Na
passada quinta-feira, realizou-se mais uma Corrida de Toiros inserida no abono deste
ano da Praça de Toiros do Campo Pequeno.
Uma
corrida que voltou a resultar num acontecimento, tal o que agora dá que falar, e
que, obviamente é de tudo menos do artístico, o que prova como actualmente preferimos valorizar o acessório do que o toureio.
Anda
meio mundo, a debater a não concessão de volta a um cavaleiro por parte
do director de corrida. Anda o outro meio, a repudiar e a dar tempo de antena a
um anti-taurino invasor de arenas… E o resto? O sermos exigentes em relação aos
toiros que vão à primeira Praça do País? O sermos exigentes por um toureio de verdade
e não de enganos? E a
enchente que teve o Campo Pequeno nessa noite?!...
De
facto, o público compareceu mas careceu de toiros mais uma corrida ‘torista’ em Lisboa.
As
reses da ganadaria David Ribeiro Telles,
na linha murube, acusaram peso mas foram desiguais de apresentação, no geral
mansos, sem força, sem cara e de pouca transmissão. Atrever-me-ia a dizer, e
fazendo jus ao ditado: “torero grande,
billete grande, toro chico”, que onde há figura…já sabemos! Escapou o
primeiro, um toiro de investida pronta, com transmissão e homogéneo de figura.
António Telles vinha embalado de triunfos grandes mas conteve-se a chama
em Lisboa. No primeiro, ainda nos fez acreditar que seria mais uma actuação
inspirada mas com o decorrer da lide, percebeu-se que não. O toiro com 606 kg,
transmitia e às vezes foi pronto ao cite do cavaleiro, contudo foi também
aprendendo a cortar caminho ao toureiro da Torrinha, que não se livrou de alguns
toques nas montadas. Teve matéria mas não teve inspiração. No que foi seu segundo,
um toiro com 630 kg, andou mais voluntarioso mas ainda assim discreto frente
a um manso reservado e nem o “Alcochete” lhe garantiu uma lide consistente.
Ficou-nos daqui o seu quarto curto.
Pablo Hermoso de Mendoza teve pela frente como primeiro do seu lote, um toiro que
queria mas não podia. Escasso de força, pequeno, acusou na balança 526 kg. O espanhol
evidenciou-se no seu registo, um rejoneio mais clássico, em que o toureio surge
como algo natural e não forçado, com classe e ligação mas no qual o público
valoriza mais os adornos do que propriamente a (boa) concretização das sortes.
Pablo logrou a actuação mais limpa e completa da noite. Montando o ‘Berlín’, concretizou
batidas e reuniões ajustadas e ferros de alto a baixo. O segundo do seu lote,
com 634 kg, foi um animal manso reservado, que não se empregava, sempre a
defender-se e frente ao qual o rejoneador teve que impor mais disposição, sendo
de valorizar a eficácia da brega do toureiro por forma a deixar a ferragem da
ordem.
João Moura Caetano teve como primeiro do seu lote, um animal avacado,
badanudo, com 580 kg, e que saíu com pata. Talvez por isso, aproveitou-se dessa
valência o cavaleiro, para basear os compridos em cites de largo, dando
primazia à investida da rês. Assim, resultou bom de verdade o 2º comprido. Nos
curtos, com a rês a ir a menos e montando o ‘Temperamento’, o cavaleiro para
além dos populares ladeios, assentou toureio nas batidas pronunciadas, desviando-se
o toiro da sorte, e levando a alguma falta de ajuste nas reuniões. Quando se cingiu
mais, no quarto curro, sofreu toque, sem contudo esmorecer o toureiro. Mas mais empenho lhe vimos, quando o sexto lhe impôs dificuldades.
Um animal com 651 kg, tardo de investidas o qual o cavaleiro entendeu,
diminuindo distâncias, aguentando, carregando a sorte e cravando com eficácia.
Ressalvamos o 3º e o 5º ferro da ordem.
Nas
pegas, os toiros souberam pedir mais contas.
Pelos
Amadores de Lisboa, pegou Martim
Cosme Lopes à primeira, com o toiro a ensarilhar ligeiramente, para depois após
a reunião acusar falta de forças, aguentando-se o forcado na cara do oponente e
com o Grupo a ajudar com eficácia; Duarte Mira, bem à primeira, reuniu à
barbela com decisão; e João Varandas à segunda, a recompor-se na cara do toiro,
depois de no primeiro intento, e ao dar vantagens ao toiro, este ter
ensarilhado tanto que era impossível concretizar a reunião.
Pelos
Amadores de Coruche, Miguel Ribeiro
Lopes à primeira efectivou uma boa pega; João Ferreira concretizou uma grande
pega, com impacto e aguentar a investida com pata do toiro, estando o Grupo
coeso a consumar; e António Tomás, a dobrar Miguel Raposo que saíu lesionado após
a violência dos derrotes. António Tomás só consumou ao seu quarto intento, a sesgo
e com ajudas carregadas, após várias duras tentativas.
Dirigiu
a corrida, Tiago Tavares que demonstrou
elevado nível de exigência – como deveria ser em todas as praças e por todos os
‘inteligentes’ – ao não conceder a volta na 1ª lide de António Telles e na 1ª de
Moura Caetano - mas não soube corresponder com critério igual em todas as
actuações. Afinal, as voltas à arena são prémios e não, uma banalidade
obrigatória.
Para
além da falta de voltas, há sim a lamentar, a falta de atenção por parte da
empresa, que considerou, e muito bem, um minuto de silêncio em memória do recentemente
falecido maestro Amadeu dos Anjos mas se esqueceu, que naquele mesmo dia
falecera o Dr. Ramón Vila, médico-cirurgião da Real Maestranza e que de muitos
toureiros cuidou.
Patrícia Sardinha