Artigo de Opinião - Mera reflexão de um ano 'taurino'
Está a findar mais uma temporada taurina. Um ano
ciclicamente comum, e preocupantemente vago (pelo menos no que deve reter em
constância e força). Possivelmente a maioria até nem estará de acordo comigo,
pois a ‘mão’ dos agentes taurinos terá mais força, e o êxito será sempre a
palavra de ordem, mesmo que se ‘achincalhe’ e brinque com esta paradoxal festa.
O toureio a cavalo pede renovação a gritos. Ou pelo menos
assim entendo. Vivemos um ano praticamente nulo no que assenta em três pilares
base: qualidade/regularidade/projeção.
Há quem tenha qualidade mas não a consiga aliar a uma
constância de bons resultados, o que se torna pessoalmente ingrato e
alheiamente ingrato, pois num oásis desta dimensão é urgente uma corrente de
ar; Há os que são regulares, mas perdem-se dentro dos seus fracos argumentos, e
a regularidade que mantêm, mantém as poucas expectativas que temos; E há os que
têm projeção e popularidade, mas toureio nem vê-lo. Posto isto, considero que
em 2016, não houve um único toureiro que tenha conseguido assentar a sua
temporada nos fatores supracitados.
Contudo, assistimos hoje a uma globalização social nas redes
sociais de forma tão abrupta, que as ideias provavelmente estarão em filosofia
contrária à que exponho. Areia nos olhos?
Estão para romper ‘meia dúzia’ de jovens promessas, que
oxalá o tempo consolide e os bastidores do meio não os assuste…
Felizmente, assistiu-se durante esta temporada a 1/3 da
valorização que deve ter o toureio a pé. Digo com isto que estamos no trilho
certo, mas que em 2017 temos de fazer o dobro. E atenção (!): há toureiros em
Portugal com tanta (aliás, superior) qualidade como Juan José Padilla, sem
querer de algum modo desprimorar a figura icónica e heroica que constitui o
toureiro Jerezano. Mas tal como acontece no toureio a cavalo, há falta de
cultura taurina, há falta de conhecimento e critério. Porque um dia saltamos da
bancada e gritamos galhardamente ‘olé’ com um desplante (e respeito esse método
de conexão) na cara de um toiro, como no outro dia estamos calados quando
alguém liga uma série cingida e verdadeira, com os pitóns a roçar o traje de
luces e a fundir-se o toureio. Mas daqui podem surgir as mais diversas análises
e constatações, até porque por norma somos completamente ‘anti-pátria’ (na
minha modesta opinião).
Sinceramente quero acreditar que caminhamos com rumo, e
que com assento e vontade, chegamos lá. Aliás, chegamos onde queremos. Peço a
quem manda nisto das ‘touradas’, que não esqueça que temos cá Casquinhas, Ferreiras,
Velásquez, Dias Gomes, e muitos novos a rebentar com força e muita qualidade
(bendito ciclo de novilhadas das Escolas de Toureio!), Peseiro, Martins, Nunes,
D’ Alva, Silva, Santos… Permitem-nos sonhar?
A Bravura vai somando créditos, por cá e para lá das
fronteiras, e vivemos um período de reabilitação e ‘acreditação’ por parte dos
agentes taurinos de Espanha e França. O romanticismo e simbiose do que é a
criação do toiro de lide ultrapassa qualquer valor material ou moral, e só à
custa desse sentimento se mantêm (praticamente) todos os que ousam criar a
bravura.
Da Jaqueta das Ramagens à Jaqueta das trocas, vivemos numa
época em que ser Forcado é mais para arranjar namorada e ser integrado, do que
para sentir e defender uma criação da pátria. Entristece-me ver o ‘surto’ de
‘não forcados’ que abunda no meio, da hipocrisia e pouca camaradagem, do
vedetismo e falta de humildade. Todavia, existem valores que muitos ainda
teimam em incutir (e em boa hora), e a distinção, quer em praça quer fora dela,
é notória. Agarram-se muitos toiros, e pegam-se bem menos dos que deveriam. Mas
que interessa isso? A seguir há festa, namorada, e a maioria das fotos nem
mostra os erros cometidos, e o facebook dá para atualizar. Tal como o toureio a
cavalo e a pé têm regras, também a pega tem um conceito a ser respeitado e
evocado.
Empresarialmente houve quem abanasse águas (e em boa hora!),
quem arriscasse para petiscar, e quem arriscasse para petiscar com nível.
Invariavelmente, também houve quem não tivesse essa vontade, e grande parte da
‘cartelaria’ que se viu em determinados pontos foi disso reflexo. É, em meu
entender, um dos setores que carece de maior renovação e muita atenção no seu
tratamento.
Da imprensa apenas dizer que reflete em grande parte a festa
que hoje vivemos.
Sem esperança, mas com uma ingénua ilusão, que 2017 venha
rápido e traga bons ventos, que precisamos.
Pedro Guerreiro