Numa interessantíssima entrevista concedida à revista 'Novo Burladero' na secção "Que é feito de si?", o retirado cavaleiro tauromáquico Frederico Cunha, põe a nú com toda a frontalidade e exigência, aquilo que de facto é, hoje em dia, a Festa dos Toiros em Portugal.
A reportagem inicia-se traçando o percurso do cavaleiro e é quando se aborda o presente que a opinião de Frederico Cunha relata com clareza o que muitas vezes hoje assistimos em praça. Do toiro ao cavalo, passando pelo domínio actual dos rejoneadores espanhóis no Toureio a Cavalo, Frederico Cunha expressou-se assim:
"Com este tipo de toiros que se toureiam agora, que pouca ou nenhuma emoção dão, vamos às praças e ao segundo ou terceiro toiro já estamos fartos da corrida. Os toiros não investem, caiem, a maior parte das vezes é uma monotonia. As corridas de agora têm muito menos emoção. Essa é a grande diferença que existe entre os meus tempos e os de hoje."
"Agora só querem cavalos que andem de lado, que façam números, que dêem as mãos, que façam piruetas (...) O cavalo hoje está feito para o 'número', não está feito para tourear. Cada um tem o seu número, que era uma coisa que antes não existia. Dantes, toureava-se."
"O problema é que os rejoneadores espanhóis começaram a fazer aqueles 'números' com os cavalos (...) Os cavaleiros portugueses, em vez de continuarem a nossa tradição, não! Vá de imitá-los! (...) Ao tentar imitá-los, perdemos o comboio. E não há dúvida que hoje, quem controla isto tudo, é o Pablo e o Ventura! (...) Hoje no Campo Pequeno, aquilo só está cheio se vier o Ventura ou o Pablo. Parece que vão lá só bater palmas a eles (...) Antes, o público tinha gosto que os portugueses estivessem por cima dos espanhóis."
Uma entrevista conduzida por João Queiroz, para ler na íntegra na edição de Novembro com o n. 322 (págs. 40-45).
Fotografia: Emílio de Jesus/farpasblog.blogspot.com