A família Levesinho reconquistou no início deste ano, a possibilidade de gerir de novo os destinos da Praça de Toiros da sua terra, a centenária e mítica Palha Blanco, precisamente quando se cumpre uma década desde que os 'Levesinhos' se tornaram empresários daquela Praça pela primeira vez.
A uma semana da corrida de toiros que inaugura a Temporada 2018 em Vila Franca, o NATURALES esteve à conversa com Ricardo Levesinho, o rosto mais visível deste projecto, e falou-se sobre o afastamento da Palha Blanco em 2015, expectativas para esta época e o futuro...
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RICARDO LEVESINHO
"Esta Temporada está ganha no sentido em que anunciámos aquilo em que acreditamos"
NATURALES: Três anos depois o regresso à Palha Blanco,
e a uma semana do primeiro festejo da Temporada em Vila Franca, qual o
sentimento do empresário Ricardo Levesinho bem como o sentimento da sua
família?
Ricardo Levesinho: Um sentimento sincero, de muita
preocupação em corresponder às expectativas, que colocámos desde logo muito
altas a nós próprios. O nosso projecto, sendo um pouco à imagem
da que foi a nossa passagem anterior pela Palha Blanco e que durou 7 anos,
creio que terá agora um perfil mais maduro, mais competente e mais profissional.
Um projecto diferente mas com uma base de sensibilidade que queremos que se
mantenha pois é fundamental sentirmos o que estamos a produzir e a defender.
NATURALES: Cumpre-se este ano uma década desde que
pela primeira vez a Tauroleve geriu os destinos da Praça de Toiros de Vila
Franca. Sente que é caso para se aplicar o ditado popular: “O bom filho a casa torna”?
Ricardo Levesinho: Nós sentimos o desejo de regressar e acima
de tudo, sentimos unanimidade no desejo dos órgãos gestores da Santa Casa em
nos ter de volta. Essa vontade foi-nos transmitida após a decisão tomada, o que
nos orgulhou ainda mais pela forma como foi expressa. Foi muito bonito. Agora,
ali estamos, e é esperar que a nossa “casa” nos apoie e que consigamos
engradecer e fazer cumprir a nossa obrigação, que mais não é do que honrar
aquela “casa”.
NATURALES: Foi duro ter “perdido” o concurso à Palha
Blanco em 2015?
Ricardo Levesinho: Sim, foi! Foi um momento que, a mim
pessoalmente, custou muito. Senti-me mal, por vários motivos…
NATURALES: E como foram vividos esses 3 anos “longe”
dos destinos da Praça da vossa terra?
Ricardo Levesinho: De uma forma bipolar, se é que assim se
pode classificar. Inicialmente, houve necessidade de um afastamento total.
Depois, no início do segundo ano, demonstrei total disponibilidade em ajudar
algo que não estava bem e isso aconteceu com o meu apoio na selecção dos toiros
a lidar. Contudo, logo após as duas primeiras corridas, aconteceu um novo afastamento,
pois senti que a minha ajuda estava a criar entropia. Existia uma forma
diferente na importância a dar ao Toiro, pelo menos na minha forma de ver as
coisas, e que eu tinha a obrigação e o dever de respeitar. Acabei por me
afastar, pois o respeito como referi, tem que estar acima de tudo, e eu tinha que respeitar
quem colocava o seu nome como responsável máximo.
NATURALES: Nessa altura sentiu que de alguma forma
alguns dos que lhes davam palmadinhas nas costas, depois de ter ficado sem a
Palha Blanco, lhe viraram as costas? Ou sentiu-se sempre apoiado por todos?
Ricardo Levesinho: Senti um antes e um depois por parte de
alguns mas isso não nos afectou. São circunstâncias da vida e do mundo em que
vivemos. O que é importante são aqueles que gostamos e os que gostam de nós, e
que sempre estiveram presentes. Essa riqueza é que nos enche de força e nos faz
sorrir no dia-a-dia. Por mais dificuldades que existam, os especiais estão sempre
lá. Os outros são só os outros... Como me comentou um bom amigo há poucos
dias: “esses, nem os conhecemos”.
NATURALES: O regresso sempre foi objectivo?
Ricardo Levesinho: No início, isso estava fora de questão. Existiu
uma mágoa e ao mesmo tempo, também muitas dificuldades financeiras e ainda a
necessidade de reajustes pessoais importantes. Mais tarde, com a motivação
que nos foi dada por diversas situações que se iam passando, confesso que o
regresso começou a ser uma possibilidade e as circunstâncias da vida fizeram o
resto.
Ricardo Levesinho: Uma organização diferente, com pessoas
mais maduras e com um espirito de organização que prima pela partilha de
responsabilidades, o que nos permite a todos ter tempo para desfrutarmos deste
projecto, com capacidade para fazermos bem e ao mesmo tempo também desfrutarmos
da vida profissional e pessoal a 100% e não andarmos em esforço desmedido e
descontrolado.
NATURALES: E esse projecto, a
Temporada 2018 em Vila Franca, apresenta-se como a do “Toiro e da Arte”. Como
surgiu essa ideia e porquê essa denominação?
Ricardo Levesinho: Desde logo o Toiro como alicerce da nossa
imagem e acima de tudo da Festa. É através do toiro que começámos a desenhar os
nossos acontecimentos. A Arte porque a Tauromaquia é a mais bela forma de
exprimir a beleza, a emoção, o respeito pela história e pelo que deve ser
preservado.
NATURALES: Uma Temporada cheia de atractivos com a
realização de 5 corridas de toiros, 4 espectáculos de apoio à juventude e
1 espectáculo de recortadores. Um regresso e uma temporada ambiciosa?
Ricardo
Levesinho: Consideramos
que mais não é do que a junção de acontecimentos que, no local e de momento,
são aqueles que vão acrescentar valor a uma terra e a uma Palha Blanco com
quase 120 anos de História. Foram acontecimentos pensados e todos com um fio
condutor tendo em conta o presente e o futuro.
NATURALES: Falemos das corridas de toiros. Próximo
domingo, dia 6 de Maio, uma alternativa e uma homenagem à ganadaria Vale
Sorraia, por ocasião do 70º aniversário de antiguidade. Expectativas?
Ricardo Levesinho: Altíssimas! Cremos que é a corrida
certa e com os ingredientes que entendemos terem atractivos suficientes para o
sucesso. Duas grandes figuras como o António Ribeiro Telles e o Luís Rouxinol e
a alternativa do mais relevante cavaleiro praticante da actualidade, o David Gomes.
Dois grupos de forcados de topo como são Vila Franca e Coruche. Uma ganadaria
como Vale Sorraia que é reconhecida pelo trapio e emoção numa data marcante. E
ainda uma Feira das Tertúlias que terá este ano a sua primeira edição. São muitos
trunfos para conseguirmos que no final exista um sentimento de sucesso.
NATURALES: Também pelo Colete Encarnado, a 8 de Julho,
uma ganadaria volta a ser homenageada, neste caso a de Palha na
comemoração do 170º aniversário da sua fundação com um cartel em que pelo menos
uma aposta já esta ganha, a presença do matador Pepe Moral, um dos triunfadores
da Feira de Sevilha…
Ricardo Levesinho: Essa aposta
no Pepe
Moral, bem como nos demais, estará ganha com um triunfo na Palha Blanco. Das análises
que fazemos, introduzimos muitos factores para chegar ao entendimento sobre o
elenco que potencializa o sucesso. Ao partirmos para um elenco temos que sentir
que perante a ganadaria e tipo de toiro seleccionado estamos a criar condições
para que o sucesso esperado e ambicionado exista. E nesta corrida, os artistas
contratados foram aqueles que nos fazem acreditar pelas suas trajectórias mais
recentes.
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Ricardo, Rui e Augusto Levesinho - o regresso de uma Família à Palha Blanco (Fotografia: Emílio de Jesus) |
NATURALES: A
30 de Setembro, será realizada do 117º aniversário da inauguração da praça
de toiros Palha Blanco. Um festejo misto do qual se apregoa a presença de
uma Figura internacional. Já o tem escolhido?
Ricardo
Levesinho: Sim,
já…
NATURALES: Pela
Feira de Outubro, duas corridas, a 7 e 9. A primeira um Concurso de Ganadarias
e a 9, a corrida monstro do abono vila-franquense: mano a mano entre António
Telles e Diego Ventura. Escusado será dizer que vai esgotar…
Ricardo Levesinho: Foi a corrida que sonhámos e conseguimos
que esse sonho fosse aceite com gosto por duas pessoas, e dois artistas
fantásticos, que têm noção que são estes acontecimentos que dão categoria e
paixão, através de uma competição que creio que vai atingir níveis muito altos.
NATURALES: Foi difícil juntar estes dois figurões da
nossa Tauromaquia no mesmo cartel?
Ricardo Levesinho: Tudo tem as suas complexidades mas torna-se
acessível quando existe vontade e respeito total entre as partes e acima de
tudo, um entendimento geral que o que se deseja é fazer as coisas com
categoria.
NATURALES: Considera que é já uma Temporada ganha
pelos cartéis que conseguiram montar?
Ricardo Levesinho: Está ganha no sentido em que anunciámos aquilo
em que acreditamos, com total liberdade e sem condicionalismos, e isso sim, é a
maior vitória.
NATURALES: Mantém-se ainda na gestão dos destinos do
Coliseu Figueirense. Os tempos que correm permitem arriscar na gestão de várias
praças?
Ricardo Levesinho: As fórmulas certas são difíceis de atingir
num espectáculo que vive 95% do que resulta da bilheteira, ao contrário das
outras formas de cultura que vivem em situação inversa. Existem dificuldades se
não existirem argumentos ou trunfos e isso é uma limitação. Sem argumentos de várias
ordens tem que existir muito cuidado.
NATURALES: E como empresário e aficionado, como vê o
estado da Festa actualmente em Portugal?
Ricardo Levesinho: Vivemos todos preocupados, pois é uma
actividade que vive coagida por uma sociedade limitadora de direitos e
liberdades. Uma cultura histórica que não é defendida por patrocinadores
recentes, porque os mesmos são ameaçados por estruturas profissionais e de
carácter abolicionista. E, ou pedimos à Justiça para funcionar através das estruturas
competentes ou torna-se difícil, pois sem riqueza tudo vai abrandando...
NATURALES: Se
tivesse que resumir numa frase o que diferencia as vossas ideias das demais
empresas, que diria?
Ricardo
Levesinho: Gostava
que respondesse por mim a essa pergunta...
NATURALES: ...A ver pelas suas respostas, diria que, mais do que um pensamento
comercial, tem uma visão muito romântica e sonhadora da Festa e principalmente,
uma paixão pela Palha Blanco… E, para rematar, agora que regressaram a Vila
Franca, é para ficarem mais um tempo de pedra e cal na Praça de vossa terra?
Ricardo Levesinho: Deus coloca-nos perante caminhos que vamos
percorrendo pouco a pouco mas gostaríamos que o percurso fosse
bonito e longo, com obstáculos obviamente mas ultrapassáveis … E que um dia, ao
vislumbrar um final, esse tenha uma versão feliz e nos faça sentir que valeu a
pena, isso será o mais importante. A ver vamos...