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    Tarde agradável na corrida de Homenagem a José João Zoio

    Montijo, 25 de Setembro de 2010

    Fotos de:Pedro Batalha



    Crónica
    Por: Patrícia Sardinha

    A Efemeridade da Vida

    Poucos serão os que têm consciência do quanto a vida é efémera. Mas bem menos serão aqueles, que em vida, fazem dela um espectáculo único.

    Já passou um ano desde que Mestre José João Zoio partiu, infelizmente, há flores colhidas cedo demais. Mas Zoio teve a sorte de em vida, ter deixado um registo único enquanto cavaleiro, mas também, e talvez mais precioso, um punhado de amigos que na hora de reunir sabem estar presentes.

    No passado sábado, no Montijo, juntaram-se os amigos e colegas, para uma Homenagem à memória do cavaleiro, num cartel único, como único foi o seu Toureio. Faltou público, a memória de muitos é curta, mas não faltou entrega, emoção e nem mesmo o facto de serem actuações a duo tirou seriedade ou competição ao espectáculo. Pelo contrário, atrever-me-ia a dizer, que foi corrida com muito mais mérito que muitas outras de actuações a solo, vistas por aí.

    Só o momento das cortesias carregou uma emoção e ao mesmo tempo uma graciosidade, por se ter em praça, dezoito cavaleiros, entre jovens ginetes, herdeiros de dinastias, assim como veteranos e Figuras já retiradas que noutros tempos compartilharam ‘palco’, rivalidade e amizade com o José João Zoio.

    (Vídeo: Pedro Rodelo - Banda do Samouco)

    E se na arena tudo estava propicio para um grande espectáculo, que dizer das bancadas, onde aquela ‘menos de meia casa’ de gente se sentia de missão cumprida, carregando apoio a TODOS os intervenientes, num misto de saudosismo e contemporaneidade.

    Os toiros de Eng. Ruy Gonçalves estavam bem apresentados (610, 585, 610, 630, 575 e 690 kg) condicionados pelo ‘ping-pong’ das actuações a duo, mas serviram no geral, sem complicarem muito, a não ser aos forcados, a quem se revelaram mais ásperos.

    Mas porque naquela tarde até nem estava muito em causa a prestação de cada um dos cavaleiros, se bem que todos estiveram dignos de uma avaliação rigorosa, atrevo-me a fugir à regra das minhas crónicas, para caracterizar sintetizadamente a intervenção das duplas.

    E começar pela sintonia entre Manuel Jorge de Oliveira e António Brito Paes, muito entusiasmado o primeiro, com um brilho nos olhos especial de que sabe sempre bem reviver. Ou a alegria e funcionalidade de Joaquim Bastinhas e seu filho Marcos Tenório, uma actuação quase a papel-químico, até o par de bandarilhas foi em duplicado. A classe, a combinação perfeita entre tio e sobrinho, com António Telles e Manuel Telles Bastos a evidenciarem a qualidade da escola da Torrinha. Rui Salvador e Duarte Pinto, a entrosarem com os ferros impossíveis do mais velho a sobressaírem. João Salgueiro e o seu filho, João Salgueiro da Costa funcionaram bem como dupla, com o mais novo também a revelar pinceladas de genialidade. E para terminar, Gilberto Filipe e Manuel Lupi que deixaram bons apontamentos no último toiro, quando já o sol ia longe e o frio se fazia sentir.

    Não tirando mérito e risco a quem de cima de um cavalo faz ofício, é nas pegas que a tal efemeridade da vida mais se revela em praça. Pelo grupo de Santarém pegou Luís Sepúlveda à primeira numa boa pega sem complicações; e António Imaginário à quinta, com ajudas carregadíssimas, já depois do segundo aviso e quando o espectáculo roçou o ‘número’ da portinha dos curros, após quatro tentativas com um toiro violentíssimo. Pelos Amadores de Lisboa deu exemplo o seu cabo, Pedro Maria Gomes, que consumou à terceira com ajudas carregadas, depois de num primeiro intento, o toiro ter derrotado muito e de no segundo ter ensarilhado; Gonçalo Maria Gomes, que podia ter brilhado, não fosse o ‘comboio’ que por duas vezes lhe passou por cima, acabou dobrado por João Vasco Lucas que com decisão, e com as ajudas por perto, despachou o ‘comboio’ para outra estação. Pelo grupo de Alcochete pegou Luís Saramago que consumou à terceira depois de duas reuniões que não foram bem conseguidas; e Hugo Silva que teve braços para se aguentar à terceira tentativa na cara de um toiro violento (e se o outro era um comboio, este seria o TGV), naquela que se revelou a pega da tarde.

    (Vídeo: Pedro Rodelo - Banda do Samouco)

    Dirigiu a corrida o sr. José Tinoca assessorado pelo veterinário Dr. Patacho de Matos, numa corrida de homenagem a quem já partiu, mas que serviu também para celebrar a vida, que de tão efémera, deve ser aproveitada, de preferência com espectáculos tão agradáveis quanto este.