Crónica de Lisboa: “Uma questão de ‘encastamento’“
A Praça de Toiros do Campo Pequeno recebeu na
passada quinta-feira, 8 de Agosto, a já habitual Corrida do Emigrante, que este
ano ficou ainda associada à comemoração dos 35 anos de alternativa de Rui
Salvador, bem como a uma transmissão televisiva pela TVI.
Do cartel, e como já vem sendo
também tradição nos cartéis de Agosto de outras temporadas em Lisboa,
reuniram-se três “mestres” do Toureio a Cavalo. Desta feita, João Moura, Rui
Salvador e Luís Rouxinol, com 41, 35 e 32 anos de alternativa, respectivamente.
E mais um ano foi o “mais novo”, que inclusive nesse dia até ficou mais velho
já que cumpria aniversário, o que logrou sair destacado no cômputo das duas
actuações, as quais terminaram com as bancadas do Campo Pequeno em pé.
Lidaram-se toiros de Veiga
Teixeira, desiguais de apresentação, com mais trapio o primeiro, e que foram
também díspares em comportamento. Se bem é verdade que no geral não foram
bravos, também não é menos verdade que a diversidade de comportamento exigiu
toureiros encastados. E foram nesses momentos, quando se encastavam – alguns (bem) mais que outros –, que cada um dos artistas melhor se viu.
João Moura cumpriu frente ao enraçado
primeiro deixando a ferragem sem se comprometer no resto da lide. No seu
segundo (quais quase 60 anos, quais quê?! Moura é Moura!), o cavaleiro de
Monforte encastou-se numa vibrante gaiola com o toiro a corresponder e a
perseguir codicioso, para nos curtos, e com o toiro a defender-se mais, voltar
ao registo de cravar os ferros de forma asseada.
Rui Salvador passou discreto e
irregular frente ao primeiro, um animal avacado, manso mas que não pôs
dificuldades e frente ao qual o cavaleiro nem sempre foi ajustado no momento do
ferro e consentiu alguns toques. Frente ao segundo do seu lote sentiu-se mais encastamento, e coração, por parte do
cavaleiro de Tomar perante um toiro que se rachou, sendo reservado no momento
da reunião, e que implicou o toureiro ter que lhe ir mais à mais cara para
deixar a ferragem da ordem.
Em dia de aniversário, Luís
Rouxinol não teve outro remédio se não encastar-se perante o seu primeiro, que
saiu desinteressado, sem se fixar, pelo que lhe aplicou 3 compridos que “encastaram”
também o manso, que perseguia aos arreões. Escutou música logo ao primeiro
curto, a que se seguiram outros tantos de boa nota e, a sua eficiência na brega
bem como nos remates das sortes, fizeram clara distinção entre “uns e outros”.
No que foi último da corrida, de menos transmissão, pouco claro nas investidas,
Rouxinol foi menos convincente nos compridos, para nos curtos a lide ser em
crescendo, ressalvando-se novamente as suas qualidades lidadoras, com o par de
bandarilhas e o palmito com que encerrou função, a serem a cereja no topo do
bolo perante um público rendido de pé.
Noite duríssima para as pegas,
com os toiros a complicarem e a algumas ajudas a tardarem.
Pelos Amadores de Tomar pegou
Ricardo Silva que consumou à segunda com melhor eficácia dos ajudas; e Luís
Campino sem problemas à primeira, com o toiro a levar a cabeça a direito.
Pelos Amadores de S. Manços pegou
Pedro Fonseca, que após dois violentos derrotes, acabou por ser dobrado por Jorge
Valadas, que consumou a sesgo no que foi o seu segundo intento; e o cabo, João
Fortunato, perante um manso reservado, concretizou à segunda.
Pelo Grupo das Caldas da Rainha
pegou o cabo, Francisco Mascarenhas, um valente que só à quarta concretizou após quatro
violentas tentativas; e Lourenço Palha, enorme à primeira, a aguentar praticamente
sozinho a viagem na cara do toiro.
A Praça registou cerca de ¾ de
casa, tendo a corrida iniciado com uma homenagem ao cavaleiro Rui Salvador pelos
seus 35 anos de alternativa, numa noite em que foi notório que para haver triunfo, tem que haver "encastamento" por parte dos artistas. Rouxinol fê-lo e ofereceu, no dia dos seus anos, o triunfo a si próprio.