"Preciso que me apoiem neste esforço que vou fazer para que o meu país tenha orgulho num toureiro português"
'El Juanito' tem ainda feições de miúdo mas frente a uma rês brava tem demonstrado todo o toureiro crescido que é! Natural de Monforte, aos 4 anos já aprendia a tourear, fruto da ocupação do pai, que é bandarilheiro de profissão. Aos 9 anos debutou no Campo Pequeno e marcou pela imensa graça toureira de um miúdo pequeno mas enraçado. Aos 13, inscreveu-se na Escola de Toureio de Badajoz e desde então aí se tem formado e inclusive, agora com 16 anos, já é uma estrela da televisão extremenha. Dia 25 de Abril, Juanito encerra-se com seis novilhos em Villanueva del Fresno, localidade espanhola a 14 km de Portugal.
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NATURALES:
Tens 16 anos, és ainda um miúdo mas se formos bem a ver, e aos anos que andas
metido no toureio, podíamos dizer que já tens uma longa carreira. Lembras-te da
primeira vez que pegaste numa muleta e te colocaste diante de um animal bravo?
João Silva
“Juanito”: Sim, lembro que a primeira
vez que peguei numa muleta tinha quatro anos. Foi na Praça de Toiros de
Monforte e desde então fiquei com o bichinho dentro de mim. Penso que ainda
levo pouco tempo nisto…mas tem sido de muito sacrifício tanto meu como da minha
família. E por decisão minha, aos treze anos, decidi ir viver para Espanha com
o consentimento do meu pai e seguir o meu sonho.
NATURALES:
E quando te mentalizaste que querias fazer disto uma ocupação a sério?
João Silva
“Juanito”: Eu tive logo muito cedo a ideia clara que era isto que
queria e com o meu pai ao lado era mais fácil. Eu ia com ele para as corridas,
falava com apoderados, empresários, bandarilheiros e ouvia a forma como falavam
e isso mexeu comigo e influenciou muito a minha decisão desde muito cedo.
NATURALES:
O facto do teu pai ser bandarilheiro (Hugo Silva) serviu provavelmente como
culpa para o bichinho dos toiros. Sentes que de alguma forma ele te pressionou
a seguires esta profissão ou pelo contrário, quando lhe disseste que querias
ser toureiro ele impôs-se?
João Silva “Juanito”: Sim, isso sem dúvida!
Porque sempre o acompanhei para todo o lado mas sem ele me pressionar! Pelo
contrário, o meu pai sempre me alertou do perigo e vi-o ser colhido algumas
vezes… Mas ele também nunca me disse para não seguir em frente e esteve sempre
do meu lado em tudo.
NATURALES:
Aos 9 anos debutaste em Lisboa, no Campo Pequeno, inserido num Bolsín. Fazer
assim a apresentação na primeira praça do país foi um acto de arrimo?
Lembras-te como correu?
João Silva
“Juanito”: Lembro-me muito bem e com essa idade toda a gente chamou
o meu pai de maluco ao meu pai por ele me ter levado a esse certame, que
primeiro teve uns tentaderos em Arruda dos Vinhos, onde íamos sendo selecionados
para a final. Quando cheguei à final no Campo Pequeno, todos os meus colegas
pertenciam a escolas de toureio e eu fui só com o meu pai… Arrimado não sei se
iria mas sentia-me bastante toureado, treinava muito na casa do Maestro João
Moura, e portanto o que eu tinha mais era desejo de tourear na Praça do Campo
Pequeno que outra coisa…
NATURALES:
E depois desse dia como foi o teu percurso?
João Silva
“Juanito”: De início foi o meu pai que ensinou tudo, depois passei
pela Escola José Falcão em Vila Franca, pela do Campo Pequeno mas por pouco
tempo pois a distância era grande e era difícil… E então foi quando o meu pai e
eu decidimos que eu fosse para a Escola de Badajoz, também para eu conhecer o
mundo do Toureio a Pé de outra forma…
NATURALES:
Mas porquê essa necessidade de teres recorrido a uma escola do país vizinho e
não a uma portuguesa?
João Silva
“Juanito”: O meu pai já tinha
essa ideia definida e também pela facilidade de vivermos perto da fronteira e
então era mais fácil, pois assim eu conseguia estar ali todos os dias… Até que também decidimos ir viver para Espanha,
o que me permite também poder continuar os estudos…
NATURALES:
Andas sempre muito posto em Bolsins e Novilhadas, isso é não só sinónimo de que
tens feito por isso e mereces, como que a Escola de Badajoz aposta muito em ti.
Sentes esse apoio?
João Silva
“Juanito”: A Escola de Badajoz é
umas das melhoras escolas de toureio em Espanha. Somos 60 alunos e o tratamento
é igual para todos nós, quer os que vamos ganhando os bolsins, como os que vão
as novilhadas ou até mesmo ao tentaderos… Se formos triunfando vamos entrando
em mais oportunidades e aí sim, ajudam-te mais porque também está a reputação
da escola em jogo, e isso temos nós de ter em conta. Onde quer que um aluno da
nossa escola vá, é ir com mentalidade de triunfar e sermos os melhores!
NATURALES:
E alguma vez sentiste da parte de alguém, empresário, colega, … algum
‘distanciamento’ pelo facto de seres um português em Espanha? Ou como se diz o
toureio não conhece nacionalidades?
João Silva
“Juanito”: Não, não… Pelo contrário,
todos estamos para o mesmo e tanto os meus maestros como os colegas, todos nos
ajudamos e é um ambiente espectacular.
NATURALES:
Em que toureiros te inspiras?
João Silva
“Juanito”: Eu tento tirar um
pouco do maestro El Juli, pelo seu poderio, também da arte do Manzanares e da
diversidade do Talavante e tentar encaixar isso tudo na personalidade que tenho.
NATURALES:
Como é que um jovem que quer ser toureiro vê o estado do Toureio a Pé em
Portugal?
João Silva
“Juanito”: Bom não está pela
falta de oportunidades mas tanto eu, como os meus colegas portugueses, estamos
a tentar fazer alguma coisa para que um dia nos possam respeitar mais nesse
sentido. Eu acredito que pode ainda voltar a haver um bom ambiente em Portugal
em relação ao toureio a pé. Existem muitas jovens promessas no nosso país com
muitas qualidades para levar isto por diante…
NATURALES:
Já pensas no dia da tua alternativa? Como gostarías que fosse esse dia?
João Silva
“Juanito”: É normal pensar-se… E eu
imagino sempre um cartel de figuras, praça de primeira, ganadaria de topo mas
sinceramente, agora mesmo não penso muito nisso. Estou em boas mãos e estou
numa fase de aprendizagem muito boa. Prefiro ir pouco a pouco para também assimilar
bem as coisas e se tudo for como esperamos, terei o meu debute com picadores no
ano que vem.
NATURALES:
Dia 25 deste mês irás enfrentar sozinho, 6 novilhos (3 Murteira Grave e 3 de La
Peregrina) em Villanueva del Fresno. Como surgiu esta ideia da encerrona? E
porquê em Villanueva del Fresno?
João Silva
“Juanito”: Foi uma proposta de
uma empresa que me tem acompanhado desde o início. Falaram com o meu pai e com os
meus maestros para ver se podíamos fazer uma coisa nesse sentido e acordámos ser
em Villanueva del Fresno, porque eu vivo ali com o meu pai. É um pueblo que me
tem ajudado muito, toda a gente é muito aficionada e está praticamente na
fronteira com Portugal, e sendo eu português…
João Silva
“Juanito”: Sim, isso foi uma das
condições que o meu pai impôs, ir uma ganadaria portuguesa. E escolhemos ser a
de Murteira Grave, assim como metade da quadrilha que me acompanhar nessa tarde
também será portuguesa.
NATURALES:
E não achas que é um gesto de ‘figura’, sendo novilheiro, o já ires ter a tua
encerrona? Não é qualquer toureiro que se pode gabar de ter uma…
João Silva
“Juanito”: Sei a responsabilidade
que tenho e as coisas foram feitas com o meu consentimento. Eu aceitei, creio
que gesto de figura não é, não considero assim mas sinto que tenho capacidade
para o fazer. Hoje em dia temos de fazer alguma coisa que desperte a nossa
afición!
NATURALES:
E como te sentes mental e fisicamente para esse grande dia?
João Silva
“Juanito”: Mentalmente tenho tido
a sorte dos maestros que tenho, qu têm sido incansáveis nesse sentido. São grandes
figuras do toureio e têm-me apoiado, dado tentadeiros, dão-me força e além
deles, tenho o meu pai que está comigo todo o tempo. Fisicamente, tenho tido
aulas com um professor de educação física, que me acompanha todos os dias tanto
no ginásio como na alimentação que tenho.
NATURALES:
És um fenómeno de popularidade na Extremadura, portanto deles terás apoio nessa
tarde. Mas gostarias obviamente de ver a praça de Villanueva, dia 25, cheia de
portugueses. O que lhes dirias para os convenceres a estarem presentes na tua
encerrona?
João Silva
“Juanito”: Sim, a região da
Extremadura acolheu-me como se fosse um deles e estou agradecido por isso.
Têm-me ajudado muito porque tenho toureado inclusive para novilhadas
transmitidas no Canal Extremadura, e também pela transmissão do programa “A Quadrilla”,
em que durante quatro meses aparecia na televisão. O que posso dizer é que à
parte disso tudo, eu sou português com muito orgulho e gostaria muito que os
meus me apoiassem neste dia tão especial, tanto para mim como para a afición
portuguesa. Temos muitos valores do toureio bons em Portugal e que podem levar
o nome do nosso país a todo o lado do Mundo… E em relação a mim, preciso que me
apoiem neste esforço que vou fazer para que o meu país tenha orgulho num
toureiro português.
Nota: Por motivos relacionados com a empresa, a encerrona de Juanito terá início pelas 17h30m /16h30m em Portugal) contrariamente ao indicado no cartaz