Crónica de Coruche: “Querer é poder”

NATURALES
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No meio da mesmice que são a maioria dos cartéis que, temporada após temporada, os senhores empresários nos vão presenteado, surgiu ao romper deste ano, o anúncio de um cartel diferente, interessante e de expectativa para 27 de Maio em Coruche. 

Um “mano a mano” entre dois dos jovens cavaleiros que mais alento nos dão actualmente: Francisco Palha e Luís Rouxinol Jr., se bem que entre ambos vai uma considerada distância em “experiência”, já que o primeiro tem quase uma década como cavaleiro de alternativa e o outro está ainda a cumprir o seu primeiro ano como profissional. Contudo, os dois estão num bom momento de afirmação e, verdade seja dita, ficou-nos de Setembro passado uma picardia, que nenhum dos dois quer assumir, mas que todos os que lá estivemos sentimos que aconteceu, e como tal justificava-se este encontro. 

Para o “duelo”, arranjaram-se toiros da afamada ganadaria Palha. Bem apresentados mas de pouca cara no geral, daqueles que pediam ofício mas que à excepção do segundo e quinto da ordem, foram animais reservados, a quem era necessário provocar investidas, sendo que um ou outro houve que cresceram com o decorrer das actuações. 

Francisco Palha logrou três lides homogéneas de conteúdo. Frente ao primeiro, um toiro com 510 kg, que se fartou de raspar e a empregar-se pouco, Francisco passou discreto. Montando o “Favorito” houve por parte do ginete boas intenções nas sortes mas acabou por consentir algumas passagens em falso. Foi bom e com verdade, o quarto curto com que encerrou esta actuação. O cavaleiro cresceu na sua segunda lide frente a um toiro com 560 kg, que veio a mais. Um bom ferro em sorte gaiola serviu para agarrar o toiro e o público, e nos curtos, montando o Roncalito, evidenciou boa brega e a cravar com sortes de largo. Finalizou a sua prestação em Coruche, com um bom toiro de Palha, com 610 kg, que o que tinha em peso, tinha em generosidade, sendo nobre, e o qual o cavaleiro aproveitou para repetir sortes de praça a praça, aguentando depois a meia distância e deixar a ferragem com impacto nas bancadas. Pecou por, uma ou outra vez, se auxiliar do peão de brega na colocação do toiro junto às tábuas, quando nos teria caído melhor tê-lo sido o próprio a fazê-lo. Ainda assim, Palha demonstrou em Coruche o momento seguro que vive esta temporada e garantidamente, a merecer lugar destaque em corridas de peso como se perspectiva. 

Luís Rouxinol Jr. foi protagonista de três actuações distintas e variadas e foi aquele a quem mais sentimos o sentido de competição. Na primeira, conquistou uma grande lide e de grande maturidade na qual se destaca o seu instinto toureiro. Tem sentido de lide, dos terrenos, de brega, resumindo: Lida o toiro! Uma faculdade que infelizmente se desvirtuou nas nossas arenas mas que não passa despercebida ao conceito toureiro do jovem de Pegões. Pela frente um “senhor” toiro, a cumprir 6 anos em Dezembro, com 505 kg, e que inicialmente saiu desinteressado mas a quem Rouxinol Jr. cedo cativou na montada, mantendo o toiro ligado o resto da lide. Nos curtos, e com o Douro, teve honras de música após o primeiro curto, numa actuação séria, de bons ferros e rematada com um palmito. Outro “passarinho” vimos frente ao quarto da tarde, animal com 530 kg, desinteressado, reservado, sem romper, andando a passo, de investida incerta, e que podia destapar qualquer outro toureiro com décadas de alternativa. Rouxinol Jr. voltou a estar correcto na ferragem comprida, para nos curtos, e montando o Girassol, sentir as dificuldades que a rês impunha. Ainda que sem toiro, pouco houvesse a fazer a não ser deixar a ferragem da ordem, que nem sempre resultou ajustada, sofrendo inclusive dois toques na montada, a verdade é houve determinação mas queríamos mais de Rouxinol Jr.. Veio isso a acontecer no toiro que fechou corrida, quando cravou bem o primeiro comprido em sorte gaiola. Quis a falta de sorte que o toiro saísse inutilizado, e apesar da não obrigatoriedade do regulamento na substituição da rês, a empresa assumiu o compromisso de sair à arena o sobrero. Em boa hora, e um olé à sensibilidade da dupla de empresários, que permitiu assim que Luís Rouxinol Jr. fechasse em grande a corrida. Pese embora o sobrero, com 545 kg, carecer de mais trapio quando comparado com os toiros anteriores, foi um animal que se deixou, sendo reservado para, e após, os ferros. Rouxinol Jr. voltou a evidenciar-se nos compridos, enquanto nos curtos e com o Amoroso, construiu uma actuação de ligação e arrimo, indo acima do toiro para cravar curtos de boa nota. No final, a surpresa, o seu primeiro par de bandarilhas em público, e que bem que foi, podendo dizer-se que agora está ainda mais Rouxinol! 

Nas pegas, também houve competição entre os Grupos de Forcados Amadores de Lisboa e os de Coruche, numa tarde em que se homenageou o antigo forcado Carlos Galamba que se destacou nos dois grupos como ajuda, havendo inclusive prémio em disputa, para o Melhor Ajuda, composto pelo próprio homenageado, e por Tiago Prestes e José Potier. 

Levaram a melhor os forcados da terra, sendo o prémio entregue a João Laranjinha (GFA Coruche), pelo ofício que protagonizou na sexta pega, tendo no entanto saído lesionado. 

Pelos Amadores de Lisboa pegou João Galamba que se despediu das arenas, e que ao quarto intento consumou a sua pega; Duarte Mira concretizou à segunda de forma correcta; e João Varanda à primeira e sem problemas. 

Os Amadores de Coruche tiveram na sua terra mais uma demonstração do bom momento que atravessam. Pegou o cabo José Macedo Tomás numa pega rija à primeira; Fábio Casinhas também à primeira e com uma grande pega; e o valoroso João Ferreira, que depois de ter aguentado uma enormidade a investida violenta do toiro, voltou a dar nas vistas com uma enorme pega consumada à segunda tentativa. 

Dirigiu sem problemas o sr. João Cantinho, assessorado pelo médico veterinário Dr. José Luís Cruz e de salientar ainda, a volta do maioral da ganadaria Palha a propósito do quinto toiro da corrida.

E numa tarde de casa cheia e ambiente, ficou registado que Querer é Poder! Os empresários quiseram, os cavaleiros também, os forcados igualmente…e quando se quer, tudo se pode! 



Patrícia Sardinha