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    Rafael Vilhais: "Cabe aos artistas arriscarem porque se não, não me apetece contratá-los"


    Rafael Vilhais tornou-se empresário em 2016, e de lá para cá tem sabido manter e atrair público às praças que tem sob sua gestão, presenteando as mesmas com cartéis diferentes, trazendo grandes figuras nacionais e internacionais. Apenas numa praça, a coisa correu para o torto... De resto, marcou a temporada 2018 por lograr algumas casas esgotadas. O NATURALES falou com o empresário sobre a época transacta, o que correu bem e menos bem, sobre o cavaleiro que apodera e sobre alguns projectos para 2019.


    RAFAEL VILHAIS 
    "Gostava muito de organizar uma corrida picada"


    NATURALES: Em 2018, geriu as praças de toiros de Salvaterra de Magos, Moura, Caldas da Rainha e Moita. No geral, que balanço faz da temporada passada nas praças onde esteve como empresário?
    RAFAEL VILHAIS: Considero um êxito rotundo a temporada nas Caldas e em Salvaterra com bons espectáculos e casas completamente cheias, Moura é uma praça que exige dedicação, e não sendo uma temporada sonhada, foram de alto nível os espectáculos aí realizados. Penso que, juntamente com o meu amigo João Cortez, pudemos dar à Praça de Toiros de Moura a categoria que ela merece. Quanto à Moita, é uma praça que comigo resultou difícil. Não consegui perceber a sua afición, se é que ela realmente lá existe... E mesmo depois de levar figuras como Diego Ventura e Roca Rey, Sebastian Castella, Manuel Escribano, todas as outras figuras do toureio nacional, todas as ganadarias de postín, a verdade é que o público nunca correspondeu! O que se tornou num fracasso económico desastroso... Espero e desejo a maior sorte para o meu sucessor, Ricardo Levesinho. 

    NATURALES: Mas comecemos agora por Salvaterra. Em Maio, o Rafael tem apostado naquela praça no Concurso de Ganadarias ibérico, que ano após ano, ganha cada vez mais importância no calendário taurino. E logo aí também logrou a primeira enchente. Considera que o segredo destas corridas é apostar no toiro como o principal elemento a ser cuidado na Festa?
    RV: Sem dúvida! O toiro é o rei da festa e quando bem cuidado, o público agradece e corresponde. Outra vantagem é o serem datas tradicionais, que ganham ou passam a ganhar, um lugar no calendário taurino nacional e depois, a escolha dos toureiros que são fundamentais, devendo ser do agrado do público. 

    NATURALES: Se bem que nessa corrida de 13 de Maio de 2018, o toiro de Miura foi a excepção, tendo a sua escassa apresentação sido protestada pelo público e imprensa. O que falhou na escolha desse toiro?
    RV: Esse toiro de Miura vi-o duas vezes no campo e estava bem melhor do que quando chegou a Salvaterra. A culpa foi minha que o escolhi, se bem que a camada de Miura lidada em 2018 saiu mal apresentada em muitas feiras de Espanha, bastou ver a corrida de Madrid. Sabemos que é um toiro por condição de encaste, sempre alto de agulhas e escorrido de carnes, mas em 2019, a ganadaria Miura não estará presente, pelo menos em nenhuma corrida que eu organizo.


    NATURALES: Este ano a corrida concurso de ganadarias em Salvaterra, será a 12 de Maio. É para manter esse registo no cuidado ao escolher os toiros a concurso?
    RV: Será para manter sem dúvida. Haverá ganadarias que não repetem e entram três ganadarias que ainda não vieram ao Concurso de Salvaterra: a de Vinhas, Vale de Sorraia, e um toiro berrendo em jabonero, do Sr Fernando Palha. Um toiro que está em Espanha e chegará a Portugal no início de Março. É uma carolice minha, mas que desde já agradeço aos meus amigos, Luís Van Zeller Palha e ao Germán, do Toro Passion, por tornarem isto possível. 

    NATURALES: Considera que o facto de durante muitos anos, ter sido também representante da ganadaria Conde Cabral, fez com que enquanto empresário, tenha mais atenção aos curros que escolhe?
    RV: Claro que sim. Vivi toda uma vida nessa Ganadaria, escolhi muito toiro para tanta figura do toureio, tantos tentaderos, tantas experiências na criação do toiro de lide... Estarei sempre grato ao meu melhor amigo e proprietário da ganadaria, o Sr. D. Eduardo Guedes de Queiroz, que acreditou sempre em mim e vivemos juntos tantos e tantos êxitos e alguns fracassos, que também fazem parte desta paixão. Mas sei e reconheço, que foi aí que aprendi tudo, a saber como deve ser um toiro, a sua morfologia, a condição que poderá ter para poder investir e depois outra questão muito importante, e que devemos ter em conta, que é conhecer todas as ganadarias, todos os encastes, para os saber distinguir. Cada ganadaria tem o seu tipo de toiro, e isso é uma condição que qualquer empresário deve ter em mente. Contam-se pelos dedos hoje em dia,  os profissionais que sabem do toiro ou diferenciar os diversos encastes. 

    NATURALES: Como referiu, mantém a par com João Cortez, a gestão da praça de Moura, uma praça à qual têm conseguido dar uma nova vida. No que se têm baseado para conquistar a afición em Moura?
    RV: Acho que de facto temos feito um bom trabalho e iremos continuar a apostar no toiro, com uma corrida no dia 11 de Maio. Tentamos proporcionar bons espectáculos durante o ano, e vai ter que ser um trabalho de muita dedicação mas acho que vamos conseguir subir o nível em 2019. 


    NATURALES: E em Maio também vai repetir aí a receita do concurso de ganadarias?
    RV: Neste momento, e ao dia de hoje, pensamos outra coisa, num confronto entre duas ganadarias. Uma delas será a do Dr António Silva, com três toiros de trapio impressionante e a outra ganadaria terá que ser numa linha torista. O concurso irá acontecer em Setembro em Moura. 

    NATURALES: Outra praça onde o seu trabalho foi reconhecido em 2018 foi nas Caldas da Rainha, onde também conquistou casas cheias. Mas a temporada nessa praça ficou principalmente marcada pela corrida de 28 de Julho, onde três dinastias empolgaram as bancadas e no final, todos os intervenientes sem excepção, deram volta à arena. São essas corridas que dão força à Festa?
    RV: Foi fundamental e num momento em que sofremos ataques dos anti-taurinos e de partidos extremistas como o Bloco e o PAN, ver aquele público todo de pé a bater-nos palmas no final, a darmos uma volta ao ruedo, e esse povo, sim porque era o povo que estava ali, sem arredar pé...foi um momento único. 

    NATURALES: É um cartel para repetir em 2019 nalguma praça sua?
    RV: Pode ser que sim. Não está fora dos meus pensamentos mas não serve para todas as praças.  Cada praça tem os seus cartéis, sendo que também há cartéis que são para todas as praças. 

    NATURALES: Tem também sabido aproveitar um trunfo nas suas praças, Diego Ventura, o qual inclusive representa em Portugal, que esgotou em Julho Salvaterra, encheu em Setembro a de Moura. Ventura é sempre uma aposta eficaz nas praças portuguesas?
    RV: Diego Ventura é uma grande figura a nível mundial,  como tal, será importante no México, em Espanha, em França e em Portugal. É sempre uma garantia de casa cheia vou repeti-lo em Salvaterra no dia 26 de Julho e vamos tentar esgotar outra vez. São estes acontecimentos que dão categoria a uma praça! Nunca mais me esqueço que quando peguei nesta praça, a média de público era de 900 a 1200 pessoas e por isso, dá-me um certo orgulho ter mudado o rumo de uma praça e atrair público de todas as partes do país. 

    NATURALES: Já a Moita, e tal como aqui já se referiu, não foi lá com figuras nem sem figuras. O que acha que realmente falhou na Moita durante estes anos em que foi seu empresário?
    RV: O que falhou na Moita foi a sua afición, que quase não existe... Foi a Praça onde mais investi e com uma ilusão tremenda mas foi, lamentavelmente, uma desilusão. 

    NATURALES: Mas porque pensa que terá diminuido afición na Moita?
    RV: Eu penso que o público divorciou-se da sua praça nestes últimos anos... Como já disse, espero e desejo que o Ricardo Levesinho consiga ter melhor sorte.

    NATURALES: Voltando aos toiros, que ganadarias já tem então certas para 2019 nas suas praças?
    RV: Entre concursos e corridas completas tenho a de Vale de Sorraia, António Silva, Fernandes de Castro, Veiga Teixeira, Fernando Palha, Vinhas, Canas Vigouroux e depois outras que ainda falta negociar. 


    NATURALES: A par de ser empresário, é também apoderado de cavaleiros. Em 2018 foi de Filipe Gonçalves e de Francisco Palha, este ano será apenas de Palha, apesar de no defeso muito se ter falado que o jovem cavaleiro poderia estar de partida para outro gestor. Confirma que essa situação esteve em cima da mesa?
    RV: Fala-se sempre de tudo no defeso, são situações normais e os toureiros são livres, tal como os apoderados, de terminar relações profissionais. Eu nunca prendi ninguém, deixei o Francisco Palha à vontade para escolher o seu rumo e depois de tanta conversa, do que se disse, ele quis manter-se comigo que fui o apoderado dele desde sempre. E temos uma relação diferente de qualquer apoderamento, pois existe uma amizade muito forte e de há muito tempo, que a mantemos de boa saúde. 

    NATURALES: E depois de uma temporada arrebatadora e de triunfos do Francisco em 2018, têm chovido contratações para este ano?
    RV: Claro que sim, e mais do que nunca é com certeza, neste momento, o toureiro mais solicitado por várias empresas. Tudo isso se deve a ele, ao ter dado a cara diante do toiro, independentemente da ganadaria que teve pela frente e por mérito próprio, foi uma temporada importantíssima. 

    NATURALES: Mas considera benéfico um empresário ser também apoderado? Não se cai facilmente no “pões o meu cavaleiro na tua praça, que eu ponho o teu na minha”?
    RV: Só considero benéfico neste momento, da forma como eu estou: sou empresário mas apoderado de um toureiro que não é para as trocas, e isto porquê? Porque o telefone toca mesmo para o contratarem. 

    NATURALES: E tem ganhado ou perdido dinheiro com isto de ser empresário?
    RV: Numas ganho, noutras perde-se, como na Moita em que perdi bastante. 

    NATURALES: Em termos gerais, como vê o estado da Festa dos Toiros actualmente em Portugal?
    RV: Vejo possibilidades de se manter mas claro que haverá muitas dificuldades, com os antis, etc. O pior é haver uma grande crise de toureiros, de figuras novas tanto a cavalo como a pé, de toureiros que criem paixões, que arrastem público, por que se não põem gente nas bancadas não lhes podemos pagar o dinheiro que querem. Temos que tornar o espectáculo sustentável, sem ser maçador e aproveitar o público, que até tem tendência em aumentar. Agora, cabe aos artistas arriscarem, criarem emoção nas bancadas, que não se acomodem porque se não, pelo menos a mim, não me apetece contratá-los e nisto sou muito frontal. Hoje, mais do que nunca, ainda continuamos a ter que recorrer aos toureiros mais antigos de alternativa... 

    NATURALES: O que considera serem os ingredientes para uma corrida de sucesso?
    RV: Os toiros, criar sempre um cartel de acordo com o que a praça e o seu público exige, e contratar os que têm triunfado com mais regularidade. É assim que penso.

    NATURALES: E que surpresas nos poderá apresentar Rafael Vilhais em 2019?
    RV: Sendo surpresa teremos que aguardar por elas mas gostava muito de organizar uma corrida picada com toiros quatreños, em pontas, e com três matadores de postín. Impossível, infelizmente no nosso país...



    Fotografias: Pedro Batalha/DR/Arquivo
    Texto: Patrícia Sardinha