Crónica Campo Pequeno: “E depois veio o Duarte que me “mudou” o título…”

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Era aí meia noite e um quarto, mais coisa menos coisa, e estávamos a finalizar o quinto toiro da Corrida do Emigrante no Campo Pequeno.

Já tinha havido muita festa (e há alguma nocturna do Campo Pequeno que não tenha festa?!), já muito triunfador declarado, muitas palmas mas de toureio mesmo, a coisa estava escassa.

Pese embora a boa vontade de todos, e o terem-se desenrascado dentro do estilo de cada um, faltava contudo, Toureio de Verdade.

Na minha cabeça já havia título…embalada pelo rótulo da Corrida do Emigrante, um “Emigremos” era a legenda certa para a crónica, já que até aquele momento muito pouco de Toureio a Cavalo à Portuguesa, como bem mandam as regras, se havia visto…e para isso mais valia que nos mudássemos de país!

Mas tinha que vir o Duarte Pinto tramar-me o título previsto…

Com as confirmações (duas!) de alternativa que alteraram a ordem de lide, o cavaleiro de Paço de Arcos acabou por ser o último a actuar numa corrida onde o curro de toiros Vale Sorraia apresentava praticamente todas as condições para triunfos, sendo animais com mobilidade, prontos e a transmitirem, destacando-se o primeiro, segundo e sexto da ordem. Em apresentação foram desiguais de hechuras, tamanhos e capas.

O rejoneador Andrés Romero acabou por desperdiçar um bom toiro com uma lide inconstante, pecando pelo excesso de velocidade, alguns toques e de quem nos ficou a boa brega com que recebeu o oponente.

David Gomes tapou-se da díspar colocação inicial da ferragem com os ladeios ajustados a que o seu “Campo Pequeno” se permite. Melhor no terceiro e quarto curto, tendo ainda apanhado susto ao ver-se apanhado pelo toiro que teve recorrido, sem incomodar muito.

Rui Salvador, a cumprir 34 anos de alternativa, teve actuação de menos a mais, também ele a consentir forte toque ao primeiro comprido. Nos curtos, valeram-lhe as boas intenções das sortes, com um toiro que esperava um pouco nas reuniões, destacando-se o terceiro curto, o mais cingido.

António Brito Paes teve pela frente um bonito toiro mas reservado de investida, frente ao qual teve actuação discreta e com algumas passagens em falso.

Manuel Telles Bastos viu-se com o mais distraído da corrida, que lhe descompôs a possibilidade de iniciar função com um ferro em sorte gaiola. Nos curtos, salvaguardou-se sempre de reuniões mais cingidas, ficando-nos de bom o quinto curto que deixou.    

Depois,…depois veio o Duarte que me “mudou” o título…

Afinal, ainda não precisamos de emigrar enquanto existirem toureiros em Portugal com vontade de ir à cara do toiro, de lidar sem ser só ‘atirar’ ferros à rês, de cravar de cima a baixo… Uma actuação séria, sentida e de verdade, impondo desde o início mando num toiro que foi bom, fixo no cavaleiro, a quem se louva ainda o facto de mal ter consentido a presença dos seus peões de brega em praça!

Nas pegas actuaram os Grupos do Montijo, Moura e Turlock. Pelos primeiros, pegou João Paulo Damásio à segunda a aguentar bem a investida; e José Pedro Suissas à primeira. Pelos alentejanos, Gonçalo Borges efectivou à primeira; e Rui Branquinho à terceira com bom empenho do primeiro ajuda. Pelos de Turlock, George Martins Jr. pegou à primeira numa pega que resultou eficaz; e Steve Camboia numa pega rija também à primeira.

Dirigiu a corrida o sr. Tiago Tavares, que apesar de tardia (o que nos previa noite de exigência máxima), acabou afinal por consentir música a todos os artistas, sendo assessorado pelo veterinário Jorge Moreira da Silva.

A praça contou com cerca de ½ casa de público, numa noite em que se não fosse o Duarte Pinto…tínhamos emigrado…

Patrícia Sardinha

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