Header Ads

Feito com Visme

  • Últimas

    Crónica de Lisboa: "Bonitas palavras não engordam gatos"


    Aquela que era apresentada como a ‘corrida grande’ do abono “torista” da principal Praça de Toiros do nosso país, o Campo Pequeno, resultou de fraco resultado artístico e a que teve mais sonoro protesto proveniente das bancadas. 

    Pese embora a boa entrada de público que se registou, com uns bons ¾ de casa bem medidos, e da presença de figuras “caras” quer na arena quer de camarote, como o ilustre D. Curro Romero, homenageado da noite, tudo o resto roçou a uma noite “barata”. 

    Na verdade, nem percebo porque nos espantamos agora… 

    Alguém acreditava mesmo que duas das Figuras do Toureio como aquelas que se apresentaram ontem no Campo Pequeno, viriam a Lisboa lidar reses com peso, tamanho e bem medidos de cara, como aqueles que muitas vezes vemos “aventarem” aos matadores portugueses nas nossas praças nas poucas oportunidades que lhes são concedidas?! 

    As Figuras de ontem tourearam o que eles próprios quiseram, porque infelizmente, ser Figura do Toureio é isso: tourear o que se escolhe e o que é cómodo! 

    Da corrida em si, pouco ou nada haverá a contar. 

    Foram lidados a cavalo dois toiros da ganadaria de David Ribeiro Telles, cumpridores de apresentação, do encaste murube, e que por isso mesmo, em nada complicaram, perseguindo a passo, dóceis, tal duas irmãs de caridade. O cavaleiro João Telles Jr. andou desafinado com o primeiro, a quem insistiu nos quiebros protagonizando demasiadas passagens em falso. Com o segundo, sentiu-se mais confiado mas o registo das sortes foi idêntico, ainda assim de melhor resultado, contudo sem romper. 

    Nas pegas, o Grupo do Aposento da Chamusca que efectivou duas pegas por intermédio de João Rui Salgueiro ao primeiro intento e com uma grande pega; e Francisco Andrade à quarta tentativa e com ajudas carregadas. 

    Dos toiros de Paulo Caetano para as lides a pé, o seu jogo desluzido, sem raça e sem se empregarem – factor que de maneira alguma se pode adivinhar e nem se esperava desta ganadaria – foi acentuado pela falta de trapio e pouca cara, daqueles a quem, um outro apupo da bancada ‘elogiava’ com um “miau”. Se o primeiro de Morante ainda se condescendeu pelo par de pitons que levava, todos os outros nos foram convencendo que de facto, “figura grande, billete grande y toro chico”…muy chico!! E foi quando se chegou ao sexto da noite, que o público, o pagante, se revelou em uníssono numa vaia contra a falta de respeito. 

    Os poucos detalhes bonitos que se possam ter visto, quer de Morante quer de Manzanares, não foram suficientes para abafar uma noite que infelizmente, ficou marcada de forma menos positiva. Nem a ideia de se lidar o sobrero salvou o convento, dado que face ao comportamento do mesmo, Morante…abreviou. 

    Se não temos já ‘papado’ nas nossas praças mais vezes toiros nestas condições e com outras Figuras? 

    Sim temos! Mas algum dia a ‘bolha’ tinha que rebentar…E ontem foi o dia! 

    É que quando não se cuida o principal ingrediente da Festa, o Toiro, não se pode de maneira alguma estar a respeitar a mesma. 

    Se a expectativa era grande na forma arrojada como esta corrida foi montada pela empresa, a verdade é que a desilusão nos saiu maior. 

    Já diz o ditado “bonitas palavras não engordam gatos”, e na maioria das vezes, também a arte, a genialidade, a boniteza do artista, não ‘engordam afición’, e depois a culpa morre sempre solteira…


    Patrícia Sardinha