Header Ads

Feito com Visme

  • Últimas

    Artigo Opinião - Em Lisboa, procurando o Torismo...


    Se calhar já não venho a tempo de sentir a frescura dos primeiros comentários acerca da temporada no Campo Pequeno. Confesso que li poucos, mas o que li… Um mês depois do carnaval (na altura), e ainda a sofrer efeitos secundários?

    Contam-me que com a pompa e circunstância (aparentemente justificada) foi apresentada uma temporada torista em que 95% dos ferros são… comerciais! E isto até ao momento, porque faltam definir ganadarias e estou ansioso por saber que divisas duras e temíveis sobram para rematar a temporada… 

    Comecemos pelo início, nesta minha pseudo-análise que espero ser considerada não mais do que a opinião pessoal de alguém que mantém a mania de falar de toiros mesmo que as fraquezas do meio se convertam sempre em ofensividade perante ideologias mais sensatas, e principalmente, mais verdadeiras. E enquanto todo o meio (desde todos os que constam nos bastidores e considerando os aficionados também) for dando primazia ao engana-me que eu gosto, ou diz bem de mim porque me enche o ego… temos um abono que (excetuando duas ou três corridas), é facilmente convertido em qualquer praça de menor categoria em Portugal.

    O Campo Pequeno devia ser a praça dos cartéis que mais ninguém consegue montar, das corridas que todos os empresários dão saltos e metem as mãos na cabeça por não conseguir realizá-las, dos espetáculos que apenas pelo cartel se façam sentir como acontecimentos e não apenas mais uma quinta num espaço multifunções em Lisboa. E infelizmente, esta temporada 2018 no CP está como o San Isidro de Madrid… muchas tardes de relleno, pocas importantes.

    A corrida de abertura junta duas gerações, a em que Fernandes tem o seu historial, e a já conhecida rivalidade de Moura e Telles Jr. que parece cada vez mais fria e por isso, menos entusiasmante. Pede-se o pé no acelerador, vontade de comer a arena e ficar acima dos companheiros de cartel (aqui falo de todo o escalafón), porque se não vem cá um Ventura… (a única, e espero que esclarecedora, abordagem à contratação do rejoneador espanhol para tourear na nossa praça nº1.)
    O regresso dos Toiros Silva (uma das toristas) pode suscitar interesse e outorgar ao público uma grande noite, caso invistam e tenham resposta por diante, sendo que em termos de qualidade da forcadagem, é das noites mais consistentes neste campo… ainda assim, falta algo nesta data. Conclusivamente, um cartel que todos sabemos a lotação que vai alcançar, portanto, creio também ser esclarecedor com esta frase.

    A novilhada resulta em Lisboa, e é uma lufada de ar fresco todas as temporadas. Aspecto completamente positivo neste abono.

    A 17 de Maio lida-se uma corrida de David Ribeiro Telles (a qual eu não considero torista), para um dos cartéis que é de facto o nível que deveria manter sempre o Campo Pequeno. Três toureiros, três gerações e três estilos para uma noite que por certo levará gente à capital. Tal como os toureiros, os forcados dispensam muito vocabulário dado o seu historial.

    A 7 de Junho, corrida comemorativa dos 40 anos de Alternativa do Maestro Moura… Cartel familiar da Casa Moura. Já visto, já feito… mas a sensibilidade e carinho de um Pai/Tio acredito ser muita e a elaboração deste cartel acaba por justificar-se. Curiosamente, temos mais três divisas toristas apresentadas: Coimbra, Romão Tenório e Torre d’Onofre. Torismo puro!

    A extraordinária corrida de OPORTUNIDADE extra-abono parece-me uma boa oportunidade para compará-la a um festival de início de temporada numa aldeia de 500 habitantes.
    É compreensível que todos gostavam de estar no Campo Pequeno, que todos creem ter méritos para tal, que todos se esforçam e muitas vezes ingloriamente para conseguir mais e alcançar mais… mas nestes casos a função da empresa é sempre ingrato e terá sempre de ser discriminatório perante os bons e os menos destacados, ainda que lhes valha o apreço pela boa vontade e sentido em preocupar-se ainda com quem não deu o salto e precisa da oportunidade. Veremos o que muda depois disso…
    A ganadaria Veiga Teixeira merecia um cartel de maior relevo, e julgo não ter de me explanar mais. Mas os que são bons, bravos e enchem a arena incomodam muito! Esta sim, e com méritos, uma divisa séria e torista.

    Manzanares e Morante deixaram ambiente nas suas passagens por Lisboa, sendo por isso expectável ambos regressos. Juntamente com João Ribeiro Telles, rematam o cartel estrela e mais apetecido da temporada, dos que já dá para falar e criar expectativas. Este (se bem que é difícil), é o nível que se pede sempre para o Campo Pequeno… Mais um ferro torista como é o de Paulo Caetano (espero que quem perca tempo a ler-me, que goste de ironias, afinal de contas acalma sempre um pouco os ânimos);

    No dia 19 de Julho anuncia-se um concurso de Pegas, e a minha análise à seleção de todos os grupos contratados para o abono, vai cingir-se a este parágrafo: muita oportunidade, vários grupos a justifica-las, outros nem tanto; os históricos e de primeira linha estão nos postos que alcançaram pela sua notoriedade, notando-se a falta de alguns grupos com méritos e em crescimento que deviam constar no abono, havendo ainda um reparo negativa para o número de corridas em que pegam três grupos de forcados. Neste concurso pegam os Amadores de Ribatejo, Chamusca e Cascais. Parece-me ingrato para um grupo que vence por dois anos consecutivos o concurso, estar há dois anos sem pisar a arena de Lisboa. O cartel tem o seu interesse, mas parece-me que Rouxinol poderia estar melhor cotado em relação à restante programação. Pinto Barreiros, o arquétipo do toiro bravo para a lide a cavalo, a ganadaria-mãe, uma grande ganadaria, mas um ferro que… desculpem, ainda não foi desta que acertaram no torista.

    Da mista de 2 de Agosto, gosto peculiarmente do detalhe de termos dois matadores portugueses a actuar no Campo Pequeno, e logo uma corrida de São Torcato, que já lidou toiros importantes (e a pé) em Lisboa. Divisa interessante mas quase sempre inesperada e por isso difícil de definir quanto a conceito, indo desde o nobre e superclasse ao enraçado e encastado. Seguramente dos cartéis que suscitará menos interesse no grande público. Cartel fraquíssimo.

    A corrida do emigrante mantém os moldes costumeiros (nada apelativos e sem força), também com três grupos de forcados e esta com uma grande novidade ganadera, sendo por isso, uma das mais interessantes a nível de toiros: Vale Sorraia vai lidar uma corrida em Lisboa. Ganadaria muito interessante, com cartel, reivindicativa da casta portuguesa, e seguramente, uma montra de beleza e trapío tão singular como a desta divisa.

    A comemoração dos 20 anos de alternativa de Rui Fernandes assinalam-se com a segunda presença no abono dos três cavaleiros em cartel (as quais acho excessivas): João Moura, Pablo e Fernandes. Dispensa comentários pelas carreiras que os três ostentam. Pegam dois grupos de primeira linha como são Évora e Alcochete, e vão lidar-se provavelmente toiros de Passanha (que é completamente justificável dado o momento que a divisa atravessa, e a qualidade da corrida ali lidada em 2017).

    Das corridas que faltam anunciar (23 de Agosto, 20 de Setembro e 11 de Outubro), sabe-se apenas que a primeira tem contratados os Amadores de Vila Franca e do Aposento da Moita. Estão confirmados também toiros de Murteira Grave, que hoje em dia já estará também um pouco mais distante do verdadeiro conceito de torismo... desculpando-me de antemão (e em relação às outas ganadarias também), se eu estou equivocado com os conceitos.

    A nível geral, era obrigatória a presença de alguns artistas (que a praça também carece, para seu bem e para o estatuto do seu nível), e um critério mais detalhado e mais brilhante para a elaboração de alguns cartéis… vá, a partir daqui já estou com total recetividade para me poderem esclarecer o que é afinal o torismo!

    Pedro Guerreiro