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    Crónica de Moura: "Serei o único?"


    Antigamente causava-me mais incómodo e desconforto, hoje dá-me apenas piada com um pequeno fundo de revolta pelo que querem que a nossa Festa se torne.

    O folclore de décadas, os costumes do tudo está bem porque gosto de ti e do teu bolso, os mil e um filtros qual instagram em versão mais actualizada… Serei o único? 

    Ás vezes sinto-me nessa posição de preso num caminho onde não aparece auxílio de qualquer atalho, onde não há forma de fazer passar uma mensagem clara que dure e dura, pois quem sabe não quer, quem podia não pode e quem não consegue segue a corrente.

    Mas como disse ao início, já não crio tensão nesses momentos… divirto-me a ver o que gostariam que eu aprovasse como bom, divirto-me a ver como vão persuadindo com manha quem segue loucamente as tendências qual paixão louca pelo primeiro amor; divirto-me ainda mais a ler o que se escreve de todo esse sarau e no final, ainda me divirto mais por não me encaixar em todo o fogo de artifício, cheio de barulho, mas sem nenhuma cor.

    A data de Julho de Moura, mudada, a meu ver sem nexo, para o sábado à noite, (os ¾ sentiram-se ainda poucos para o usual), foi dessas noites perfeitas de ilusão…

    Lidaram-se toiros de Fernandes de Castro. Sérios na generalidade, desiguais morfológica e temperamentalmente, fora de tipo vários e a denotarem vincadamente pouca entrega e pouca ajuda por diante. A domínio geral, as quadrilhas foram desastrosas no tratamento aos toiros.

    O primeiro era um Toiro feito, com uma cara bem armada mas harmónico, negro bragado axiblanco e rematado de qualquer perspectiva. Gazapón e reservado, pedia distâncias curtas nos cites para as viagens serem o mais rápidas possíveis onde se pudesse agigantar e dar emoção à lide, e isso só se viu no terceiro curto de João Ribeiro Telles, que contrariamente ao pretendido, o atacou sempre de largo sem nexo… Não houve união de ideias entre os dois. 

    O quarto é o toiro que qualquer toureiro deseja ter em sorte. Nada ofensivo, muito cómodo e de bom tipo, também ele negro e com talha. Nobre e fácil, de quando em vez com bonitos de classe, pecando apenas por transmissão e casta. Mais ritmado que no primeiro, o pragmatismo de Telles não resultou nenhuma catadupa de interesse nos resultados, louvando-se as intenções e a correção atestada mas a alheia chama e poder nos momentos chave foi motivo para não me preencher ou emocionar um segundo que fosse.

    Francisco Palha pareceu-me completamente fora de sítio em comparação com anteriores aparições. Enfrentou em primeiro lugar 640 kg de animal, largo e muito comprido, corniapertado e gacho, feio mas muito composto de carne. Nunca foi claro e por isso Palha nunca logrou entrosar-se com ele. Sem se empregar, mansito a mover-se, ainda saiu uma vez soltou e com alegria de longas distâncias, embora nesse único momento o cavaleiro não o tenha aproveitado da melhor forma. O melhor da lide foram os compridos, soberbos os dois, de alto a baixo e milimetricamente medidos. O resto foi um ferro aqui e outro ali, sem contundência para romper, e sem resoluções mais ajustadas como se esperava.

    O quinto… que lide e trato péssimo da quadrilha de Palha. Indescritível. O toiro, com 540kg, foi o de comportamento mais sério e interessante da noite, por não ostentar condição fácil e por isso sendo uma carta fechada que deixa toda a gente meio difusa. Dos tais que se dizem com muitas teclas, que se tem de meter a carne no assador e etc… Palha tem daqueles sentidos aguerridos e de tudo ou nada, e isto era Toiro para ver o seu destemido tudo… mas eu vi o seu confuso nada. Tal como na primeira lide, parece-me fora de sítio e custoso de encontrar terrenos para pisar o compromisso, e por isso o que ao público do instagram pode parecer uma loucura, a mim soube-me apenas a um ferro comprido e um curto. Um descafeinado. Nada mais.

    Miguel Moura apertado pelas ovações aos seus colegas, andou no tom que eu lhe reconheço desde sempre. Tem muita vontade e muita decisão, mas nos momentos chave falta-lhe transcender-se para a qualidade, que também chega à bancada, e quando é efectivamente isso, qualidade, e se conjuga com emoção, os leigos entendem, os de sempre entendem, nós entendemos, até os do instagram… Mas como isso faltou, as duas lides que realizou foram parcas em momentos salutar.

    Teve muita intenção ao receber o seu primeiro, cravando em sorte de gaiola mas pouco ajustado, sendo posteriormente o toiro recolhido. Lidou o toiro que lhe calhara em último lugar e no final o sobrero. No que fez terceiro não aconteceu absolutamente nada. Toiro manso e difícil, sem querer e a poder pouco também, e do cavaleiro poucos argumentos houve para se mudar o quadro.

    O sobrero, o mais leve da corrida, com 520 kg, andou sem problemas e não foi difícil. A lide foi intermitente e sem chispa, e se os desenhos da sorte são bem medidos, os cuidados no momento da jurisdição devem ser acrescidos para culminar os tempos com sucesso, é necessário cuidar desse momento para se triunfar… porque ouvir palmas não é triunfar. Faltou ajuste.

    Noite de duras e rijas pegas por dois grupos Alentejanos, que resolveram com distinção as papeletas difíceis que tiveram pela frente.

    Pelo Grupo de Évora foram caras João Madeira, fechando-se com muito firmeza e qualidade à primeira, concluindo um intento vistoso; António Torres Alves, jovem forcado eborense, denotou um enorme valor na cara do terceiro, aguentado sereno em terrenos do animal, e suportando duas tentativas duras em que o toiro se empregava com poder. Esteve decidido na segunda, com um par de braços implacável e o grupo tentando estar ao seu nível para consumar a pega; Dinis Caeiro consumou à segunda uma pega rija e impactante, dada a velocidade com que o toiro partia nos cites.

    Pelo grupo da casa, o Real de Moura, foi escalado Gonçalo Borges para o mais pesado da noite. Citou sereno e com o brilhantismo habitual, mas no momento da reunião entre desequilíbrio e oscilação do animal, sofreu uma violenta e impressionante colhida, felizmente sem consequências. Cláudio Pereira foi para a dobra e consumou no seu primeiro intento, com uma reunião muito dura e poderosa, fechando firme e pronto o grupo; Rui Branquinho esteve tecnicamente preciso e impecável com o quarto, mandando no toiro e recebendo bem, sendo de destacar a notável primeira ajuda para a consumação deste intento; A fechar a longa noite Luís Mestre esteve correto e sem muito que apontar, firme e de novo bem o grupo nas ajudas.

    Dirigiu a Corrida o Sr. Domingos Jeremias.

    Fotografia e Texto: Pedro Guerreiro