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    ANÁLISE TEMPORADA 2019 – “Toureio a Pé”



    O “filho mais pobre” desta nossa Festa dos Toiros tem sido nas últimas décadas, o Toureio a Pé. Deserdado, esquecido, não educado, esta vertente do toureio tem ao longo dos anos deixado de ser o predileto em benefício dos festejos só com cavaleiros e forcados.

    Em 2019, voltaram a escassear as novilhadas, os festejos mistos… As primeiras continuam a existir principalmente pela boa vontade das Escolas de Toureio que vão mantendo ilusão nos mais novos, até que estes tomem consciência que “este país não é para toureiros”. Os segundos acontecem maioritariamente porque assim impõem os cadernos de encargos, as tradições das feiras ou festas onde ainda se realizam. Porque se fosse pela vontade dos nossos senhores empresários… 

    Até porque o público de hoje em dia, aquele que tanto anuncia nas redes sociais ser muito aficionado quando não se apregoa de muito entendido, de Toureio a Pé não quer saber, a não ser que seja para fazerem vista nas praças do país vizinho. Bastou ver o que aconteceu em Lisboa esta época, quando 51 anos depois, houve afoiteza para se montar um cartel exclusivamente composto por três matadores portugueses: faltaram nas bancadas os entendidos.

    Acresce que, quando não se entende o que se vê, é normal que não se goste. E como aos organizadores de corridas interessa é encher e não instruir…

    Ainda assim em 2019, muitas vezes foi o Toureio a Pé que nos arregalou os olhos, pela arte e pela verdade que carrega, longe da mesmice e falso triunfalismo que muitas vezes vivem os dos cavalos. Temos, graças a Deus, sempre uma fornada de jovens bezerristas, novilheiros, miúdos de todas as idades e tamanhos, que mantêm a esperança de quem acredita e que nos fazem, apesar de tudo, acreditar também.  

    Basta dar uma vista de olhos pelas Escolas de Toureio do nosso país, como por exemplo a “José Falcão” em Vila Franca e a que mais produtos apresenta, ou pela aficionada escola da Moita do Ribatejo, pela resistente de Azambuja, ou até nas mais recentes no Montijo e a “Arcas” em Samora, para ver a pluralidade de miúdos e miúdas, que isto do toureio também dá para os dois lados, que se sentem felizes a recrear a arte de Montes. Com mais pena, veio a verificar-se esta época, que a principal praça do país, inativou a sua Academia de Toureio. Não era suposto ser esta dar o primeiro exemplo?!

    No que a novilheiros em Portugal nos ficou de 2019, os destaques maiores vão para o valoroso Duarte Silva (da Escola de Vila Franca de Xira) e para o artista Filipe Martinho (Escola de Tauromaquia da Moita), ambos também a saírem beneficiados por terem sido os que mais oportunidades tiveram por entre as novilhadas realizadas, Lisboa, Sobral, Vila Franca, foram disso testemunha. Mas outros nomes continuam a ser sonantes: em Luís Silva (Escola da Moita) mantém-se a expectativa e na Moita voltou disso a fazer prova. Leonardo Passareira (Escola de Salamanca) continuamos a ter debaixo de olho e a João d’Alva (Fundación El Juli) ansiamos que os ares do país vizinho lhe deem mais oportunidades e se faça destacar mais em 2020. Diogo Peseiro é um dos jovens que continua a acreditar, na busca de oportunidades, e oxalá cheguem.

    Aos de alternativa, e nesta “mini-feira” que acaba por ser a temporada de Toureio a Pé em Portugal, Manuel Dias Gomes saiu destacado pela maturidade que atingiu em 2019. Pés assentes na terra, cabeça e ofício, revelaram um toureiro adulto e muito capaz. Sobral, Vila Franca e Lisboa foram três das praças que beneficiaram com a sua presença. Nuno Casquinha, um verdadeiro lutador, conquistou merecidamente mais oportunidades no seu país em 2019, como na Nazaré, Sobral e Vila Franca. A raça e a entrega com que Casquinha se apresenta na arena continuam a diferencia-lo entre os demais. A arte, essa voltou a andar sobrada com António João Ferreira, que no entanto, pese embora o que leva dentro, se viu condicionado após grave colhida que lhe fraturou a bacia em Lisboa. Acontece aos melhores e principalmente, aos que se põem com verdade diante do toiro. Mas se há “figura” em projecção a carregar nome luso, é João Silva “Juanito” que finalmente, e ainda que na nossa opinião merecesse outro destaque e não a forma apressada como aconteceu, se tornou matador de toiros em Junho em Badajoz. Em Lisboa, revelou o toureiro que está e as muitas capacidades que tem. “Juanito” será certamente aquele que, lá fora, pode fazer a diferença no meio de tantos espanhóis, mexicanos e afins.

    Mais encostados “na trincheira, andaram em 2019 Joaquim Ribeiro “Cuqui”, o veterano “Pedrito de Portugal”, e “Paco Velásquez” agora mais dedicado aos cavalos. Procuna continuou mais uma época forçosamente ausente mas sem nunca perdermos a esperança.

    Também cá vieram os de fora, e foi Octávio Chacón quem brilhou a sério no primeiro Festival da Temporada em Mourão, dos poucos cuja organização tem preocupação e cuidado com esta vertente do toureio. Já El Cid foi a sobriedade numa “festa” de figuras na Chamusca. De Cayetano em Lisboa só se recordam os bonitos olhos. O extremenho António Ferrera, a viver fase triunfal no seu país, veio à Moita vender isso mesmo, triunfalismo e as capacidades de Ginés Marín ficaram por isso abafadas.

    Para 2020, poderemos desde já acreditar numa coisa: há-de começar com categoria e a destacar o Toureio a Pé, pois disso nos tem garantido sempre o Dr. Joaquim Grave, e assim a Senhora das Candeias permita o bom tempo a 1 de Fevereiro.