pela televisão… Mas porque as opiniões valem o que valem, cá fica a minha. 

Ainda que em diferido para quem ficou em casa (em directo ou não, o importante é os canais de televisão darem atenção à Festa dos Toiros), aquela que foi a corrida comemorativa dos 25 anos da TVI encheu a Praça do Campo Pequeno para uma noite de grande ambiente e expectativa, e provou uma vez mais que quando bem montada, com toureiros, forcados e toiros à séria, quer nas bancadas quer no sofá, as emoções da arena chegam a todos! 

Um cartel rematadíssimo e para o qual o curro da ganadaria Murteira Grave muito contribuiu para nos criar “fome” desde que o cartel fora anunciado. 

Mas ia-nos saindo o tiro pela culatra e a coisa ainda ficou ‘grave’ com os toiros a não se empregarem, a não serem o que esperávamos deles… Felizmente, havia artistas dispostos e no final a corrida resultou de emoção, com dois toiros mais colaborantes a fechar festejo. 

De apresentação irrepreensível, representativos do cuidado ganadero que se vive em Galeana, ficaram contudo aquém da bravura que lhes é conhecida. Não foram bravos e por isso mesmo, até acabaram por ser exigentes pela dificuldade que impuseram, sendo um curro que, excepto os dois últimos, saíram complicados, sérios mas mansos, com sentido, desinteressados, reservados e a pedirem “gente grande” pela frente, com melhores qualidades no capote dos peões de brega e com braveza nas pegas. 

António Telles andou superior no seu primeiro, animal com trapio mas reservado, desinteressado, com querenças nas tábuas, e que só a experiência de um grande toureiro lhe podia dar a volta. Assim foi! Mais desconcertado andou no que foi segundo do seu lote, outro toiro que não se empregava, perigoso, aos arreões e frente ao qual António passou mais discreto já que pouco mais podia fazer e o “Alcochete” também não queria… 

Luís Rouxinol criou boas intenções nas abordagens ao primeiro do seu lote, outro toiro distraído, com sentido, que cortava caminho e cuja lide valeu pela ligação que manteve o toureiro com a rês, com o terceiro curto a resultar o mais ajustado. Já no quinto da noite, aí sim Luís Rouxinol foi à antiga. O toiro foi mais colaborante, teve mobilidade e Rouxinol, melhor nos curtos que nos compridos, lidou o toiro (algo que cada vez menos vemos nas nossas praças), preparando as sortes, bregando de forma arrimada - ofício no qual o Douro é exímio -, e cravou com mais cingimento o segundo e terceiro curto. Rematou com o palmito e o par de bandarilhas que puseram as bancadas de pé. 

João Moura Jr. protagonizou duas actuações dentro do seu habitual conceito com cites de praça a praça, o peão de brega a colocar o toiro nas tábuas para depois, na ponta oposta, o cavaleiro partir ao cite e com ligeira batida, cravar a ferragem, por vezes à garupa, outras consentido passagens em falso mas onde houve acima de tudo entrega do toureiro. Teve dois toiros distintos, uma estampa o terceiro da corrida, distraído, reservadote, de investidas curtas, e depois, o último, o melhor da corrida, um toiro que teve mobilidade, que transmitiu e com o qual empolgou bancadas com as piruetas do Xeque-Mate a rematar os ferros. 

Enorme esteve o Grupo de Vila Franca de Xira em praça. Primeiro, por intermédio de Vasco Pereira, de um valor sem tamanho a aguentar a investida do toiro, mas tardou o Grupo e acabou por concretizar, novamente de forma valorosa, à segunda tentativa; Márcio Francisco viu o seu toiro humilhar na reunião, levantá-lo e atirá-lo ao chão. Ao segundo intento, fechou-se eficazmente e consumou; Francisco Faria reuniu à córnea de forma correcta e com uma grande pega e rija à primeira. 

Menos eficaz nesta noite, apresentou-se o Grupo do Aposento da Moita, com Ruben Serafim a ser dobrado por Marco Ventura, concretizando-se a pega ao quinto intento com ajudas carregadíssimas; o cabo José Maria Bettencourt pegou à terceira também com ajudas carregadas; e Leonardo Matias à primeira tentativa com uma grande pega. 

Salientar ainda o respeitoso minuto de silêncio pelo bandarilheiro António José Martins, recentemente falecido, e a simpática despedida do peão de brega João Boieiro, a quem Mestre Luís Miguel da Veiga, sob o olhar de António Telles, cortou a coleta no final da lide do primeiro toiro. 

Dirigiu de forma assertiva Pedro Reinhardt, assessorado pelo veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva, numa noite em que a coisa ainda esteve complicada mas é também esta incerteza que dá a emoção à Festa dos Toiros…


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