Reportagem Corrida de Toiros na Luz (Mourão)
Luz (Mourão), 4 de Setembro, 2010
Fotografia e Crónica
Por: Patrícia Sardinha
VAI BONITA A NOSSA FESTA…
Fotografia e Crónica
Por: Patrícia Sardinha
VAI BONITA A NOSSA FESTA…
…E eu já não tenho paciência para certas touradas. Depois venham dizer que sou eu que sou ‘destruidora de forcados’, que só falo mal, que nada me agrada, que não entendo nada disto… Mas se não entendo e isto me revolta, imaginem se entendesse o desgosto que seria!
Sempre foi fim-de-semana ansiado o primeiro de Setembro, com as Festas em Honra da Nª Srª da Luz na aldeia com o mesmo nome e à qual me prendem laços de sangue, ainda que sinta que esta nova aldeia, que se construiu de raiz há uns oito anos porque a necessidade de uma Barragem falou mais alto, pessoalmente me transmita pouco, quiçá pela pouca História que ainda carrega ou porque as memórias da velhinha Luz subsistem mesmo que o local esteja submerso.
O cartel tinha o seu interesse com uma corrida mista, porque na aldeia da Luz sempre se viveu o toureio a pé intensamente. No entanto não foi o suficiente para convencer os aficionados a estarem presentes em peso, tal como nos tempos da velhinha praça de pedra, que naqueles dias era demasiado pequena e onde só se assistia a novilhadas e o ‘toiro de morte na arena’ era o atractivo principal. Mas quando acabam com as tradições de um Povo…acabam com o próprio Povo… E qualquer dia acabam com a seriedade da Festa, tais as atitudes que infelizmente se vão vendo um pouco por todas as praças, quer sejam de primeira, segunda ou terceira categoria.
O curro de toiros de Dias Coutinho tinha apresentação mas alguma escassez de forças e de bravura, foram no geral reservados e incómodos.
Luís Rouxinol andou sempre por cima dos toiros que lhe tocaram. Frente ao primeiro, distraído mas brusco quando se arrancava ao cavalo, Rouxinol teve uma actuação de menos a mais e a lide só rompeu pelo labor do cavaleiro com os últimos ferros curtos. No seu segundo, o cavaleiro de Pegões voltou a mostrar oficio frente a um toiro reservado que só despertou ao quarto curto, com o cavaleiro a preparar as sortes, a ir de frente, acima do toiro e a cravar certeiro, justificando ao público a sua presença. Outro qualquer cravaria três, quatro curtos e fazia-se à estrada.
Marcelo Mendes teve mais sorte com o lote mas menos cabeça. No seu primeiro toiro, que não entendeu, logo nos compridos começou por querer dar vantagens à rês, aguentando mas com a ferragem a resultar irregular. Nos curtos quando se preparava para deixar o terceiro ferro, o cavalo recusou-se, o toiro apanhou-o e sofreu grande queda, por sorte sem consequências. O resto da lide baseou-se todo em passagens, com a rês a ir a menos e pouco mais. No final não queria dar volta, mas forcado e público convenceram-no. A sua segunda actuação foi muito similar à primeira, com pouca brega, a consentir demasiados toques, também muito por culpa das montadas, sortes demasiado abertas, reuniões desajustadas. Talvez fosse o cansaço de uma temporada de muitas corridas… Mas a verdade é que não convenceu!
Nas pegas, pelo grupo de S. Manços pegou Paulo Banha muito bem à primeira, a aguentar; e João Fortunato à terceira sem problemas depois de duas tentativas em que não reuniu bem. Pelo grupo da Póvoa de S. Miguel pegou à segunda tentativa Sebastião Caeiro, com uma rês que não pôs dificuldades nenhumas; e Rui Rodrigues que num primeiro intento saiu mal e o toiro acabou por desembolar do piton direito. A partir daqui foi a desgraça e o típico número que infelizmente é cada vez mais habitual, fruto de uma falta de humildade e saber estar e pior, de desconhecimento e falta de respeito pelo regulamento taurino. Ora com o toiro desembolado, sugeriu o director de corrida que a pega fosse de cernelha. Mal sugerido, porque nem os cabrestos estavam ‘bem ensinados’, nem os campinos ‘funcionaram’, nem Fábio Madeira e Sebastião Caeiro, os cernalheiros, se aventuravam a tentar a pega…muitos minutos depois, sai Fábio para ir o cabo Reinaldo Fialho, mas tudo na mesma. Soaram todos os avisos, ordenou-se abertura da porta dos curros, mas com pouca autoridade, criando-se aquele número triste de forcados à frente da porta dos sustos, público aos assobios, gente pendurada na trincheira, ameaças ao director de corrida e tentativas forçadas para pegar o toiro de caras. Foi Fábio Madeira, talvez por ser da terra, o ‘valente’ que se ofereceu para ir à cara…e três vezes lá foi e três vezes ao chão, até que saiu ‘mal tratado’, directo para o hospital. Dobrou-o Miguel Carrapiço que com as ajudas carregadas (o grupo todo!) e mais uns quantos lesionados, finalmente deu por consumada esta novela triste.
Ficou mais contente o grupo da Póvoa, por não ter deixado ir um toiro vivo para os curros? Parece que sim! Fizeram boa figura? Definitivamente, não! Mas não pensem que são só estes grupos ‘pequenos’ que fazem estes números, já os vi em grupos 'grandes' também…
Às vezes pergunto-me, onde começa e acaba a tal humildade e amadorismo que reclamam os forcados? Onde está o respeito e obediência ao director de corrida? Que faz a ANGF nestes casos de ‘mau comportamento’ dos seus associados? E o IGAC que faz aos ‘rebeldes’ que não obedecem ao director de corrida?
Nuno Velasquez ficou responsável pela parte a pé e foi talvez o que mais saiu prejudicado com estas ‘histórias de forcados’, porque depois de todo o alvoroço, fez-se tarde e poucos viram ou deram atenção à sua segunda actuação. Ainda assim e apesar das poucas corridas que fez ao longo desta temporada, o matador evidenciou no seu primeiro toiro boas maneiras, estando elegante de capote. Com a muleta foi pondo mando na voz, com um toiro que se fazia tardo nas investidas, mas de quem Nuno foi sacando a gotas o sumo e dando pormenores de bom toureio. No seu segundo, não houve ambiente nas bancadas, mas houve-o na arena. A rês tinha alguma aspereza nas investidas, mas o matador dobrou-o, andando muito por cima do oponente, com raça e criando ligação entre as tandas, desenhando uma faena que merecia outra ‘luz’.
Dirigiu a corrida com pouca autoridade o sr. Pedro Reinhardt assessorado pelo veterinário Matias Guilherme numa tarde que se fez longa e contou com mais de meia casa preenchida.