ANÁLISE 2017 - Toureio a Cavalo

NATURALES
Publicado por -


O Toureio Equestre em Portugal tem ao longo dos últimos anos pautado por um carecimento em arrebatar aficionados, em suscitar interesse e que o mesmo tenha continuidade, sem ser algo momentâneo ou com o prazo de enquanto “durar” uma montada capacitada de alguma habilidade.

Longe vão os tempos em que os nossos cavaleiros eram verdadeiras estrelas, motivando “disputas” de claques e seguidores, esgotando praças e garantindo motivos de emoção e suspense.

Hoje, a apatia de muitos dos toiros que saem à praça, aliada a uma cavalaria mais habilidosa que toureira, acaba por tornar o toureio tão mecanizado, repetitivo e expectável, que pouco ou nada nos vamos surpreendendo. Vê-se uma corrida de um determinado cavaleiro, sabe-se como serão todas as seguintes…

Ainda que a cada ano surjam novos nomes no que a ginetes diz respeito, a verdade é que o escalafón nos parece muitas vezes parado no tempo. Os nomes de topo, as nossas figuras, são as mesmas de há 15-20 anos, e são esses que continuam, felizmente, a sustentar o leme do navio que às vezes parece sem rumo. 

As dinastias vão tendo continuidade mas superar os feitos dos ascendentes, parece algo difícil de se atingir, e alguns ficam-se mesmo pelo caminho face à irregularidade ou pouca consistência em se manterem. Já os que surgem sem precedentes têm o caminho mais dificultado.

Contudo, existe um nome que, a mal ou bem, continua a mexer com a malta. Diego Ventura não é cavaleiro tauromáquico ao nível clássico, puro e do ‘marialvismo’. A escola dele é outra. Mas nas poucas vezes que actuou em Portugal em 2017, deu que falar em todas e pôs em uníssono a imprensa da especialidade em admitir que a performance de Diego Ventura dista uns bons metros da dos nossos cavaleiros. O luso-espanhol está no momento auge da sua carreira, senhor de uma grande segurança, bons cavalos, exímio equitador e ambicioso q.b.. Goste-se que não se goste das maneiras do rejoneio, muitas vezes (mal) imitadas pelos cavaleiros lusos, a verdade é que Ventura foi merecido destaque no que ao toureio a cavalo diz respeito na temporada 2017 pelas suas actuações em Estremoz, Moita, Santarém, Montijo, Beja e Vila Franca.

António Ribeiro Telles teve em 2017 umas das suas temporadas mais regulares dos últimos anos. Fiel ao seu estilo mantém a confiança, felizmente para nós, os que esta arte apreciamos, num toureio purista e num conceito clássico e elegante. Na temporada transacta, António foi em vários momentos, triunfador absoluto, e a isso também se deveu uma maior consistência e harmonia na parelha que formou com o cavalo “Alcochete”. Évora, Lisboa, Salvaterra, Caldas e Alcochete, foram algumas das praças que beneficiaram em 2017 da arte de António Telles.

A quantidade voltou a destacar Luís Rouxinol em 2017, naquela que foi uma temporada importante por si, a dos 30 anos de alternativa. E dentro dessa quantidade, o cavaleiro de Pegões logrou encontrar alguns destacados triunfos como aconteceu em Coruche, Nazaré, Alcácer do Sal. Ainda que 2017 lhe tenha decorrido num registo menos sonoro, muitas vezes teve que se afoitar frente aos piores animais dos lotes, como aconteceu em Lisboa, na corrida dos 125 da Praça, o que sobreleva os dotes lidadores do consagrado toureiro. No Montijo, encerrou-se com 6 toiros de distintas, e duras, ganadarias. Não lhe facilitaram a vida mas sozinho convenceu a uma enchente da praça.

Um dos destaques deste 2017 vai para João Moura Jr.. Ainda que dentro de um toureio monocórdico, em que as suas actuações são quase sempre impressas a papel químico, Moura Jr. teve uma presença feliz e segura nas arenas por onde foi passando, deixando não só ambiente como a certeza de uma maturidade adquirida.

Dos restantes, também João Telles Jr. se manteve em 2017 como um dos cavaleiros jovens mais seguro nas arenas, assim como João Moura Caetano, fiel ao seu conceito. A cavaleira Ana Batista, que em 2016 por motivos de saúde suspendeu temporada, reapareceu em 2017 como nova, cumprindo uma temporada regular e a dar nas vistas. Francisco Palha será certamente um nome para 2018, ainda que este ano nem sempre conseguisse actuações equilibradas do princípio ao fim, teve o dom de arrebatar e transmitir emoção. Luís Rouxinol Jr. entrou a meio da época para a categoria de profissional e não se intimidou com a concorrência, sendo um dos destaques de 2017. Integrou cartéis de importância e em 6 corridas que participou com prémios de melhor lide, conquistou 5. Manuel Telles Bastos deu nas vistas em 2017 em quantidade mas também pela importância de algumas das suas actuações. O maestro João Moura, ainda que por vezes a condição imponha já alguma limitação, foi presença em muitas praças. Já a garra de Sónia Matias não lhe deu em 2017 muitas oportunidades mas ainda assim, ganhou anos de vida e ânimo com uma encerrona muito digna na Nazaré.

Dos praticantes e amadores, a coisa andou mais escassa de argumentos. Ainda assim, António Prates e os irmãos Núncio parecem determinados. Francisco Correia Lopes sobressaiu pelas maneiras clássicas e à antiga; David Gomes assentou actuações essencialmente no país vizinho com um olho à alternativa em 2018. Das meninas, Verónica Cabaço andou desembaraçada e a pedir mais oportunidades; Cláudia Almeida é outra das ‘sobreviventes’ que se vai desenrascando; Soraia Costa apareceu em 2017 com ‘muita sede ao pote’ e Mara Pimenta pouco se viu por cá. 

Dos amadores, Joaquim Brito Paes manteve a costumeira disposição mas 2018 exige-lhe mais atrevimento para passar à próxima categoria.