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    Crónica de Amieira: “O passarinho saiu do ninho”


    Existem dias que não desejamos pelas más notícias que nos trazem. Dias que custam a aceitar…

    Este sábado, acordámos com uma dessas notícias que são um murro no estômago e nos fazem pensar: porque gostamos disto?!

    No meio da incredibilidade, da tristeza, ali estávamos nós para mais uma corrida… Talvez porque aquilo que nos une é um sentimento que não se explica, que se vive e se entende na Praça. E talvez porque a melhor forma de respeitar a memória de todos aqueles que perderam a vida à mercê de um toiro, seja mantendo viva a chama desta arte a que eles se entregaram!

    Pois que a bonita Praça de Toiros de Amieira (Portel) encheu-se de gente, uns bons ¾ de casa mais concretamente. A mistura de sentimentos foi notória entre os que se cumprimentavam e compunham as bancadas. E de verdade, vivemos a corrida com o coração nas mãos…

    Lidaram-se toiros das ganadarias de José Luís Pereda, Varela Crujo e um de Eng. Luís Rocha em substituição de uma rês que se inviabilizou, pertencente à ganadaria espanhola. Salvo o que saiu de ‘substituto’, todos os toiros tiveram (mais que) digna apresentação, sendo grandes os de Varela Crujo, mais pequenotes mas rematados os de Pereda. Em comportamento foram díspares, mais nobres e voluntariosos os portugueses, exigentes e a pedir contas os espanhóis.

    Luís Rouxinol abriu a tarde frente a um toiro de Varela Crujo, bisco mas de bonita capa e presença. A rês pedia que o mantivessem ligado, sendo mais confiado a perseguir pela frente do que após a ferragem e Rouxinol fez-lhe a vontade. Montando o Douro, soube levar templado o animal com brega ajustada, que se revelou de investida cómoda, cumprindo o toureiro de forma correcta com a ferragem da ordem.

    Já no que foi o quarto da tarde, um toiro avacado, de pouca força e presença da ganadaria do Eng. Luís Rocha, Rouxinol porfiou para lograr sair por cima. O oponente saiu ao ruedo sem se fixar, perseguindo a passo e o cavaleiro nem sempre foi feliz na ferragem comprida. Nos curtos, ambos vieram a mais. Luís Rouxinol soube contrariar-lhe as tendências e pôs em prática as faculdades de bom lidador e o toiro acabou por servir, rematando actuação com um bom par e um ferro de palmo do agrado das bancadas.

    Filipe Gonçalves teve como primeiro oponente, um toiro de Varela Crujo, bonito, que foi reservadote nas reuniões e que pedia que lhe pisassem os terrenos. O cavaleiro protagonizou uma actuação de altos e baixos, por vezes descurando a lide, insistindo em quiebros nem sempre ajustados ou de pontaria certeira. Entusiasmou mais com o ferro violino e o palmito com que encerrou função e as “palmas” do Xique.

    Frente ao segundo do seu lote, um toiro de Pereda, manso, cheio de sentido, Filipe Gonçalves andou com melhores intenções, procurando cites mais rectos e de largo, a tentar provocar a investida de um toiro reservado, o que por vezes conduziu a passagens em falso. E entre ferros que fizeram vibrar as bancadas e outros menos conseguidos, o cavaleiro logrou novamente uma actuação intermitente.

    Luís Rouxinol Jr. estreava-se naquela praça e conseguiu registar a imagem do bom momento que atravessa. Primeiro, tocou-lhe em sorte um toiro sério e exigente de Jose Luis Pereda, reservado nas reuniões mas que tinha teclas para tocar. O jovem cavaleiro esteve à altura, evidenciou-se na brega, por vezes precipitado a partir para o momento do ferro mas ainda assim a cumprir com distinção. Serviu-lhe para todo o ofício, compridos e curtos, uma só montada.

    Mas foi no que encerrou corrida que Rouxinol Jr. certificou o seu valor e demonstrou uma vez mais que ‘é passarinho que saiu do ninho’, que saiu da sua zona de conforto e já não é só “o filho do Rouxinol”. As bases estão lá, como não podia deixar de ser, mas tudo o resto é obra e vontade do jovem cavaleiro que logrou em Amieira uma lide completa e séria. O toiro da ganadaria de Varela Crujo foi nobre, sempre fixo no toureiro, que lhe aproveitou as valências para novamente fazer sobressair o seu enorme sentido de lide, mexendo o toiro de terrenos e cravando com decisão, nunca descurando os remates das sortes. Andou regular nos compridos, para nos curtos e com o Amoroso, formar o par perfeito numa actuação pensada e com mais calma. Depois de deixar o público em polvorosa com um palmito em que até largou as rédeas no momento do ferro, terminou com um bom ferro violino e ficou assim, entregue o prémio de melhor lide.

    Nas pegas a tarde foi mais morosa, nervosa e nem sempre eficaz.

    Doloridos que andamos com os tristes acontecimentos das últimas semanas, em Amieira a emoção pairou sempre no ar aquando das pegas, e por vezes temeu-se mesmo o pior.

    Pelos Amadores de S. Manços abriu praça Pedro Fonseca, com uma boa pega à primeira tentativa, em que o grupo resolveu sem problemas. Nuno Leão sentiu a dureza do seu toiro da ganadaria Pereda, que o levantou e o prostrou no chão com violência. Saiu lesionado e para o dobrar, veio Jorge Valadas em que uma forte e feia colhida, a levar com o piton na cara, o deixou inanimado na arena, sendo imediatamente socorrido e transportado para o Hospital, onde ao que sabemos se encontra estável. Pedro Pontes a sesgo e com ajudas resolveu esta pega, aguentando ainda assim fortes derrotes. Contudo, a tarde não estava fácil para este Grupo, que voltou a deparar-se com outro áspero ‘Pereda’. João Rosmaninho podia ter sido autor de um pegão. A pronta e com muita pata, investida do toiro, à qual se fechou com decisão, acabou por o comprometer com violência nas tábuas, saindo o forcado mal tratado. Foi dobrado por José Quintas, que por duas vezes também não garantiu consumar, com o toiro sempre a uma velocidade impressionante, não conseguindo o Grupo efectivar. Enquanto se procurava colocar novamente o toiro em terrenos para outra tentativa, este ao derrotar nas tábuas fica condicionado de um piton, pelo que se entendeu tentar a pega de cernelha, por João Pedro Fortunato e Luís Candeias. Só que a demora em fazer a rês encabrestar, em se ver qualquer tentativa de efectivar esta sorte…e à qual foi (demasiado) paciente o director de corridas, conduziu à impaciência do público, fazendo-se soar (finalmente) o aviso, e tudo o que se seguiu depois, foi o costume… Saltam novamente forcados para arena, e o cabo, João Fortunato consumou na que foi a sua segunda tentativa, coadjuvado por praticamente todo o grupo, inclusive elementos não fardados.

    Os Amadores de Monsaraz viram por intento de Carlos Polme, a pega ser consumada à quarta tentativa, a sesgo e com ajudas carregadas, depois de intentos anteriores não efectivados muito em parte também por falta de ajuda. O cabo Ricardo Cardoso consumou à primeira, e sem problemas, frente ao ‘Rocha’. E André Mendes pegou à segunda, depois de uma reunião mal conseguida no primeiro intento.

    No final do espectáculo, entenderam os jurados considerar por unanimidade o Prémio “Rui Freixa” ao Melhor Grupo, como deserto, ficando esse troféu entregue ao pai do malogrado forcado. E o prémio "Restaurante O Compadre", para a Melhor Lide, e também por total acordo dos votantes, entregue a Rouxinol Jr.. Ambos com a concordância do público presente.

    Dirigiu a corrida com benevolência o sr. Agostinho Borges, numa longa tarde de três horas e meia de espectáculo. Foram jurados nesta corrida os senhores Miguel Cordeiro de Sousa, Joaquim Murteira Correia e Miguel Ortega Claudio no que toca à actuação a cavalo, e Joaquim Murteira Correia (pai), Bartolomeu Marciano e António Galveias, na avaliação dos Grupos de Forcados.

    Existem dias que custam mas também existe sempre a esperança…com Rouxinol Jr. ficou-nos essa esperança!





    Por: Patrícia Sardinha