A
Praça de Toiros do Campo Pequeno inaugurou
esta quinta-feira a sua Temporada “Torista”,
com uma corrida que teve uma coisa boa…conseguiu ser mais ‘curta’ que o normal.
Valha-nos
isso, mas também a emoção e a verdade que nos deram os dois Grupos de Forcados
em praça, a casa cheia que se registou e o critério de um director de corridas
que cumpre com distinção o seu papel de autoridade, não se deixando levar nas
alegrias e nas palmas de quem às vezes vê na Festa dos Toiros, um divertimento.
Cada
cabeça, sua sentença…e daí, a diversidade de gostos e variedade de desempenhos
em praça. Contudo, a verdade do Toureio a Cavalo, essa é só uma e tem regras e
sortes, que por vezes são esquecidas (ou não sabidas) em detrimento da
facilidade e do aplauso infundado.
Talvez
por isso, seja esquecida a brega, a mudança do toiro dos terrenos, o ter o toiro
em sorte fixo na montada, o dar prioridade de arrancada à rês, o vencer-lhe o pitón e, o indispensável, concretizar as
sortes ao estribo…Mas, também talvez por isso, a sorte de caras seja a mais
difícil e importante.
E,
talvez por isso tudo, os nossos cavaleiros foram perdendo força e o toureio a cavalo
passou a ter maior “peso” quando protagonizado pelos “de fora”, aqueles a quem
alguns dos nossos tentam ‘replicar’ de má forma. Um deles, o rejoneador luso-espanhol Diego Ventura, assistiu à corrida de
inauguração da temporada lisboeta na bancada. Ai se fosse na arena…o baile
tinha sido outro, certamente.
Mas
voltando ao espectáculo… O curro de toiros de Herds. de Dr. António Silva tinha matéria para garantir êxitos
distintos, ainda que de comportamentos desiguais, nenhum houve que impusesse
complicação sem solução, melhores o segundo e terceiro do lote. De
apresentação, a corrida cumpriu. Foi ‘pesada’, na média dos 600 kg, sendo no
entanto animais de pouca cara, à excepção do terceiro.
Rui Fernandes foi quem tocou inaugurar o abono lisboeta frente a um toiro
com 650 kg, de nome ‘Desatino’. E realmente, desatinada resultou a lide do cavaleiro,
que não garantiu argumentos para uma actuação de registo. Se é verdade que o
toiro saiu com pata, o que ainda valeu um aperto nas tábuas a Rui Fernandes, não
menos verdade é que o toiro acabou por ser revelar fácil, perseguindo a passo
cadenciado na brega a duas pistas. Ainda assim, o ofício foi pouco consistente,
com demasiadas passagens e toques na montada. Não escutou música e não foi
concedida volta.
No
que foi segundo do seu lote, um toiro com 590 kg, de investidas mais curtas e
por vezes aos arreões, Rui Fernandes teve mais disposição mas ainda assim a
carecer na concretização, com algumas reuniões a resultarem à garupa. Baseou
função nos quiebros e resultou mais ajustado o 3º curto, chegando às bancadas
com o ‘balancé’ do “Artista”.
João Moura Jr. teve arrimo a receber o seu primeiro, um toiro
com 550 kg, de arrancadas prontas e que transmitiu, ainda que por momentos
tenha adquirido vocação nos terrenos junto às tábuas. O jovem cavaleiro valorizou,
como é seu apanágio, os cites de praça a praça, descurando por vezes a brega,
que quando lembrada, era efectivada com ladeios. Dos ferros que cravou, houve
verdadeiro mérito nos compridos, no terceiro curto e no palmito com que
encerrou função.
Mais
discreto passou no que foi quinto da noite, um toiro com 685 kg, mansote, que
procurou por vezes refúgio em tábuas e frente ao qual Moura Jr. andou mais
precipitado, partindo muitas vezes ao toiro sem este estar em sorte. Veio a
mais com o “Xeque-Mate” e os ladeios ajustados com piruetas nos remates.
João Telles Jr. teve como primeiro toiro do seu lote, uma rês com
624 kg, que sempre se fixou no cavaleiro, sempre em sorte com ele mas ao qual o
toureiro da Torrinha pareceu nunca encontrar sítio, limitando-se a cumprir com
a ferragem, dando privilégio a gestos vistosos, e pouco havendo de registo e
muito ficando por se ver.
No
que foi último da corrida, um toiro com 588 kg, reservadote, que raspou muito e
por vezes a querer encurtar caminho, Telles Jr. conseguiu evidenciar-se mais
face às dificuldades. Com o “Equador” encurtou distâncias, e logrou os melhores
ferros da sua actuação que chegaram facilmente às bancadas. Contudo, esgotado o
animal, entendeu o cavaleiro arriscar em ‘mais um ferro’, o qual tardou para
deixar, recorrendo ao violino como recurso.
No
que às pegas diz respeito, a verdade e a emoção foi outra. Dois Grupos de
renome, com história e uma ‘rivalidade’ antiga mas salutar, e que engrandece a
Festa.
Pelos
Amadores de Santarém pegaram
Francisco Graciosa que à terceira tentativa conseguiu consumar e com ajudas;
Lourenço Ribeiro teve braços e corpo, já que depois de se deparar com uma
reunião poderosa do toiro a arrancar-se com pata, ainda lhe suportou o peso,
com o animal a dar uma volta de ‘campana’. Concretizou à primeira. Também
António Taurino consumou à primeira uma pega rija e tecnicamente perfeita, com
o Grupo coeso a efectivar.
Pelos
Amadores de Montemor, deu o exemplo
o cabo António Vacas de Carvalho com uma grande pega à primeira tentativa, onde
o Grupo foi também eficaz; o valoroso Francisco Borges teve tudo para
concretizar um pegão, com o toiro a levá-lo por diante, bem reunido, até tábuas,
contudo acabou por se lesionar, sendo dobrado por João da Câmara que consumou com
uma pega rija; Francisco Bissaia Barreto encerrou funções, também ele a aguentar
a investida pronta e veloz do seu toiro, concretizando à primeira mais uma
grande pega da fardação alentejana.
A
corrida teve ainda a curiosidade de se ter iniciado às 21h45m, como todas as
outras que se seguirão em Lisboa, e sem intervalo. As cortesias, que se perspectivavam
mais curtas para “abreviar” a duração, acabaram “à espanhola”. Com isto,
poupou-se no mínimo uma meia hora. O suficiente para fazer diferença.
Dirigiu
o espectáculo com critério e exigência, o sr. Pedro Reihnardt, assessorado pelo
veterinário Jorge Moreira da Silva.
A
Praça registou ¾ fortes e aguardou-se um minuto de silêncio em memória das
várias personalidades taurinas falecidas neste defeso.
Por: Patrícia Sardinha