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    Crónica de Lisboa: “Moura Jr. pôs o sal e a pimenta no insosso”


    Isto do toureio tem muito que se lhe diga. 

    Podem dizer que é bonito, podem dizer que vão lá para se divertir, podem dizer que gostam muito dos ‘cavalinhos’, podem dizer o que quiserem. Mas se não houver emoção a sério, então aquilo que digam, abala com o vento… 

    E essa emoção, se bem em parte muito nos é dada pelo bom ofício dos toureiros, tem que acima de tudo ser dada pelo Rei da Festa. E atenção, na arena Rei só há um: o Toiro! 

    Se esperava outra coisa da corrida anunciada para a comemoração do 13º aniversário do Campo Pequeno?! Não! 

    Os toiros lidados nessa noite são o que são, e foram o que tinham que ser, dentro de um “encaste” que ganhou fama e apetência para as “grandes” figuras. 

    Os “murubes” de Romão Tenório, os escolhidos para esta noite por Pablo Hermoso, pois certo e sabido que só assim o espanhol cá vem, foram daqueles para manter toureiros no activo até aos 70 anos, tal o pouco trabalho que deram. Mas também daqueles para dar sono aos das bancadas, pelo menos a alguns, aos que gostam do toiro que transmite e do toureio com verdade. Fugiram do típico murube em apresentação, ainda que sendo pesados (segundo os quilos anunciados), não pecaram por excesso de carnes e também não tiveram as badanas do costume. 

    Em comportamento, a desmesurada nobreza deste encaste, deixa a desejar face à carência de fiereza e raça que tanto, alguns de nós, gostamos de apreciar num toiro de lide. De verdade, saíram com mobilidade qb, no geral praticamente perseguiram todos melhor por trás, ainda que a passo cadenciado, do que se arrancaram aos ferros. 

    E se há toureiro que precisa de alguma “casta” por parte dos seus oponentes para também ele se encastar é Luís Rouxinol, para quem “lidar” o toiro, não se limitando a deixar os ferros, é predicado. Pelo que nesta noite, nem sempre Rouxinol teve quem lhe desse luta para o vermos como mais gostamos. O seu primeiro foi um toiro andarilho, sempre a passo, custoso de se fixar. O cavaleiro de Pegões, desenvolto na brega, cumpriu regular com a ferragem, para rematar lide com um bom par de bandarilhas. Ao que foi quinto da ordem, Rouxinol recebeu-o com uma valorosa sorte gaiola e um excelente primeiro comprido. Nos curtos, e com a matéria que tinha pela frente, sacou do Douro para se adornar com a já habitual brega a duas pistas, ajustadíssima (talvez até a mais ajustada de todos os ladeios que vimos praticados nesta noite), perante uma rês que perseguia a passo, e na qual sobraram os dotes toureiros de cavaleiro e cavalo, com um toiro reservado no momento do ferro. 

    Pablo Hermoso era certamente o senhor mais desejado pelas seis mil alminhas que foram ontem ao Campo Pequeno. Era, mas não foi ele que convenceu. Se calhar, porque ao seu toureio sabido, perante dois toiros cómodos, de pouca ou nenhuma mobilidade, faltou surpreender mas faltou acima de tudo, a tal transmissão aos toiros. Pablo estava assim na sua zona de conforto e prestou-se a duas actuações similares de resultados. E talvez por isso, o pouco sururu que lhe prestaram das bancadas, tenha vindo mais pelos ‘ares de alta escola’ que gosta de mostrar, do que propriamente pelos ferros que deixou. 

    João Moura Jr. foi, do princípio ao fim, o mais acarinhado pelo público de Lisboa ontem à noite. Quiçá por ser dos três cavaleiros em praça o que melhores argumentos apresentou perante os oponentes. Frente ao primeiro, repetiu a lição que tantas vezes lhe vemos noutras actuações, baseando-se em cites de largo, para ora partir ao toiro que o espera parado, fazer uma batida e cravar, ora aguentar, recebendo a investida do toiro, pese embora tardo. Nem sempre resultou a ferragem de forma ajustada, até porque a isso ‘encomendam’ os quiebros, mas teve momentos de muito impacto nas bancadas, ainda que muitas vezes descure rematar as sortes. Mas foi frente ao último da corrida que Moura Jr. assinou por baixo que a noite era sua. E fê-lo principalmente, quando (re)inventou o toureio. Quando saiu da mesmice e disse: o toureio é emoção! Moura Jr. pôs todos de pé quando apresentou a “Mourina”, uma sorte que o próprio prometera de véspera nas redes sociais, e que terá o seu pai, João Moura, interpretado em meados dos anos 80. Aproveitando-se das características estáticas do toiro, levou às arrecuas o cavalo até que, já a pouca distância, lhe provocou a investida, virou a montada e assim deixou dois ferros, que fizeram valer a noite. Olé! 

    Nas pegas, estiveram em praça os Amadores de Lisboa e os de Évora. Pelo Grupo da casa pegou Pedro Gil à segunda tentativa fechando-se à barbela, com o toiro a levar a cara a meia altura; Duarte Mira pegou à primeira, emendando-se na cara do toiro; e Vítor Epifânio consumou à segunda tentativa. 

    Pelo Grupo de Évora, o cabo João Pedro Oliveira, concretizou à segunda a aguentar os derrotes do toiro; Dinis Caeiro também à segunda, com o toiro a tardar para arrancar; e António Torres à segunda, a aguentar com uma pega rija. 

    De louvar nessa noite a presença de público, com ¾ de casa forte, tendo a corrida sido dirigida pelo sr. Pedro Reihnardt, criterioso na concessão de música. 

    Uma noite algo insossa, que Moura Jr. condimentou.