Terminou ontem com a tradicional 'Miurada' a 'Feria de Abril' de Sevilha.
A tarde ficou marcada pelo heróico e corajoso regresso do matador Javier Castaño, que após superar o tão malogrado cancro, voltou aos 'ruedos' para se enfrentar com uma corrida de Miura, que surpreendeu pelo bom tranco e fundo dos seus enigmáticos toiros, sem a aspereza habitual.
Castaño escutou ovação em ambos toiros de seu lote, escutando também a maior ovação da tarde, tributada pelo carinhoso público que se sentou nos tendidos da Maestranza.
Rafaelillo é um toureiro poderoso e de uma raça desmedida. Enfrentou o seu lote de peito aberto e com vontade de triunfar, tendo logrado um troféu no seu segundo, após ter sido ovacionado no primeiro.
Manuel Escribano, que voltava à Maestranza após o histórico indulto de 'Cobradiezmos', com a moral em alta, teve pela frente o lote menos potável da lendária divisa sevilhana, tendo escutado ovação no primeiro, e sido silenciado no último.
Em traços gerais, a Real Maestranza albergou motivos suficientemente contundentes para que o interesse e a importância fossem uma constante no seu 'albero'.
A segunda semana superiorizou-se em termos qualitativos à primeira, ocorrendo factos realmente importantes para a feitura da história na praça sevilhana.
Momentos como o indulto do enorme 'Cobradiezmos', muitíssimo bem lidado pelo sevilhano Manuel Escribano; a lide pura e verdadeira de Paco Ureña a um grande toiro de Victorino Martín, tendo logrado dois troféus; a faena de antologia de Morante de la Puebla a um toiro com qualidade de Núñez del Cuvillo, numa tarde em que a superação e valor de uma figura como 'El Juli' foram marcantes; a histórica e ambicionada 'Puerta del Príncipe' do lutador e toureiro de legiões Juan José Padilla, que cortou três orelhas a dois toiros de Fuente Ymbro.
Num patamar de salutar, embora não tão engrandecido, há a destacar a belíssimo tarde de Pepe Moral, frente a um bom encierro de Torrestrella; o regresso, ainda que algo aquém, de David Mora; as intenções de Jiménez e a grande decisão e poderio de Rafaelillo; a grande dimensão e nível de toureiros como Enrique Ponce, José María Manzanares, López Simón, Andrés Roca Rey e José Garrido, que fizeram manter o interesse para o decorrer da temporada;
No capítulo ganadero chegou a temer-se o pior, com o interesse a cair quase na totalidade para a segunda semana de Feira. Núñez del Cuvillo teve duas corridas distintas, a primeira de jogo mais desluzido e com menor potabilidade, contrastando com a segunda, onde a classe, ritmo e nobreza foram determinantes ao sucesso da tarde; A 'miurada' saiu fora do comum, 'enclasada', nobre e com ritmo; A principal referência nesta Feira de abril de 2016, é, sem qualquer dúvida, a grande corrida de Victorino Martín, com três grandes toiros, sendo que 'Cobradiezmos' fez a Maestranza estalar e jubilar com a sua bravura, a sua magnitude, a sua alma. Estavam concentradas em sim todas as virtudes e condições que um ganadero ambiciona num toiro: 'fijeza', 'prontitud', transmissão, mobilidade, alegria, investida humilhada, nobreza, duração, enfim... BRAVURA!
Nas duas corridas de 'rejones', a espectacularidade e a explosão para a bancada foi o que mais se verificou, perante dois curros amorfos e sem qualquer poder. A passagem do português Rui Fernandes pela primeira corrida a cavalo da feira não resultou gloriosa e o labor do ginete luso não foi suficiente para alcançar uma posição de relevância.
Andrés Romero e Diego Ventura foram os dois rejoneadores que maior impacto causaram, sem contundo conseguirem abrir a 'Puerta del Príncipe'.
A exigente, embora cada vez menos, Real Maestranza, fecha agora as portas do seu 'ruedo', que reabrirão em maio para o ciclo de novilhadas... Uma feira que não teve a dimensão pretendida, mas em que os momentos que valeram a pena se superiorizaram aos de menor categoria!
Fotografias: D.R.