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    Crónica do Colete Encarnado: “Não eram para meninos”


    A tradicional Corrida Mista do Colete Encarnado do passado domingo reuniu o principal ingrediente que vai faltando nas nossas praças: o Toiro. 

    O toiro mas não um qualquer! Mas sim aquele que transmite, que os põe (aos toureiros) no sítio, que provoca emoção e nos relembra porque somos aficionados a esta arte que às vezes é tão mal tratada pelos que cá andam. 

    Com pena, a Palha Blanco não foi nesta tarde de praça cheia. Terá tido pouco mais de meia casa, com a sombra mais composta de gente. Ainda assim, e apesar de não ter havido nenhuma actuação redonda, o que se passou na arena creio ter enchido a todos, ou à grande maioria, de argumentos válidos e emoção, para se ter saído daquela praça com a sensação que ainda vai valendo a pena. 

    Os toiros da ganadaria Palha tiveram trapio, no geral todos bem apresentados, com cara, exigentes, sérios, encastados e com mobilidade, dando à corrida transmissão e motivos mais que suficientes para que em momento algum deixássemos de estar nas bancadas pendentes do que se iria passar na arena. Pelo que esta corrida, jamais podia ser para meninos… 

    E assim, encontrou a empresa organizadora nos artistas anunciados, não meninos mas os homens certos para fazerem frente a um curro exigente como o que saíu à arena em Vila Franca

    A tarde começou com a lide a duo entre os cavaleiros Luís Rouxinol e Francisco Palha. Uma ‘parelha’ que resultou bem conseguida, com uma actuação ligada, com ritmo e em que um, não descurou o ofício do outro. 

    Em solitário, Luís Rouxinol teve que ‘cantar afinadinho’ perante um toiro que cresceu durante a lide e lhe pedia todas as contas e mais alguma. Fez uso do Douro como se de uma muleta se tratasse, para preparar as sortes com uma brega ajustada e arrimada. Apertava-lhe o toiro na perseguição e Rouxinol aguentou sempre a investida com fieraza da rês. Dos ferros, fica-nos o terceiro e quarto curto de boa nota. 

    Francisco Palha teve pela frente um toiro mais nobre e de menos incómodo. Com o Roncalito, o cavaleiro baseou actuação num toureio que lhe vai sendo comum, desapegando-se do toiro nas tábuas, muitas vezes onde o próprio animal ganhava querenças, para depois se ir colocar em posição contrária e dali, partir ao cite, aguentar e arriscar para deixar a ferragem com impacto nas bancadas. Tanto o fez, que subestimando a rês que “aprendeu” caminho, acabou surpreendido com uma queda que lhe proporcionou queda aparatosa, felizmente sem consequências. Mas rapidamente se encastou e cravou um último curto, cingido de verdade e de levantar bancadas. 

    Nas pegas a dureza dos toiros foi sentida com a mesma emoção que nas lides e também aqui encontraram homens valentes pela frente. Pegou em solitário o Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira, por intermédio de Francisco Faria, a dobrar Rui Godinho, que concretizou à quarta tentativa, com um toiro que despejava tudo e toiros; Bruno Tavares consumou à primeira com uma pega rija na qual foi fulcral a intervenção do primeiro ajuda; e David Moreira a aguentar bem ao segundo intento, depois de forte derrote à primeira. 

    Nas lides a pé, o matador Pepe Moral encontrou no seu lote o de menor transmissão. No primeiro sentiu-se inicialmente pouco confiado mas na muleta ganhou outro entendimento e ainda se pôs a gosto, pese o toiro fosse de investida curta. No seu segundo, voltou a evidenciar pormenores de ser detentor de um toureio poderoso e de boas maneiras mas a faena nunca rompeu. Ficou-nos água na boca...mas soube a pouco.

    O matador português Nuno Casquinha demonstrou na sua terra muita raça, entrega e acima de tudo enorme valor. Primeiro frente a um toiro de pouca força mas com pata e frente ao qual andou vibrante no tércio de bandarilhas. Na muleta, encastou-se com o toiro e redondeou pela esquerda. Voltou a convencer nas bandarilhas frente ao último da tarde e com a flanela encontrou um toiro pronto, mas de quem era necessário estar sempre pendente e cujos passes tiveram melhor ligação pela esquerda. Duas faenas de mérito e enorme valor de um toureiro que ‘traga’ muitos toiros difíceis fora do seu país. 

    Salientar ainda os pares de bandarilhas colocados por Filipe Gravito às ordens de Pepe Moral e um par de Pedro Gonçalves no segundo toiro de Casquinha, bandarilheiro que este ano se retirará das arenas e se despediu com dignidade, ontem da Palha Blanco. 

    E numa tarde de Colete Encarnado, houve uma corrida com toiros que não eram para meninos…e ainda bem para nós!




    Patrícia Sardinha