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    Reportagem da primeira corrida da Feira da Moita 2010

    Moita, 13 de Setembro, 2010

    Crónica
    Por: Patrícia Sardinha

    A melhor galinha…
    Somos um país pequenino, de grandes feitos mas de memória curta e pior que isso, temos a mania de que ‘a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha” e esta depreciação pelo que é nosso, às vezes, é tanta que chegamos ao ponto de menosprezarmos e de nos envergonharmos das nossas próprias tradições. Mas voltando ao provérbio…se as galinhas do lado são melhores, pelos vistos as daqui é que têm os ‘ovos’.

    Na Moita do Ribatejo, ainda há apreço pelas tradições e a sua Feira Taurina, que decorre numa semana intensivamente dedicada aos toiros, espelha bem isso. Este ano, também um pouco a ‘galantear’ as galinhas vizinhas, com muita presença de toiros espanhóis, mas pelo menos desta vez o provérbio nisso falhou, porque o curro de José Luis Pereda presente na primeira corrida da Feira, até superou as expectativas, serviu em apresentação e no geral também em disposição para o sucesso da noite.

    Quem não teve disposição foi o matador de toiros espanhol, Curro Diaz, que já vinha em substituição de Júlio Aparício, e que depois de ‘avistar’ os toiros no sorteio, se sentiu a menos e desertou para a sua Pátria. Valeu à empresa a afoiteza de um jovem que carece de oportunidades no seu próprio país, pois dizem por cá, que os nossos matadores não valem nada, que as Figuras espanholas é que enchem os cofres, mas pelos vistos quando toca a enfrentar o perigo, são as nossas galinhas, que num par de horas, têm os ovos.

    Infelizmente, os moitenses guardaram as economias, que tal como no resto do país são poucas e para uma semana de toiros há que fazer escolhas, provavelmente para ver galinhas vizinhas, ou melhor, pintainhos do nosso galinheiro mas que se foram fazer galos noutro poiso e como tal só cerca de ¼ de casa esteve disposto a passar uma noite agradável naquela que foi a primeira corrida da feira de Setembro, na Daniel do Nascimento.

    António Telles e João Telles Jr. abriram a noite frente ao primeiro toiro com 540 kg que inicialmente foi muito desinteressado nas montadas, de pouca transmissão, mas onde a sintonia entre tio e sobrinho conseguiu sobressair, com António a preparar e a ir acima do toiro para cravar e João a aproveitar para deixar os ferros no ressalto. Ainda se sentiu apertado nas tábuas o mais novo, mas foi mais o susto.

    A solo, António Telles voltou a evidenciar os atributos que fazem dele, talvez o ‘arquitecto’ mais purista do que é o toureio a cavalo à portuguesa. Frente a um toiro com 580 kg, bem apresentando e muito colaborador, António teve uma actuação em crescendo, dando vantagens à rês, partindo recto, citando praça a praça e deixando a ferragem da ordem no sitio. No final, duas voltas à arena.

    João Telles Jr. teve alguma dificuldade inicial em entender os terrenos do seu toiro com 555 kg, distraído, mas quando encontrou o caminho, a actuação rompeu, indo acima do toiro para cravar certeiro e chegando facilmente às bancadas.

    O grupo do Aposento da Moita, para além do desempenho dos forcados da cara, brilhou pela coesão do grupo. Pegou nesta noite Diogo Gomes à primeira, praticamente a aguentar sozinho o ‘avião’, indo bater nas tábuas mas com o grupo depois muito bem a ajudar; Hugo Graça que na primeira tentativa saiu mal e foi dobrado por Nuno Inácio, que só à sua segunda tentativa consumou com boas ajudas a suportarem a violenta investida inicial do toiro; e José Henrique à primeira sem grandes problemas depois de parecer complicado fazer o toiro arrancar ao cite.

    No que toca ao toureio a pé, abriu a noite um matador da terra, Nuno Velasquez, que teve pela frente um toiro com 565 kg, de córnea fechada, pouca cara e que elegantemente o matador recebeu de capote. Na muleta, teve disposição, andou com mando e entrega frente a uma rês um pouco brusca e de curtas investidas, faltando um bocadinho mais das duas partes para que a faena rompesse. No seu segundo, mais colaborador e com 478 kg, Velasquez citou de largo, explorou muito mais o seu toureio com passes ligados, mas…de pouca duração. Tandas curtas, perdidas entre desplantes, acabavam muitas vezes por nos fazer perder a concentração no bom toureio que o matador moitense carrega.

    António João Ferreira foi a aquisição de última hora, com a ‘fuga da galinha’ para Espanha. Teve pela frente um toiro com 545 kg que recebeu com duas largas afaroladas de capote, com que andou muito vistoso. Com a muleta cedo começou a tourear em redondo, principalmente com a mão direita que levava baixa a flanela. Depois a actuação foi a menos, com mais desplantes do que toureio. No seu segundo toiro, com 480 kg e umas hastes finas como lâminas, não se exibiu tanto de capote, mas na muleta voltou a fazer vibrar as bancadas, com o toiro a procurá-lo, com sentido e ele lá, com muita entrega, sacando-lhe passes ligados enquanto se contornava para se sacar dos pitons do toiro. Teve o valor que a Figura espanhola não teve. E isso é de louvar.

    Dirigiu a corrida o sr. António dos Santos com alguma rapidez na concessão de música, assessorado pelo veterinário Patacho de Matos, numa noite bastante agradável e onde as nossas galinhas…foram melhores que as vizinhas.