Crónica 15 de Agosto em Reguengos: "Os finais…"
Existem corridas e lides que muitas vezes mais valia avançarmos os inícios e só vermos os seus finais; outras que mais valia que lhes cortássemos o final… Mas o que importa mesmo, é quando o final é em Festa e que quem paga, sai satisfeito da praça.
Foi quase isto que aconteceu na tradicional corrida do quinze de Agosto em Reguengos de Monsaraz, uma tarde de casa cheia, ¾ fortes, longe do calor abrasador que por esta altura é hábito viver-se aqui e que terminou com grande ambiente.
E antes de irmos ao final…temos que começar pelo início, onde a empresa ‘Verdadeira Festa’, em nome da afición de Reguengos, prestou homenagem aos 50 anos dos Amadores de S. Manços com o descerrar de uma placa no pátio de quadrilhas.
Lidou-se um curro de Murteira Grave, pequenotes de tipo, uma linha diferente da ‘criação’ e do fenótipo estabelecido pelo saudoso eng. Joaquim Grave. Animais bem apresentados, variadas capas, sendo no geral mansos mas a transmitirem com raça, mais reservados o segundo e terceiro da ordem, e de melhores condições o primeiro e o sexto. Sendo que o último teve inclusive honras de regressar a casa, Galeana.
Luís Rouxinol abriu a tarde frente a um nobre toiro castanho, com 510 kg, onde se evidenciou nos ladeios com o Ulisses, levando o toiro muitas vezes adiantado na perseguição, arrimado quase à mão do cavalo, e falamos de um ‘grave’, não do ‘boi da corda’! Cumpriu com a ferragem, que rematou com um palmito e o par com eficácia. No segundo do seu lote, toiro com 470 kg, que perseguia com codícia mas ao mesmo tempo facilmente se distraia e desligava do cavalo, Rouxinol teve que o manter sempre debaixo de olho, encurtando terrenos, fixo na montada e foi-nos permitido voltar a ver a ‘Viajante’ aguentar-se a escassa distância na cara do oponente para depois ser cumprida com êxito a ferragem, com destaque para os três últimos curtos. No final exigência das bancadas para mais um, e Rouxinol rematou com dois…palmitos.
Vítor Ribeiro foi a Reguengos com disposição para dar o seu melhor e fê-lo. Mesmo quando teve pela frente como primeiro do seu lote, um toiro com 480 kg, que apesar da saída alegre e enraçada bem recebida pelo ‘Soneca’, cedo se rachou, sendo nobre mas de pouca perseguição. O cavaleiro acabou por meter ao serviço as suas montadas para sacar o máximo partido do toiro. Citando geralmente de tábuas, partindo recto e com o toiro fixo nos médios, assim lhe cravou os ferros. Rematou a lide com um violino, estando o cavaleiro por cima do oponente. Frente aquele que foi o quinto da tarde, com 515 kg, Ribeiro voltou a mostrar muita disposição e intenção das sortes bem desenhadas, com uma actuação bem conseguida e de onde destaco o quinto curto, de frente e ao estribo!
Filipe Gonçalves mostrou-se pela primeira vez aos aficionados de Reguengos naquela praça e foi dos casos em que muitas vezes, vale pelo final. Pois pese embora não ter iniciado qualquer uma das suas lides como desejaria, deixou bom sabor de boca aos reguenguenses. Primeiro frente ao mais complicado da tarde, um manso reservado, com 500kg, que investia com arreões, e onde Gonçalves nem foi sempre feliz na colocação da ferragem. Ao quinto curto partiu de tábuas, avançou uns metros, aguentou…fez a batida e redimiu-se com um grande ferro. Ganhou segurança e quis repetir a proeza para depois ter consentido uma passagem e só depois então ter efectivado mas sem o mesmo impacto. Não deu volta. No que fechou tarde, uma estampa de toiro, com 490 kg, o melhor da corrida, com raça, transmissão, e sempre pronto a investir, Filipe Gonçalves não podia desperdiçar a oportunidade de brilhar com o seu toureio variado. Mas a verdade é que voltou a não iniciar a gosto, andando intermitente na colocação da ferragem, assente nos quiebros. Foi com o ‘Zidane’ que encontrou sítio para deixar um bom curto e o par, que consumou ao segundo intento e de uma forma perfeita, com o toiro no centro da arena. Mas foi o “Xique” que lhe garantiu a saída de forma êxitosa de Reguengos, com o público rendido à garra do cavaleiro e às ‘palmas’ da montada, com a qual deixou dois violinos.
Nas pegas nem sempre foi fácil a tarde.
Pelos Amadores de S. Manços, iniciou função Nuno Pitéu, que consumou à segunda, depois de no primeiro intento o toiro ter baixado e cara e ele ter saído. À segunda o toiro repetiu proeza mas o forcado foi eficaz na reunião. Pedro Fonseca no primeiro intento fechou-se rijo à cara do toiro mas já depois do grupo estar reunido, a pega ficou desfeita. À segunda efectivou bem. Pedro Galhardo depois de três intentos não conseguidos, com o toiro a meter alta a cara, acabou por se lesionar e ser dobrado por Pedro Pontes que consumou com ajudas carregadas.
Os forcados da terra, de Monsaraz, brilharam em casa. Deu o exemplo o cabo, Ricardo Cardoso, à primeira e sem problemas, com o toiro a ir pelo seu caminho e o grupo coeso a consumar. David Silva não reuniu bem no primeiro intento mas realizou um pegão na segunda tentativa, estando eficaz a aguentar a viagem. E André Mendes na melhor pega da corrida, valente e rija, com o toiro a levá-lo sempre alto na viagem até ao grupo.
No final, quis-se ainda que o ganadero fosse presença na volta à arena pelo bravo sexto, pedido que o Dr. Joaquim Grave acabou por não optar fazer, provavelmente porque tenha feito as contas ao curro em geral e não só por um toiro. Embora cada vez mais assistamos a este gesto das voltas dos ganaderos, banalizadas desde que apareceu a implementação do ‘lenço azul’ (justificadas por um toiro menos manso ou mais bem apresentado, quando todo o resto do curro não serviu).
Dirigiu a corrida o sr. Agostinho Borges, assessorado pelo veterinário Matias Guilherme, numa tarde de casa cheia e cujo final foi em ambiente festivo.