Crónica da novilhada de Lisboa: “A cavalo dado…”
“…não se olha os dentes”. E por isso, nós aficionados desejosos de que
surja sangue novo nas nossas arenas, que apareçam toureiros com valor e já
agora, com jeito, por forma a que este espectáculo tenha continuidade, só temos
a agradecer as novilhadas que nos são proporcionadas.
A Praça de Toiros do Campo
Pequeno tem, a cada temporada, conseguido manter a realização daquela que intitula
de Promoção de Novos Valores. Para isso, muito contribui também a disponibilidade
de alguns ganaderos em cederem de forma graciosa, reses lá de casa, umas com “mais
dentes” que outras mas, “a cavalo dado…”
Lidaram-se novilhos, e por esta
ordem, das ganadarias de Varela Crujo, Caetano, Vinhas, Grave, Falé Filipe e David Ribeiro
Telles. Todos bem apresentados tendo em conta até o tipo de espectáculo, à excepção
dos de Caetano e Grave, escassos de apresentação, principalmente porque falamos
da primeira praça do país. Em comportamento, no geral foram animais que se
deixaram, bom o de Vinhas e manso perdido o de Galeana.
Este ano, juntaram-se no cartel 3
jovens cavaleiros a despontar e 3 artistas apeados que de ‘novos valores’ já
têm pouco, mas ainda assim, todos carentes de oportunidades.
Francisco Correia Lopes
evidenciou um toureio à antiga. Tem boas condições para progressão, bom conceito
de lide. Mas transmite alguma frieza na sua actuação, sem comunicar com o
público e por vezes peca na velocidade. Nada que não tenha solução, porque o
toureio clássico e as suas regras, isso tem ele em mente. Sempre de tricórnio
na cabeça, procurou um toureio frontal, mudando o novilho de terrenos e sem
descurar os remates. Ainda assim, andou melhor e mais ajustado nos primeiros
curtos, com a primeira montada, do que na ferragem final. Um toureiro que já
pede mais e melhores festejos!
A jovem Soraia Costa tem um
conceito mais alegre a variado. Acusou por vezes alguma falta de decisão, normal
para quem está a começar, muitas vezes procurando nas tábuas o conselho alheio,
mas revelou bastante desembaraço e muita garra. O quarto curto foi de boa nota e
montadas habilidosas e experientes, não lhe faltam.
Menos experiente, mas não menos voluntarioso,
esteve Manuel Oliveira. O jovem cavaleiro acusou ser o menos placeado, ainda assim
apontou detalhes, com um conceito de partir ao toiro com a viagem (demasiado)
emendada, partindo para a direita, muito para lá do piton contrário, e o braço
já atravessado para depois corrigir na cara do oponente e deixar a ferragem.
Nas pegas, David Mouchão dos
Amadores da Azambuja, consumou à barbela à primeira tentativa; Fábio Madeira
dos amadores da Póvoa de S. Miguel, sem problemas efectivou à primeira; e
Duarte Campino dos Amadores do Cartaxo, consumou à terceira naquele que foi o
novilho que mais exigiu na pega.
A pé, Joaquim Ribeiro ‘Cuqui’,
não pôde aproveitar a oportunidade concedida, frente a um manso de livro, não
obstante a fraca presença, que lhe tocou de Murteira Grave. Ainda assim,
ficaram detalhes do seu capote, e a força de vontade e os pormenores, que a
espaços nos conseguiu proporcionar de muleta.
Diogo Peseiro sacou das potencialidades
e nobreza do Falé Filipe, para se evidenciar num toureio poderoso, de entrega e
onde é destacado no tércio de bandarilhas. Com a muleta, andou melhor pela
direita, por entre desplantes e atrevimento, numa faena em crescendo.
Sérgio Nunes arrimou-se frente ao
de David Ribeiro Telles, deixando-o por várias vezes roçar a taleguilla. Um
animal pouco confiado mas no qual se confiou o jovem novilheiro, que esforçado
logrou a espaços alguns pormenores de boas condições.
Salientar ainda o bom jogo de cabrestos apresentado em praça. O trabalho dos nossos campinos muitas vezes subvalorizado nas nossas praças mas sempre tão importante.
Dirigiu sem problemas o sr.
Manuel Gama, assessorado pelo veterinário Carlos Santos, numa noite que reuniu
quase meia lotação de praça. Um bom sinal quando toca a apoiar a promover os
mais jovens.
Patrícia Sardinha