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    Crónica de Lisboa: “O “niño” Moura”



    1978, 11 de Junho em Santarém, doutorava-se o “niño Moura”, como era referenciado há 40 anos atrás, aquele que dois anos antes debutara em Las Ventas montando o célebre Ferrolho, conquistando o prémio destinado ao cavaleiro triunfador da Feria de San Isidro e que, em 1977 com apenas 17 anos, encabeçou o escalafón ibérico apesar de ser apenas cavaleiro praticante.

    2018, 7 de Junho, a Praça de Toiros do Campo Pequeno inclui no seu abono, uma Corrida de Toiros comemorativa dos 40 anos de alternativa de João Moura, que por 2 vezes nessa noite, voltou a ser um “niño”. Primeiro, quando antes da corrida, lhe foi prestada uma singela homenagem na entrada principal da praça lisboeta, e ao ouvir o fado “Olé, olé João Moura” por Manuel da Câmara, e rodeado dos filhos e sobrinho, se emociona como uma criança. Depois, quando nos proporcionou uma segunda lide que nos fez esquecer o peso dos anos (idade e de profissão), e toureou encastado.

    Mas não foi o único “niño” dessa noite. O seu filho do meio, Miguel Moura, destacou-se de entre os actuantes do festejo com uma raça e uma irreverência que convenceram. E depois, a gracinha do pequeno Tomás, que não nega o que virá a ser, mais um cavaleiro tauromáquico da dinastia Moura.

    Da corrida, artisticamente, conta-se a corrida desta forma: Uma casa cheia, um sentido de grande ambiente familiar e de missão cumprida.

    Lidaram-se toiros de duas ganadarias, três de Manuel Coimbra e três de Romão Tenório, cumpridores no geral em apresentação, sendo reservados, de pouca transmissão e a vir a menos os de Coimbra, mais cómodos os “alentejanos”, destacando-se o que desta ganadaria primeiro saiu à arena, um toiro colaborador, pronto e com transmissão.

    João Moura não deixou grande registo para memória futura com a sua primeira actuação frente a um toiro de Manuel Coimbra reservado, sem se empregar e com o qual teve passagem intermitente. Não deu volta, ainda que concedida. No de Romão Tenório, João Moura teve outro fôlego e outra atitude e viu-se mais a gosto. Também a rês, de presença mais séria, ainda que outro tardo de investida, lhe permitiu outras condições, assim como as montadas, exibindo-se num toureiro de recortes e cercanias. Houve empenho do cavaleiro, e um agradecimento sentido por parte das bancadas que viram na arena, apuntes a remeterem para o niño Moura”.

    João Moura Jr. teve duas actuações similares frente a dois toiros também de idêntico comportamento: reservados e a transmitirem pouco. O jovem cavaleiro apostou num toureio de distâncias, praticamente sempre citando de largo, para depois partir até ao toiro e cravar a ferragem da ordem. Entusiasmou mais as bancadas nas sua primeira actuação alguns recortes e ladeios com que adornou a lide, enquanto na segunda prestação teve passagem mais discreta.

    O mais jovem dos Mouras (por enquanto) nas arenas, o cavaleiro Miguel Moura, foi o que mais entusiasmou nesta noite com a sua primeira lide frente a um bom toiro de Romão Tenório, com o qual impactou nos tendidos com quiebros pronunciados. Com o último toiro da corrida, Miguel Moura voltou cheio de intenções, concretizadas numa grande sorte gaiola. De valor! Depois, veio a menos a actuação com um “Coimbra” mansote.

    Nas pegas, três grupos alentejanos que cumpriram a papeleta. Pelos Amadores de Portalegre, pegaram João Fragoso que resolveu à segunda tentativa; e à primeira, Ricardo Almeida com uma boa pega à barbela. Pelos Amadores de Arronches, Manuel Cardoso com uma pega rija à primeira; e Fábio Miléu à segunda a suportar violentos derrotes. Pelo Grupo de Monforte, Nuno Toureiro efectivou à primeira com os restantes elementos a oferecerem eficiente ajuda; e Pedro Peixoto, a fechar a noite bem e também à primeira.

    À parte desta corrida, houve ainda novilhada (sim, houve 2 cortesias numa só noite). O sobrinho de João Moura, o novilheiro João Augusto Moura, afastado das arenas, regressou por uma noite às “luces” mas não teve sorte e possibilidade de muito se luzir. O bonito novilho que trouxe de sua casa, ganadaria Torre de Onofre, era animal que queria mas não podia. A falta de forças notória do novilho foram grande condicionante para que a faena resultasse com ligação, e só a espaços se viram pormenores, principalmente quando o novilheiro empregou mais suavidade nas tandas.  

    Dirigiu com critério mas também com a benevolência que o festejo patenteava, o sr. Pedro Reinhardt, assessorado pelo veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva.

    Terminou assim, uma noite que mais do que uma corrida de toiros, foi uma reunião de família, uma homenagem, mas também um louvor aos 40 anos de alternativa de alguém que para sempre terá o seu nome a letras de ouro na História do Toureio a Cavalo Mundial, JOÃO MOURA.




    Patrícia Sardinha