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    Crónica da Corrida Mista em Lisboa: ¨Panem et circenses¨


    "Pão e Circo ao Povo", a política desenvolvida durante a República Romana e o Império Romano , não sendo necessariamente de leitura directa, poderá aplicar-se ao que foi mais uma Corrida de Toiros na Praça de Toiros do Campo Pequeno, e onde se deu ao 'povo', o que ele lá quis ir ver...

    Praça cheia, uma das melhores casas da temporada deste ano em Lisboa, um grande ambiente, e sim, viram-se e ouviram-se naquela noite, das maiores ovações que já presenciei em praça.

    Culpado? Juan José Padilla!

    O matador espanhol, que sempre foi 'populista' mas toureiro de ganadarias duras, ganhou estatuto de 'herói' aquando a grave colhida que sofreu em Saragoça em 2011, e que lhe condicionou a visão, passando a actuar com uma 'pala' no olho esquerdo.

    Padilla tornou-se então uma 'bandeira' na Tauromaquia, tido como exemplo de raça, valor e entrega.

    Em Lisboa, perante uma plateia ávida de o ver fazer qualquer coisa, nem que fosse acenar ao toiro, Padilla deu ao 'povo' o 'pão' e o 'circo', e as bancadas rejubilaram! Em troca, deu o 'povo' ao toureiro um lugar no 'Monte Olimpo', que é como quem diz, 'forçou-o' à Porta Grande da praça lisboeta.

    Um tanto ou quanto exagerada, diriam alguns, se ao milímetro avaliarmos o que realmente se viu de toureio mas, e agora cingindo-me a uma frase bem portuguesa, "o povo é quem mais ordena", e ali, mandaram as bancadas sob a batuta de Padilla.

    Recebeu o primeiro do seu lote de joelhos prostrados na arena e logo pôs a afición alfacinha no bolso. Ao tércio de bandarilhas já o animal começou a exibir a pouca raça e força, mais evidenciada na muleta, onde se ficou curto nos passes, numa faena muito adornada de desplantes. Duas voltas lhe foram concedidas.

    No que foi sexto da ordem, animal mais sério de apresentação e nobre de comportamento, Padilla teve mais eficácia no tércio de bandarilhas. Na muleta, aproveitou-se da condição do toiro para o fazer investir, ainda que algumas vezes em tandas despegadas, levando a rês para fora. Sobrou-lhe entrega e toiro à medida, onde foi séria uma tanda pela direita e de mão mais baixa, com uma faena bordada à medida do que o 'povo' quis ver. E de pé, só pararam de aplaudir quando cumpridas as 3 voltas necessárias para lhe abrir a Porta.

    Juan del Álamo voltou a Lisboa para impor um toureio sóbrio mas que, talvez por isso mesmo, menos interessante às bancadas. No seu primeiro, aplicou muletazos largos, de mão baixa, com temple e acoplando-se à investida do toiro que metia bem a cara na flanela. Isto foi tourear a pé.

    No último da noite, del Álamo, passou discreto de capote, para na muleta confirmar a pouca matéria para se luzir, com o toiro descomposto nas investidas, que o toureiro foi 'amestrando' logrando actuação em crescendo, onde foi notório o labor e a capacidade toureira do jovem matador.

    Na parte equestre, quis a cruz de Luís Rouxinol (pai), resultar numa prova de fogo para Luís Rouxinol Jr., a primeira vez que lidou dois toiros a solo em Lisboa.

    Antes disso, pai e filho abriram a noite com uma actuação a duo, que resultou com ligação, frente a um toiro tardo nas reuniões.

    Depois, uma lesão nas costas levou o cavaleiro 'sénior' de Pegões a recolher à enfermaria, assumindo o filho as lides de dois toiros.

    E aí, pode ter pesado a responsabilidade, o inesperado mas também o facto de saber ter o pai, a quem se conhecem as qualidades de um lutador, agora 'derrotado' à dor. Ainda assim, Luís Rouxinol Jr. evidenciou a garra que já lhe é característica para se aguentar com o que não contava, ter finalmente duas actuações a solo no Campo Pequeno.

    Frente ao primeiro, um toiro sem raça e de pouca transmissão, que cedo se rachou, Luís Rouxinol Jr. descompôs a intenção de uma sorte gaiola com o cavalo a negar-se à investida do toiro, corrigindo com uma brega vistosa e eficaz. Cumpridor nos compridos, nos curtos foi mais habilidoso na brega do que na concretização da ferragem, sendo de boa nota o último ferro que deixou em terrenos de tábuas e a curtas distâncias.

    Perante o segundo do seu lote, Rouxinol Jr. andou mais seguro e voltou a demonstrar sentido de lide perante um manso que se defendia, fazendo uso dos ladeios cingidos e tendo por intermediário o 'Douro', sempre do agrado das bancadas. Desembaraçado com a ferragem, o jovem cavaleiro rematou actuação com um bom palmito.

    Nas pegas, estiveram em praça os Amadores do Barrete Verde, sendo forcados da cara, Diogo Amaro, que no primeiro intento sofreu forte derrote do toiro, citando depois com mais calma na 2ª tentativa, que efectivou com raça. O cabo Marcelo Lóia consumou à primeira uma pega em que o toiro levou sempre baixa a cara na viagem; e Rui Gomes efectivou também à primeira e sem problemas.

    Lidaram-se toiros de Varela Crujo, grandes, bem apresentados, com menos cara os destinados à lide a pé, de pouca transmissão e força, mansos e sem raça no geral, destoando o lidado como sexto da ordem.

    Dirigiu a corrida, o sr. Tiago Tavares, que 'embarcado' em todo o ambiente e na 'exigência' do público, foi benevolente na concessão de música e voltas.


    "Pão e Circo ao Povo"...e no final, a Porta Grande a Padilla!








    Por: Patrícia Sardinha