Crónica da Corrida de Toiros em Salvaterra "O toiro foi a Salvaterra" - 12 de Abril

NATURALES
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O Toiro foi a Salvaterra
Se é verdade que os olhos também comem, então ontem de Salvaterra viemos saciados. Tendo em conta os tempos que correm, ver um curro com a apresentação daquele de Vale Sorraia, já valia meio bilhete.

Para não falar, e ainda que cada qual com o seu feitio, que em comportamento transmitiram, levaram emoção às bancadas, com raça e isso é o restante caminho para se passar bem a corrida.

E como esta corrida de domingo à tarde era daquelas em que corríamos o risco de ver ‘toiro’ e não ‘cavalo’, apenas meia casa se registou. E assim temos pena…de quem não foi!

António Telles deu-nos a esperança para uma temporada muito inspirada da sua parte. Abriu corrida frente ao primeiro, com 530 kg, um toiro que foi colaborador o suficiente para António se exibir logo com três compridos corretamente deixados. Antes de dar sucessão aos curtos, o cavaleiro da Torrinha mostrou que todo ele é uma verdadeira escola, e um gosto de ver, na forma como brega e muda o toiro de terrenos, parando-o no centro, para depois cravar o primeiro ferro curto com correcção. No segundo, quis ir lá mais acima, o toiro apertou e ainda consentiu um toque. Cravou mais dois ao terminar a lide que acabou por passar morna, principalmente se a compararmos com a sua segunda actuação, que foi uma lição. Não só porque o toiro, com 490 kg, transmitia de verdade, metendo a cara cá em cima no momento das reuniões e se arrancava com alegria ao cite, como também da parte do cavaleiro se sentiu mais disposição, classe e arte. Montando o Alcochete, as sortes foram como nos ensinam as regras, rectas, à cara e com verdade, e fica-nos aquele primeiro curto, cingido, de alto a baixo, e como os livros de antigamente contam que deve ser. Os que a ele se seguiram foram do mesmo registo, ainda que alguns pequem pelo excesso de velocidade no momento da verdade.

Luís Rouxinol andou fiel a si mesmo, com um conceito que agrada e é reconhecido sempre nas bancadas perante a sua entrega em cada actuação. No primeiro, um toiro imponente com 600 kg, que se revelou distraído e solto nas perseguições às montadas, Luís fez uso do Ulisses para levar o toiro na brega, com os ladeios que fizeram soar os primeiros aplausos fortes da tarde, a que se seguiu um bom primeiro curto. Encurtou distâncias para deixar o segundo, consentiu uma passagem em falso antes do terceiro, e começou-lhe a faltar toiro nas reuniões, o que retirou alguma transmissão à ferragem. Rematou com um bom palmito. No segundo do seu lote, um toiro com 470 kg e uma cornamenta que chegava para dar e vender, Luís Rouxinol voltou a andar muito arrimado. Com o Douro nem sempre foi feliz na ferragem com o primeiro comprido a resultar traseiro. Melhorou no outro que deixou. Exibiu-se na forma como este cavalo leva embargado o toiro na garupa, em ladeios que mais uma vez fizeram as delícias de quem assistia. Acusou um toque após o primeiro ferro, de tanto que consente a montada ‘roçar-se’ no toiro nos remates das sortes. Já com a Viajante vimos o melhor de Rouxinol ao segundo ferro curto da sua lide. Partiu de tábuas, encurtou a distância e perante um toiro tardo de investida, aguentou o suficiente para se sentir que a égua tem um coração enorme. Ao estribo, de alto a baixo, cingido, como se quer e gostamos de ver, assim foi ele! Deixou ainda outro mas ao qual, e depois daquele segundo, já não vimos tão brilhante. Com o Antoñete rematou função, deixando um palmito e o habitual par de bandarilhas.

António d’Almeida tinha todos os motivos para se sentir apertado não com os toiros mas com as figuras com que ombreava. Mas o jovem cavaleiro, e para quem não tem assim tantas oportunidades, desenrascou-se! Frente ao primeiro do seu lote, animal com 625 kg, alto, imponente, há que salientar o momento da brega do bandarilheiro Manuel dos Santos ‘Becas’, de verdadeiro toureiro, pela forma como recebeu o toiro. António d’Almeida começou por acusar alguma pressão no início da lide, consentindo passagens em falso para deixar os compridos, mas veio ganhando confiança e virou o jogo. O toiro revelou apetência para a querença natural, e o jovem cavaleiro logo mostrou empenho para o tirar das tábuas, dando-lhe boa brega. Na ferragem, oscilou entre momentos de grande correcção na forma como abordava o toiro, indo à cara do oponente e com alguns ferros a resultarem de boa nota, com outros em que a sorte saíu mais atravessada. No último da tarde, animal com 520 kg, António d’Almeida voltou a demonstrar grandes capacidades para crescer como toureiro, numa actuação de menos a mais. Depois de dois compridos e um curto menos cingidos, o jovem cavaleiro ainda se deixou apanhar quando perdeu a ‘cara’ ao toiro durante o remate da sorte, procurando-o de um lado e o toiro surpreendendo de outro. Caiu cavaleiro e montada e o toiro a investir sem que o toureiro conseguisse dali sair. Valeu-lhe o ‘rabejador’ Luís Rouxinol, sempre ao quite neste tipo de acontecimentos… Recomposto que estava, o praticante arrimou-se em quiebros, destacando-se o terceiro, a curta distâncias e que foi realmente impactante.

Nas pegas a emoção foi outra, com bons desempenhos de ambos os Grupos.
Por Lisboa pegou nessa tarde, João Galamba concretizou à segunda com o toiro a arrancar-se pronto, o forcado a recuar, a reunir correctamente e o grupo coeso a consumar, depois de um primeiro intento em que o toiro não estando fixo e se arrancou, derrotou alto e atirou o forcado para fora; Daniel Batalha muito bem à segunda, numa pega rija, depois de na primeira tentativa não ter reunido bem; e Martim Lopes à primeira, com o toiro a levar a cara baixa toda a viagem.

Pelos Amadores de Salvaterra pegou Nilton Milho à terceira a aguentar praticamente sozinho a viagem, e depois de dois intentos em que num rodou na cara do toiro no momento da reunião, e no segundo lhe faltou ajuda; Ruben Pratas consumou muito bem à primeira; e Luís Carrilho fechou em grande a tarde, com um pegão perfeito do princípio ao fim. Citou com calma, mostrou-se ao toiro, aguentou quase uma eternidade na cara do animal até que este se arrancasse, e quando o fez, reuniu correctamente e viajou sozinho até às tabuas, com uma alegria na pega que o toiro quase o meteu dentro da trincheira.

Dirigiu a corrida sem problemas o sr. Lourenço Luzio, assessorado pelo veterinário Miguel Matias. Foi concedida volta ao representante da ganadaria, Manuel Telles, após a lide do quinto toiro.